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Dá para fazer livros razoáveis com Inteligência Artificial. Há casos de autores com centenas de livros já publicados com a tecnologia, outros que geraram livros infantis em menos de 72 horas, incluindo as ilustrações. Quem publicou na Amazon recentemente deve ter notado o campo para marcar se usou Inteligência Artificial. Para conter a enxurrada de livros feitos com IA, a plataforma tomou medida que mostra a situação: restringiu a publicação, por dia, por autor, em até 3 livros. Não para aí.
Um amigo outro dia desses, precisando contar uma
história para o filho dormir, recorreu ao Chat GPT, que não só criou uma
narrativa com o personagem preferido do menino, como ainda incluiu o garoto na
história. Foi um sucesso, repetido lá desde então.
É claro que, como autor, já refleti sobre o impacto
da Inteligência Artificial na literatura. Serei obsoleto? Por outro lado, como
leitor, terei ótimos livros para ler?
Olha, a real é que muita gente que trabalha com
literatura vai ficar sem emprego, principalmente quem faz processos
relativamente repetitivos, como correção, tradução, narração de audiolivros, diagramação,
capa, algumas fases da edição e até ilustração e impressão. Agora, se a máquina
vai desempregar muitos, é porque, ao mesmo tempo, será indispensável aos que
sobrarem para usá-la. E, sim, o público provavelmente terá mais livros e com
mais qualidade dos seus autores preferidos, pelo ganho de produtividade.
Mas... e o próprio autor, não será
substituído? Sim e não. Autores que investem em volume, com qualidade
mediana, serão atingidos em cheio. Porque volume, já está claro, é o que a IA
faz bem. Em breve, será tão fácil fazer um livro que a pessoa poderá gerar, em
instantes, um para ela mesma ler. De qualidade artística duvidosa, como eu
explico adiante, é um conteúdo que terá valor pelo alto grau de personalização.
É diferente o caso de autores que buscam qualidade
artística. Estes serão os que vão sobrar. Ora, mas por quê? Não será questão de
tempo até a IA fazer histórias tão boas quanto os grandes mestres? Não
parece ser o caso. Por duas razões.
Primeiramente, o público busca, nas artes, antes de
qualquer coisa, identificação. Diante de uma expressão precisa do que sentimos,
por exemplo, é necessário, para uma experiência aguda, ter sido uma pessoa que
a produziu, pois só assim sabemos haver mais alguém no mundo que entende
aquilo. Aspectos assim fazem a magia da autoria. Uma simulação jamais lançará
esse feitiço.
Mas, então, não basta gerar textos com IA, sem o
leitor saber?
Podem tentar, mas aí encontramos o limite desta
tecnologia, assim como do ser humano. É que, enormes os recursos da máquina,
continua sendo uma simulação. Não possui senso de justiça, raiva, nunca amou
ninguém, não tem tesão, nem fome, medo da morte, nada. Então, ela não vai
chegar a conclusões realmente impactantes, porque não está aqui fora vivendo o
que vivemos em tempo real, tampouco irá demonstrar com ações que segue os
próprios conselhos, sendo, portanto, palavras ao vento. Na outra ponta, autores
que abusarem do uso da IA, eles mesmos vão destreinar. A capacidade
linguística, como qualquer outra, regride quando não é usada.
É como um corredor que decide se mover pela pista
sempre de moto. Em algum momento, os músculos vão atrofiar e ele poderá até ir
rápido, mas não será correndo.
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