Doença causada por infecção pelo papilomavírus humano (HPV) é, em mais da metade dos casos, diagnosticada a partir do estágio 2, quando se espalhou além do local de origem, aumentando assim as chances de indicação de radioterapia. O câncer de colo do útero é o mais comum nas brasileiras, com mais de 17 mil novos casos previstos para 2024
O câncer de colo do útero, também conhecido como câncer cervical, é o
terceiro tumor maligno mais comum na população feminina brasileira com 17 mil
novos casos previstos para cada ano do triênio 2023-2025 no Brasil, segundo o
Instituto Nacional de Câncer (INCA). É também a quarta causa de morte de
mulheres por câncer em todo mundo, segundo o levantamento Globocan 2022, da
Organização Mundial da Saúde (OMS).
O câncer de colo do útero é prevenível por meio da
vacina contra o HPV, disponível na rede pública para meninas e meninos de 9 a
14 anos; homens e mulheres imunossuprimidos de 9 a 45 anos que vivem com
HIV/aids, transplantados de órgãos sólidos ou medula óssea e pacientes
oncológicos. A mesma vacina, que há dez anos é oferecida no Sistema Único de
Saúde (SUS) protege do câncer de colo do útero e de outros tumores na região
anal, assim como de tumor de orofaringe, na região de cabeça e pescoço.
Já a prevenção secundária, com foco no diagnóstico
precoce, consiste em rastrear as lesões precursoras em visitas periódicas ao
médico. A mulher deve fazer o teste para rastrear o câncer do colo do útero e
de suas lesões precursoras a partir dos 25 anos se já tem atividade sexual,
sendo que os dois primeiros exames devem ser realizados com intervalo anual e,
se ambos os resultados forem negativos, os próximos devem ser realizados a cada
3 anos.
Além disso, o Ministério da Saúde anunciou neste
março lilás (mês de conscientização sobre câncer de colo do útero) a
incorporação ao SUS de uma nova análise, que é o teste molecular para
identificação e classificação do vírus HPV, ampliando assim o programa de
rastreamento de câncer de colo do útero na saúde pública.
Radioterapia em câncer de colo
do útero
A escolha do tratamento mais adequado para os
tumores colo-uterinos é uma decisão que deve ser tomada pela equipe de
oncologia (que inclui clínicos, cirurgiões e radio-oncologistas, entre outros
profissionais) em conjunto com a paciente. De modo geral, a primeira abordagem
do câncer cervical costuma ser cirúrgica. Mas isso é válido para os casos em
que o tumor está em fase inicial. “Pacientes com tumores localmente avançados
costumam ser submetidas a protocolos que associam a quimioterapia (com uma ou
mais substâncias) e radioterapia associada à braquiterapia, não sendo realizada
a cirurgia. Além disso, a imunoterapia começa a ser também administrada em
tumores ginecológicos, como o câncer cervical em fase mais avançada”, detalha a
radio-oncologista Raquel Guimarães, membro da Sociedade Brasileira de
Radioterapia (SBRT) e chefe do serviço de Radioterapia do Hospital do Câncer 1
do Instituto Nacional de Câncer (HC1-INCA).
Raquel Guimarães explica que, quando o diagnóstico
de câncer de colo do útero ocorre em mulheres jovens, é comum a preocupação com
a fertilidade. Nas fases mais iniciais, é possível submeter a paciente à
cirurgia com preservação de fertilidade. A partir de um determinado estágio da
doença, a cirurgia deixa de ser uma opção, porque passa a ser uma intervenção
muito mutilante e que muitas vezes não traz os mesmos resultados da
radioterapia. Para as pacientes em idade fértil que receberão as doses de
radiação recomenda-se o congelamento de óvulos. “Quando as pacientes não podem
ser operadas, principalmente quando há um risco cirúrgico muito elevado, seja
porque tem alguma comorbidade ou porque são pacientes, por exemplo, muito
obesas, dentre outros fatores, a principal indicação é a radioterapia”, explica
Raquel Guimarães. A especialista acrescenta que em alguns casos, quando a
doença não foi completamente retirada por cirurgia, ou quando existe um risco
de recidiva, a abordagem é complementada com radioterapia.
Braquiterapia
Com o potencial de aumentar as chances de remissão
do câncer de colo do útero em casos de doença localmente avançada há a
indicação de braquiterapia associada à radioterapia externa. Enquanto a
radioterapia externa é feita com o paciente deitado em equipamento conhecido
como acelerador linear, que dispara feixes de radiação sobre a pele em área
determinada, a braquiterapia é um outro tipo de radioterapia que emite radiação
por uma fonte inserida na massa tumoral ou em região próxima. Feita de modo
temporário ou permanente, a braquiterapia tem indicações clínicas para casos de
outros tipos de câncer, além do colo do útero como corpo do útero (endométrio),
mama e próstata.
Na braquiterapia, a dose programada de radiação
chega às células cancerígenas por meio de aplicadores, cateteres ou placas que
conduzem o material radioativo de curto alcance. Inseridos com a ajuda de
sedação e guiados por ultrassom, esses dispositivos são retirados após cada
sessão. Há situações em que a braquiterapia é permanente, como no tratamento do
câncer de próstata, em que a fonte da radiação cápsulas, chamadas de “sementes”
contendo o material radioativo milimetricamente posicionadas no tecido tumoral
ou áreas circundantes com a ajuda de agulhas.
A inserção dos aplicadores e a introdução das
sementes radioativas é feita após um planejamento rigoroso. As doses e a
administração da radiação entregue pela braquiterapia são atualmente calculadas
com tecnologia 2D ou 3D. Os equipamentos usados para obter as imagens
necessárias a esse cálculo e também para a administração da dose podem variar
de acordo com a técnica utilizada. Na braquiterapia 2D, geralmente são feitas
radiografias, em diferentes ângulos e posições, com os aplicadores já
posicionados em relação ao tumor.
No sistema 3D, as imagens são captadas por
tomografia computadorizada (TC) ou ressonância magnética (RM). As imagens
coletadas, bidimensionais ou tridimensionais, são digitalizadas e usadas por
softwares que calcularão os pontos a serem irradiados, a distribuição da
radiação e a intensidade das doses no tumor e tecidos normais. Em geral,
as imagens tridimensionais permitem uma distribuição mais precisa da dose de
radiação, focando mais nas áreas-alvo e reduzindo a dose que chega aos tecidos
saudáveis circundantes.
As mesmo tempo em que pode oferecer um bom
resultado, a radioterapia interna (como é também chamada a braquiterapia) não
está isenta de riscos e complicações a longo prazo para a qualidade de vida da
paciente. Como são próximos do colo do útero, órgãos como bexiga e reto também
recebem uma parte da dose do tratamento e há toxicidade para esses órgãos. Pode
haver, por exemplo, incontinência urinária, sangramento retal, ressecamento
vaginal e disfunção sexual. Por isso, também é tão importante que as mulheres
tenham acesso à fisioterapia ginecológica no período pós-tratamento.
https://sbradioterapia.com.br/
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