OMS aponta que podem existir cerca de 2 milhões de pessoas com TEA no Brasil
Para muitos adultos, a vida é uma jornada de busca
por respostas. Sentimentos de inadequação, dificuldades de comunicação e
desafios em interações sociais podem ser constantes, sem uma explicação clara.
Para um número crescente de pessoas, a resposta para essas questões complexas
reside em um diagnóstico tardio de Transtorno do Espectro Autista (TEA).
De acordo com as estimativas da Organização Mundial
da Saúde (OMS), o Brasil pode ter mais de 2 milhões de pessoas com TEA. O
transtorno é uma condição de desenvolvimento que afeta a comunicação, a
interação social e o comportamento. Cada pessoa com autismo é única, e os
sinais podem variar de leves a mais significativos. Muitas vezes, adultos que
receberam diagnóstico tardio já desenvolveram maneiras de lidar ou disfarçar
alguns comportamentos, o que pode dificultar a identificação.
"O autismo, tradicionalmente diagnosticado na
infância, está cada vez mais sendo identificado em adultos que passaram décadas
sem compreender suas próprias experiências. Essa realidade, embora desafiadora,
abre caminho para o autoconhecimento, o acesso a suporte adequado e a melhoria
significativa na qualidade de vida", comenta Edson Issamu, neurologista na
Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo.
Na vida adulta, os sintomas podem se manifestar de
forma diferente, assim como os autistas que possuem sintomas mais leves e não
são diagnosticados também podem aprender a mascarar as manifestações do
transtorno em busca de levar uma vida mais “normal”.
“Quando o indivíduo sempre teve sintomas leves e os
familiares não levaram em conta a possibilidade de ser TEA, essa criança pode
crescer em conflito, almejando agir como um neurotípico e aprendendo a mascarar
os sintomas, o que torna doloroso para o autista estar o tempo todo usando essa
máscara ao invés de poder trabalhar as questões referentes ao autismo para
levar uma vida normal dentro de quem ele é”, ressalta o neurologista.
Os sintomas do TEA em adultos podem se manifestar
de maneiras variadas, dependendo de cada indivíduo e da gravidade do
transtorno. De acordo com o especialista, esses são alguns dos principais
sinais que podem ser observados:
1. Dificuldades de Comunicação e Interação Social:
- Problemas
na compreensão das sutilezas da linguagem: Como interpretar ironias,
metáforas ou expressões idiomáticas.
- Dificuldade
em iniciar ou manter conversas: Pode haver um desejo de se conectar, mas
barreiras na forma de se expressar ou entender o outro.
- Preferência
por comunicações diretas: Pessoas no espectro frequentemente se sentem
mais confortáveis com informações claras e objetivas.
2. Comportamentos e Interesses Restritivos:
- Interesses
intensos e focados: Dedicação significativa a um tema ou atividade
específica, muitas vezes com profundo conhecimento no assunto.
- Comportamentos
repetitivos: Movimentos, padrões ou rotinas que são seguidos rigorosamente
e proporcionam sensação de segurança.
3. Sensibilidade Sensorial:
- Maior
ou menor resposta a estímulos sensoriais: Sons, luzes, texturas e cheiros
podem ser especialmente incômodos ou, ao contrário, podem passar
despercebidos.
Por que o diagnóstico mesmo
tardio é importante?
A importância do diagnóstico tardio vai além da
simples nomeação de uma condição. Ele proporciona uma profunda compreensão de
si mesmo, permitindo que os adultos revisitem suas experiências passadas sob
uma nova perspectiva. Isso pode levar a um processo de aceitação, alívio e
autocompaixão.
Com um diagnóstico formal, também é possível
acessar serviços e recursos que antes eram inacessíveis. Terapias
especializadas, como terapia ocupacional, fonoaudiologia e psicoterapia, podem
auxiliar no desenvolvimento de habilidades sociais, na gestão de sensibilidades
sensoriais e no enfrentamento de desafios emocionais.
"Muitos adultos autistas enfrentam desafios de
saúde mental, como ansiedade, depressão e burnout, muitas vezes agravados pela
falta de compreensão e aceitação ao longo da vida. O diagnóstico tardio pode
ser um ponto de virada, permitindo que esses indivíduos busquem tratamentos
direcionados e desenvolvam estratégias eficazes de enfrentamento”, explica o neurologista.
Apesar dos benefícios, o diagnóstico tardio de
autismo ainda pode ocasionar desafios. A falta de conscientização sobre o
autismo em adultos na sociedade em geral pode dificultar o acesso a avaliações
e diagnósticos precisos.
"O diagnóstico tardio de autismo em adultos é um tema de crescente importância, o qual exige que a sociedade se torne mais informada e receptiva à neurodiversidade. Profissionais de saúde precisam estar preparados para reconhecer os sinais de autismo em adultos e encaminhar os pacientes para avaliações especializadas”, finaliza Issamu.
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