Os
avanços no diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) no Brasil têm
revelado com mais precisão a dimensão desse desafio no campo da saúde pública e
do desenvolvimento infantil. Segundo o Censo 2022 do IBGE, cerca de 2,4 milhões
de brasileiros já receberam diagnóstico de TEA — o que representa 1,2% da
população. Nas faixas etárias mais jovens, essa prevalência é ainda mais
expressiva: 2,1% entre crianças de 0 a 4 anos e 2,6% dos 5 aos 9 anos.
Esse
cenário associado a estudos recentes sobre o Transtorno do Espectro Autismo,
reforçam a necessidade de uma ação antecipada: a intervenção precoce — que
compreende o início de terapias especializadas nos primeiros anos de vida.
Fortemente embasada em evidências científicas, intervenção precoce é amplamente
reconhecida pela literatura científica como um fator determinante para o
prognóstico da criança. Isso se deve à plasticidade cerebral característica da
primeira infância, período em que o cérebro está mais receptivo a estímulos que
favorecem a aquisição de habilidades essenciais.
O
TEA é caracterizado por uma ampla heterogeneidade clínica. Isso exige que as
intervenções sejam individualizadas, considerando o perfil de desenvolvimento
de cada criança, suas necessidades específicas e seu contexto familiar.
Estratégias como o Modelo Denver de Intervenção Precoce (ESDM), a Análise do
Comportamento Aplicada (ABA), o PECS (sistema de comunicação por troca de
figuras), além de recursos como fonoaudiologia, psicomotricidade e integração sensorial,
são utilizadas de maneira combinada e adaptada, conforme avaliação
profissional.
Estudos
recentes reforçam os benefícios dessas abordagens. Revisão sistemática
publicada no periódico Cureus (2023) evidenciou que intervenções iniciadas
antes dos cinco anos promovem avanços significativos em linguagem, cognição,
habilidades sociais e autonomia funcional. Esses ganhos tendem a ser mais
consistentes quando a família está envolvida ativamente no processo
terapêutico.
Além
dos efeitos diretos sobre o desenvolvimento infantil, a intervenção precoce
contribui para o suporte familiar, facilita o manejo de comportamentos
desafiadores e melhora a qualidade de vida do núcleo familiar.
Contudo,
o acesso a esse tipo de cuidado ainda é desigual no país. A oferta de
diagnóstico e tratamento especializado varia de acordo com a região, e muitos
municípios não dispõem de profissionais capacitados nem de equipes
interdisciplinares. Superar essas barreiras exige políticas públicas
estruturadas, ampliação da capacitação profissional e integração entre saúde,
educação e assistência social.
A
intervenção precoce propõe a ampliação das oportunidades de desenvolvimento de
cada criança. Ao identificar e tratar precocemente, promovemos mais do que
ganhos clínicos: asseguramos o direito à inclusão, à autonomia e à construção
de um futuro com mais qualidade de vida.
Dra Beatriz Chao Calixto - médica psiquiatra da ACESA Capuava. Ela é especialista em psiquiatra da Infância e Adolescência, graduada em Medicina pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM), com residência médica em Psiquiatria Geral e Psiquiatria da Infância e Adolescência pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP); Preceptora da Residência Médica de Psiquiatria da Infância e Adolescência da UNICAMP.
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