“Não existe bronzeado bom”
“A nossa pele é
como se fosse a película do celular, a linha de frente recebendo os impactos.
Os raios ultravioletas agem exatamente na pele, na camada externa do nosso
corpo, provocando efeitos nocivos. Eles vão oxidar a pele através dos radicais
livres, causando uma série de alterações na pele, embaralhando o DNA, causando
mutações que podem gerar o câncer de pele”.
A explicação acima
é da Dra. Thais Helena Bello Di Giacomo, dermatologista pela USP especializada
em câncer de pele. A especialista conta que começa a conversa com os pacientes
dessa forma. No dia a dia de atendimentos, Dra. Thaís recebe muitas dúvidas
sobre como tomar sol, uso de protetor solar e câncer de pele. Por isso, a
médica reuniu os principais mitos que envolvem o assunto. Confira:
O sol
diminuiu a imunidade da pele.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo – Sim, diminui a imunidade da pele. A herpes, que costuma aparecer
na boca após um dia de sol, é um ótimo exemplo de queda de imunidade da pele.
Bronzeado
na medida certa, pode.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - Todo bronzeado significa que o sol chegou aonde não deveria. Se
você bronzeou é porque o sol chegou no DNA da sua célula e começa a ter
potencial de causar o câncer. Não existe bronzeado bom.
Posso
usar o bronzeamento artificial para garantir o bronzeado e não me expor ao sol.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo – Depende! Se for aquele de cama, de jeito nenhum! Antigamente,
achávamos que apenas os raios UVB podiam causar câncer. Mas hoje sabemos que os
raios UVA também são perigosos e o bronzeamento artificial ajudou a demonstrar
isso. Essas câmaras bronzeiam apenas com os raios UVA. Nos locais em que são
largamente utilizadas, surgiram muitos casos de melanoma, o tipo de câncer de
pele mais agressivo. Os raios UVA são responsáveis pela piora e evolução do
melanoma.
Já se o
bronzeamento com o uso de autobronzeadores em jato, spray, cremes ou mousses
está liberado. O único cuidado que eu recomendo é hidratar bem a pele!
O sol
prejudica o colágeno?
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - Sim, o sol causa o estresse oxidativo e os radicais livres se
grudam nas moléculas de colágeno, causando sua destruição. Quando o paciente se
expõe muito ao sol, a textura e até a cor do colágeno quando visto ao
microscópio sofrem alteração.
Se não
houver histórico familiar, não há risco de câncer de pele.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - Embora o histórico familiar possa aumentar o risco, muitas pessoas
desenvolvem câncer de pele sem precedentes genéticos. A exposição ao sol e
outros fatores ambientais também desempenham um papel significativo.
Rosácea
pode se transformar em câncer de pele?
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - A rosácea, embora seja uma doença de pele e mais frequente em
pessoas de pele clara (assim como o câncer de pele), ela não é um fator de
risco. No momento do mapeamento para lesões cancerígenas, a rosácea às vezes
pode dar um pouco de dúvidas, pois lesões iniciais de carcinoma podem estar
camufladas entre as lesões de rosácea.
Protetor
solar é tudo igual?
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - Não! O filtro 15 bloqueia 93% dos raios UVB. O filtro 30, por
exemplo, já bloqueia 97%, e o filtro 50 mais de 98% de proteção de raios UVB.
Mas, mais
importante que essa diferença na quantidade de raios UVB bloqueados, um filtro
mais alto traz a vantagem de proteger dos raios UVA, responsáveis pelo
envelhecimento da pele e pela piora do tipo de câncer mais agressivo, o
melanoma.
Apenas
pintas e manchas devem ser monitoradas para câncer de pele.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - O câncer de pele pode se manifestar de várias formas, incluindo
feridas que não cicatrizam, protuberâncias ou mudanças na textura da pele.
Qualquer alteração incomum persistente deve ser avaliada.
Passar
protetor solar uma vez ao dia é suficiente.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - O protetor solar deve ser reaplicado a cada duas horas e após
nadar ou suar, para garantir proteção contínua. O uso inadequado pode deixar a
pele vulnerável à radiação ultravioleta. O ideal também é não contar apenas com
o filtro solar para se proteger, mas também lançar mão de outras medidas de
barreira física, como sombras, roupas, chapéus, óculos de sol e guarda-sol.
Apenas
pessoas de pele clara podem ter câncer de pele.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo - Embora o risco seja maior em pessoas de pele clara, indivíduos de
todas as tonalidades de pele podem desenvolver câncer de pele. Pessoas com pele
mais escura também precisam de proteção solar e exames regulares.
Preciso
passar muito tempo no sol para produzir vitamina D.
Dra. Thaís Bello
Di Giacomo – MITO! Precisamos ter níveis adequados de vitamina D para uma boa
saúde, principalmente a saúde óssea, e o sol é um grande aliado, pois ele ativa
a produção desse hormônio. Mas isso não quer dizer que é preciso ficar
estatelado ao sol.
No Brasil, estudos
mostram que uma vida ativa já garante exposição solar involuntária suficiente
para a síntese de vitamina D, não sendo necessário que as pessoas se exponham
ao sol com essa finalidade.
Dra. Thais Helena Bello Di Giacomo - @drathaisbello - Médica pela Universidade de São Paulo (USP-2005) com Residência em Dermatologia pelo Hospital das Clínicas da USP-SP. Tem mestrado pelo Hospital A.C Camargo. É dermatologista com ênfase em Cirurgia Dermatológica, Dermatoscopia e Oncologia Cutânea. É membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia, do Grupo Brasileiro de Melanoma, da Sociedade da Academia Europeia de Dermatologia e Venerologia. Também faz parte da International Dermoscopy Society (IDS). Atua em consultório privado e é membro do corpo clínico dos principais hospitais privados de São Paulo.
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