Pesquisar no Blog

sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Incompatibilidade genética entre casais? Saiba por que isso não significa que você não pode ter filhos

Especialistas explicam como testes genéticos e a fertilização in vitro ajudam a prevenir doenças hereditárias mesmo em casais saudáveis

 

A atriz Mariana Rios revelou recentemente que decidiu recorrer à fertilização in vitro (FIV) após descobrir uma incompatibilidade genética com o parceiro. A declaração reacendeu o debate sobre doenças hereditárias e planejamento familiar, especialmente entre casais sem diagnóstico de infertilidade. Mas afinal, o que é essa tal “incompatibilidade genética”? O termo, apesar de popular, pode dar a entender que o casal é incapaz de ter filhos juntos — o que não é verdade. 

“Na prática, o que existe é um risco aumentado de que o casal transmita uma condição genética ao bebê, quando ambos carregam a mesma alteração em um gene. Isso pode ser identificado por exames genéticos antes da gravidez”, explica o Dr. Alvaro Ceschin, presidente da Associação Brasileira de Reprodução Assistida (SBRA). 

Essas alterações não afetam a saúde da pessoa que as carrega, mas se os dois parceiros forem portadores da mesma mutação, há 25% de chance de o filho herdar as duas cópias alteradas e desenvolver a doença. Entre os exemplos mais conhecidos estão fibrose cística, anemia falciforme e atrofia muscular espinhal (AME).
 

Triagem genética e PGT-M: uma estratégia de prevenção

Os exames genéticos, hoje acessíveis no Brasil, analisam se o casal compartilha variantes genéticas que possam representar risco à próxima geração. Caso isso se confirme, uma das estratégias mais indicadas é a realização da FIV com o teste genético pré-implantacional para doenças monogênicas (PGT-M). 

“O PGT-M permite analisar os embriões ainda no laboratório e identificar se herdaram ou não a mutação genética do casal. Dessa forma, é possível selecionar os embriões saudáveis para a transferência ao útero”, explica o Dr. Ceschin.
 

Uma jornada em três etapas

Segundo a embriologista Ianae Ichikawa Ceschin, especialista em aconselhamento genético, o termo “incompatibilidade genética” tem sido usado de forma ambígua e precisa ser melhor compreendido: 

“O que ocorre, nesses casos, é que ambos os membros do casal são portadores da mesma alteração genética. Embora eles não desenvolvam a doença, o bebê pode manifestá-la se herdar as duas cópias alteradas. Por isso, é fundamental fazer a triagem genética antes da gestação.”

Ianae explica que o processo geralmente envolve três etapas:

  1. Comprovação molecular: testes genéticos no casal confirmam a mutação e o padrão de herança.
     
  2. Estudo pré-PGT: feito com amostras biológicas do casal, permite a construção da sonda genética.
     
  3. FIV com PGT-M: após a obtenção dos embriões e a biópsia, as amostras são analisadas para verificar se carregam ou não a mutação.

“Todos nós carregamos alguma alteração genética. A questão é saber se o casal compartilha a mesma, o que só pode ser descoberto com exame. Quando isso acontece, é possível agir com planejamento e responsabilidade”, reforça a embriologista.
 

Outras opções além da FIV

Se o PGT-M não for viável, o casal pode considerar outras alternativas, como o uso de gametas doados (óvulos ou espermatozoides) ou até a adoção. A decisão deve sempre levar em conta o histórico pessoal e o desejo reprodutivo do casal. 

“A visibilidade de figuras públicas ajuda a trazer o tema à tona, mas é fundamental que as pessoas busquem informação de qualidade e orientação especializada”, conclui o Dr. Ceschin.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados