Cientistas da Unesp e da
Universidade Estadual de Oklahoma verificaram em campo que liberação ideal de
vespa que neutraliza o percevejo-marrom deve ser realizada de 30 em 30 metros
Artigo publicado na revista Insects determina
com precisão a distância de dispersão de um tipo de vespa que neutraliza uma
praga comum em áreas de produção de soja – o Euschistus heros,
inseto conhecido como percevejo-marrom. Trata-se de um grave desafio à produção
de soja na América do Sul e seu controle é difícil por causa de resistência a
inseticidas químicos, afirmam os autores do artigo. Já a solução, a Telenomus
podisi, é uma espécie de microvespa parasitoide, descrita pelo entomologista
norte-americano William Harris Ashmead em 1893.
Com o estudo conduzido por
cientistas da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e da Universidade Estadual
de Oklahoma (Estados Unidos), é possível aprimorar a liberação da vespa para
assegurar o controle biológico do percevejo, que também afeta áreas de cultivo
de algodão e girassol, além de pastagens.
A investigação científica tem
recebido diversos apoios da FAPESP (projetos 18/02317-5, 19/10736-0 e 18/19782-2).
As fêmeas de T. podisi localizam
ovos de E. heros nas plantas e neles depositam seus próprios
ovos, interrompendo o desenvolvimento do percevejo-marrom no início do ciclo de
desenvolvimento.
“Os ovos da praga tornam-se de
coloração escura e dão origem a novas vespas, em vez de novos percevejos. Na
sequência, essas vespas vão parasitar mais ovos da praga”, detalha Regiane Cristina de Oliveira,
professora do Departamento de Proteção Vegetal da Faculdade de Ciências
Agronômicas (FCA) da Unesp, campus de Botucatu. Para oferecer aos produtores a
forma correta de utilização do defensivo agrícola natural, vários estudos foram
realizados para entender como deve ser liberado – qual a quantidade de vespas e
a melhor distância entre os pontos de liberação, entre outros aspectos.
O grupo de pesquisadores
verificou em condições de campo que a capacidade de dispersão de T.
podisi, influenciada pelo estágio de crescimento da soja, variou entre 31 e
39 metros. A taxa máxima de parasitismo de ovos de percevejos foi de cerca de
60%. Com base nesses resultados, os autores recomendam que os pontos de
liberação das vespas sejam espaçados no máximo 30 metros entre si para fornecer
controle eficaz da praga, uma das mais agressivas da cultura da soja. O E.
heros causa prejuízos nas vagens (pode impor perda de até 30% do
potencial produtivo). No outono, o inseto-praga inicia a procura por abrigos
sob a palhada, onde permanece até o verão. Durante esse tempo, acumula lipídios
e não se alimenta, permanecendo num estado de quiescência (estado fisiológico
de baixa atividade metabólica).
Como a eficácia do parasitoide
depende da capacidade de encontrar hospedeiros, o conhecimento da capacidade de
dispersão possibilita o ajuste da logística e da técnica de liberação. “Isso
otimiza o manejo de percevejos por programas de controle biológico aplicados em
extensas áreas de monocultura”, diz Oliveira, que é engenheira agrônoma formada
pela Universidade Federal do Espírito Santo, mestre em entomologia agrícola
pela Unesp e doutora em entomologia pela Escola Superior de Agricultura Luiz de
Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq-USP), com pós-doutorado na
Universidade Estadual do Mississippi (Estados Unidos).
Além de Oliveira, o artigo é
assinado por William Wyatt Hoback e Rafael Hayashida, do Departamento de
Entomologia e Patologia Vegetal da Universidade de Oklahoma, e Gabryele Ramos,
Daniel Mariano Santos e Daniel de Lima Alvarez, da FCA-Unesp.
O artigo Optimizing the
Release Pattern of Telenomus podisi for Effective Biological
Control of Euschistus heros in Soybean pode ser lido
em: www.mdpi.com/2075-4450/15/3/192.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/pesquisa-otimiza-controle-biologico-de-praga-que-afeta-cultura-de-soja/51500
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