Dr. Fabiano de Abreu explica sobre as fraudes românticas online que induzem erotomania, um distúrbio delirante raro.
Em um estudo
recente publicado na BMC Psychiatry, pesquisadores abordaram um caso singular
de erotomania induzida pela Internet. O Dr. Fabiano de Abreu Agrela, Pós PhD em
Neurociências com especialização em genômica e diretor do Projeto GIP, RG TEA e
Neurogenomic, oferece uma perspectiva única, mergulhando nos complexos meandros
neurobiológicos e cognitivos associados a este distúrbio.
Esta
síndrome fascinou médicos e estudiosos, com as suas raízes remontando às
reflexões de Hipócrates e aos estudos detalhados do psiquiatra francês Gaëtan
de Clérambault no início do século XX.
Etiologia
e Patogênese: Uma Perspectiva Neurogenômica
A
erotomania, também conhecida como síndrome de Clérambault, é caracterizada por
uma crença delirante e persistente de ser amado por alguém de status social
mais elevado. O Dr. Fabiano de Abreu Agrela explica que “a erotomania
representa um desvio fundamental na interpretação de sinais sociais e
cognitivos, possivelmente decorrente de anormalidades nos circuitos neurais
associados ao processamento de recompensas, percepção social e
autoconsciência”.
Segundo o
especialista, as redes neurais envolvidas incluem o córtex pré-frontal, o
sistema límbico e a amígdala, com implicações potenciais no desequilíbrio dos
neurotransmissores, como a serotonina e a dopamina. “Os avanços na genômica
permitem agora identificar variantes genéticas que podem predispor a esses
desequilíbrios neuroquímicos”, acrescenta.
O Caso:
Uma Confluência de Fatores Biopsicossociais
O caso em
questão envolve uma mulher húngara de 70 anos, vítima de um golpe de romance
online. Aposentada, previamente isolada e emocionalmente vulnerável, a senhora
iniciou uma jornada delirante após desenvolver uma admiração pelo trabalho de
um músico nas redes sociais. Essa admiração evoluiu para um envolvimento
emocional intenso, alimentado por interações fraudulentas com um impostor que
se passava pelo músico.
Ao longo de
um ano, o golpista estabeleceu uma profunda conexão emocional com ela,
convencendo-a de um interesse romântico mútuo. Isso levou a mudanças pessoais
significativas e sacrifícios financeiros por parte dela, culminando em
conflitos familiares e uma tentativa grave de suicídio quando as demandas
financeiras se tornaram insustentáveis.
Admitida em
um departamento psiquiátrico após a tentativa de suicídio, uma avaliação
revelou a complexidade de fatores cognitivos, emocionais e psicológicos que
contribuíram para seu diagnóstico de delírio erotomaníaco, induzido pela fraude
do romance online e exacerbado por suas vulnerabilidades pré-existentes.
Dr. Fabiano
de Abreu destaca: “Este caso exemplifica a interseção de vulnerabilidades
preexistentes, como isolamento social e transtornos de humor, com a exposição a
estímulos digitais enganosos, levando a um agravamento do quadro clínico”.
Ele enfatiza
a importância de considerar os aspectos biológicos e psicossociais na avaliação
de tais casos. “Precisamos avaliar como os fatores cognitivos, emocionais e
ambientais interagem, contribuindo para a manifestação da erotomania”, explica.
Tratamento
e Recuperação: Abordagem Integrativa
O tratamento
deste caso específico combina psicofarmacologia com terapia
cognitivo-comportamental. “A abordagem terapêutica deve ser holística, abordando
não apenas os sintomas psiquiátricos, mas também fatores como a alfabetização
digital e a resiliência emocional”, aconselha o Dr. Fabiano de Abreu.
Ele ressalta
a importância de um acompanhamento longitudinal, dada a complexidade da
condição. “Monitorar os avanços na cognição e comportamento ao longo do tempo é
crucial para avaliar a eficácia do tratamento e prevenir recaídas”, afirma.
Prevenção
e Conscientização: Desafios e Estratégias
O Dr.
Fabiano de Abreu conclui ressaltando a necessidade de aumentar a
conscientização sobre a erotomania induzida pela Internet e seus riscos
associados. “Precisamos de estratégias preventivas direcionadas,
particularmente para indivíduos com vulnerabilidades psicopatológicas, e
aprimorar nossa compreensão dos mecanismos subjacentes a esses distúrbios”,
enfatiza.
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