A miopia vem se tornando uma grande preocupação de saúde pública e coletiva.
A famosa deficiência visual para enxergar de longe,
a miopia, é habitualmente corrigida com a prescrição de simples óculos com
lentes corretivas. Mas a verdade por trás desta preocupação vai além da
necessidade do uso dos óculos.
Em pesquisa recente populacional, realizada pela
Sociedade Brasileira de Oftalmologia (SBO), a miopia foi o problema
autodeclarado mais frequente entre os brasileiros com 43,2% dos brasileiros se
identificando como míopes. Proporcionalmente, o problema é maior nas faixas
etárias entre 16 e 49 anos e nas faixas com nível educacional mais elevado
(vide relatório final no site da SBO: www.sboportal.org). Estes dados são
exatamente os mesmos obtidos em outras partes do mundo, onde estamos vendo um
aumento exponencial do número de casos de miopia. A OMS estima que em 2030 o
número de míopes ultrapasse os 3 bilhões no mundo.
Mas, por que acontece esta explosão de miopia?
Os especialistas concordam que os hábitos de vida
moderna e o tempo dedicado a telas (celulares, tablets e computadores) são os
grandes responsáveis. Entre os hábitos de vida, talvez o mais relevante seja a diminuição
de atividades em ambientes externos e ao livre. Isto aliado ao aumento do uso
da visão de perto em telas, como o celular, proporciona um fenômeno que
desencadeia o desenvolvimento e o agravamento da miopia.
Uma explicação simples, poderia ser a seguinte. O
olho normal (não míope) faz esforço para enxergar para perto, através da
contração da musculatura interna do olho. Em contra-partida, o olho míope
enxerga naturalmente muito bem para perto, sem correção, com pouco ou nenhum
esforço. Entende-se, então, porque o excesso do uso da visão de perto gera uma
tendência para que o olho se torne míope, na tentativa de diminuir o esforço
visual.
O impacto do aumento dos casos de miopia vai muito
além do acesso da população ao exame oftalmológico e aos óculos. Existem
evidências incontestáveis na literatura médica que os olhos míopes são mais
propensos de doenças oculares, tais como problemas retinianos e glaucoma. As
consequências da miopia ultrapassam o impacto individual da deficiência visual
e do adoecimento ocular, mas impactam profundamente coletivo. O aumento da
miopia gera uma elevação futura nos custos relacionados à saúde, impactando
enormemente os sistemas de saúde e a sociedade.
Como lidar com esta situação?
Em primeiro lugar, faz-se necessário uma mudança de
hábitos de vida, com estímulo para atividades ao livre, principalmente das
crianças e adolescentes, além da adequação do tempo de uso telas de acordo com
a idade. Aqui, é importante o envolvimento de toda a sociedade, através de
campanhas de esclarecimento e educação das pessoas. Seria muito útil o
envolvimento dos serviços de atenção primária a saúde e da mídia leiga para que
se possa alcançar o maior público possível.
Em segundo lugar, identificação dos casos de miopia
para a devida correção visual, mas também para estabelecer terapias coma
finalidade de retardar ou paralisar o agravamento da miopia. Existem hoje
diversos meios médicos (colírios e lentes especiais de óculos) que conseguem
ajudar a lidar com a miopia progressiva, principalmente nos mais jovens. Neste
ponto, deve-se trabalhar para facilitar o acesso da população ao médico
oftalmologista.
A miopia vem se tornando um grande problema, mas
serve de alerta para a necessidade de mudança de hábitos de vida das pessoas.
Existem, hoje em dia, meios para evitar ou limitar o impacto crescente desta
condição ocular tão frequente. Basta juntarmos os esforços e lutarmos pela
saúde ocular da nossa população. Vamos em frente!
Ricardo Augusto Paletta Guedes
Presidente da Sociedade Brasileira de Oftalmologia
Fonte: https://www.sboportal.org.br/noticias/miopia-um-problema-crescente-de-saude-publica-e-coletiva
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