Realização pessoal depende mais da autenticidade e contribuição em sociedade do que das conquistas materiais e cumprimento de expectativas de terceiros
Um ciclo infinito de adquirir mais coisas demanda tempo, energia e
sacrifícios, mas pode não trazer uma vida mais gratificante. Um novo emprego
que proporciona boa condição financeira na profissão escolhida, financiamento
de automóvel e imóvel quitados estão entre metas perseguidas que, muitas vezes,
não trazem aquela sensação esperada. Quando chegamos ao que entendemos como
sucesso, parece que algo está incompleto. A falta desse sentimento de
realização é normal quando não percebemos sentido em outras vertentes da vida,
que configuram o que somos, não o que temos.
Buscar sempre mais e não se contentar pode parecer normal, mas a
busca eterna por um motivo para ser feliz somente no futuro pode ofuscar as
belezas da vida no presente – as conexões reais, as virtudes mais autênticas de
cada um. Tudo bem almejar o grande, mas não é preciso alcançar metas distantes
para ser feliz e estar em paz consigo mesmo.
Ter intenções claras, com consistência com suas metas, que tragam
realização e sucesso palpável é como muitos entendem ser a estratégia correta
para perseguir prazer e felicidade. Mas uma alegria mais perene também requer
lembrar o quão boa a vida pode ser, ainda no presente, e entender o que faz
mais sentido, de forma individual, para que a experiência de passar os anos
traga menos arrependimentos do que ficou para trás.
Entendendo a diferença entre ter e ser
Dinheiro, reconhecimento pelo trabalho e status podem trazer um
prazer momentâneo, mas dificilmente refletem uma sensação de pertencimento. A
psicóloga explica que encontrar a verdadeira essência, o que realmente deseja,
de acordo com valores e objetivos, é uma forma mais adequada de lidar com as
emoções.
Apenas o cumprimento de expectativas sociais não traz felicidade
genuína – afinal, se não era você que queria ter uma casa maior, um filho, ou
viajar para Paris, isso pode não fazer sentido se não é o que realmente deseja,
mas sim o que os outros esperam que faça. Apenas seguir o "efeito
manada" e completar prioridades que são entendidas como necessidades
sociais, ao se conformar com o que outros ao seu redor desejam, e não você,
pode trazer sensação de frustração e perda de conexão com seus valores e
objetivos.
Importância da autenticidade e expressão pessoal
Estar conectado com a própria essência e expressar necessidades e
sentimentos genuínos é uma das formas de se sentir mais realizado, de acordo
com a psicóloga Ana Paula Jacomino.
“A aceitação da própria humanidade e a expressão de talentos e
dons podem levar a uma vida mais significativa. Procure entender o que você
gosta, o que torna o dia mais leve e mais completo para você. Cada um tem uma
perspectiva muito distinta do que faz a vida ter sentido no longo prazo, quais
são os objetivos, sejam eles familiares, sociais, profissionais, entre outros”.
Propósito de vida e contribuição
Acordar cedo para apreciar o sol e meditar na praia pode ser o que
traz paz para alguns e o pesadelo para outros, que preferem ler um bom livro no
silêncio, ou praticar esportes de alto impacto. Achar um equilíbrio entre fazer
o que gosta, praticar atividades em que haja talentos naturais, priorizar
determinadas situações em busca de um objetivo são algumas formas de buscar
encontrar o seu propósito de vida.
Em um ano, o propósito pode ser firmar as bases para ter um
relacionamento duradouro, o que deve ser conquistado passo a passo. Em outro
momento, o propósito da vida pode ser se reconectar com familiares com quem
perdeu contato. Também há momentos em que o recolhimento e a atenção às nossas
necessidades próprias se tornam uma necessidade, para que estejamos bem para
contemplar a vida com os outros de forma enriquecedora.
“Não é preciso cumprir uma lista de tarefas o tempo todo. A
comparação e competição com aqueles que nos rodeiam gera aflição e sentimentos
negativos, enquanto o reforço de conexões, agir com gentileza e compaixão com
aqueles que estão à nossa volta é uma das formas de tornar a vida mais completa”,
completa Ana Paula Jacomino.
Superação de traumas e evolução pessoal
Virar a página nem sempre é possível, traumas como a perda de um
ente querido, uma doença grave, ou vivências desagradáveis como a demissão de
um emprego de décadas são situações sempre lembradas. Mas deixar as emoções
fluírem e buscar auxílio de um especialista para ajudar na superação de traumas
são fortes aliados da evolução pessoal.
“Muitas pessoas podem enfrentar dificuldade para focar no agora,
principalmente quando o trauma é recente. Por isso, a psicologia ajuda na
reflexão da vida como um compromisso real com o crescimento pessoal e
contribuição para a sociedade”, conclui a psicóloga.
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