A paternidade
também traz desafios emocionais profundos, muitas vezes até desconhecidos. No
mês dos pais, é hora de reconhecer isso. A psicóloga perinatal Rafaela Schiavo
ajuda a entender algumas dessas questões pouco discutidas.Crédito: Amina Filkins
Já pensou que possam existir “homens grávidos”?
Parece estranho, mas é o que acontece, ou quase, na síndrome de couvade. Quando
pensamos em gravidez, imaginamos a mulher passando por todas as transformações
físicas e emocionais. No entanto, alguns homens também podem apresentar
sintomas típicos de gestação, como enjoos, tonturas, sonolência e até aumento
do abdômen. E não é só isso: eles podem enfrentar depressão durante e após a
gravidez de suas parceiras. Estudos recentes mostram que essas experiências estão
se tornando mais comuns do que se imagina, mas ainda são pouco conhecidas.
A Profª-Dra. Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal e
fundadora do Instituto MaterOnline (@materonline no Instagram), explica que
essas condições, como a síndrome de couvade e a depressão perinatal paterna,
precisam ser mais discutidas. Ela destaca a importância de dar atenção à saúde
mental dos homens durante o período de gestação de suas parceiras.
Pais “grávidos”: o que é
síndrome de couvade?
A síndrome de couvade, também conhecida como
gravidez “solidária” ou “fantasma”, faz com que alguns homens apresentem
sintomas típicos de gestação, como enjoos, tonturas, sonolência e até aumento
do abdômen.
“São poucos os pais que
apresentam esse comportamento, não é uma prevalência alta, mas a gente começou
a perceber cada vez mais nos pais modernos. São homens que vão apresentar
sintomas de gestação. Então, quando suas parceiras estão grávidas, eles também
começam a manifestar alguns dos sintomas”, explica.
Embora a síndrome de couvade não seja amplamente
conhecida, estudos indicam que ela está se tornando mais perceptível. Homens
podem apresentar sintomas durante o primeiro trimestre da gravidez de suas
parceiras, conforme apontado por um estudo publicado no Journal of
Psychosomatic Research em 2020.
E a depressão paterna?
Pesquisas realizadas pela American
Journal of Men's Health em 2020 mostram que cerca de 10% dos homens
podem sofrer de depressão pós-parto, especialmente quando suas parceiras também
apresentam a condição. Esses homens podem começar a sentir os efeitos da
depressão ainda durante a gestação de suas parceiras, conhecida como depressão
perinatal.
“Há poucos anos, a ciência
começou a investigar se o homem poderia, durante a gestação e pós-parto das
suas parceiras, apresentar sintomas de depressão. Essa condição é uma realidade
que precisa ser mais discutida. Identificar e tratar esses sintomas é
fundamental para o bem-estar de toda a família”, alerta.
Pré-natal para os pais
O pré-natal do pai é essencial para garantir que
ele esteja preparado emocionalmente para a chegada do bebê. A Organização
Mundial da Saúde (OMS) destacou em 2020 a necessidade urgente de mais pesquisas
para explorar a ansiedade, o estresse e outras alterações emocionais
significativas nos homens durante o período perinatal.
“Assim como existe o pré-natal
da mãe, há também o pré-natal do pai. Esse pré-natal é um direito e há,
inclusive, recomendações de como realizá-lo com material da própria Secretaria
de Saúde”, aponta.
Como os pais podem enfrentar
essa condição?
Para os pais que apresentam sintomas de síndrome de
couvade ou depressão perinatal, Rafaela Schiavo sugere as seguintes dicas:
- Procure
apoio psicológico: Buscar a ajuda de um
psicólogo pode ser fundamental para entender e tratar esses sintomas.
- Participe
do pré-natal: O pré-natal do pai pode ajudar a prepará-lo emocionalmente para a
chegada do bebê.
- Comunique-se
com a parceira: Manter uma comunicação aberta com a parceira pode aliviar o
estresse e fortalecer a conexão emocional.
- Informe-se
sobre a saúde mental paterna: Entender que esses sintomas são comuns e
podem ser tratados é o primeiro passo para buscar ajuda.
- Busque
redes de apoio: Conversar com outros pais que passaram pelas mesmas experiências
pode ser muito útil.
“Qualquer pessoa que estiver
nessa transição precisa de avaliação psicológica para verificar seu estado
emocional. Há altas chances de uma parcela significativa dessa população necessitar
de apoio devido aos efeitos emocionais dessa fase”, conclui a especialista.
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