Desde 2019, a insulina análoga de ação
prolongada foi incorporada e até hoje não está disponível no SUS para pessoas
com diabetes tipo 1
Neste mês de abril, a Coalizão Vozes do Advocacy, que integra 26
organizações de diabetes no país, promove a Campanha #Cadê a
Minha Insulina. A
iniciativa tem o intuito de trazer à tona a urgência na disponibilização das insulinas de ação prolongada no SUS para pessoas
com diabetes tipo 1, além de sensibilizar parlamentares, personalidades e
influenciadores digitais nessa temática.
A insulina análoga de ação prolongada existe no
Brasil há mais de 20 anos. Ela promove uma melhor efetividade no corpo, sem ter
picos de ação, que podem provocar a baixa de açúcar no sangue (hipoglicemia).
Esta insulina tem um efeito mais estável quando comparada com a NPH, que é bem
antiga e a que está atualmente disponível para população.
A Campanha #Cadê a Minha Insulina será divulgada a partir do dia 15 de abril
nas redes sociais das 26 organizações ligadas com a Coalizão Vozes do Advocacy,
além de entrar no ar tanto no site como nas redes sociais da própria entidade.
A iniciativa estimula as pessoas a imprimirem um selo e cobrarem do
Ministério da Saúde a disponibilização da insulina análoga de ação prolongada
no SUS, para pessoas com diabetes tipo1. O selo
será disponibilizado pelas 26 Organizações de Diabetes e, nas redes sociais da
Coalizão, haverá um arquivo para que as pessoas possam baixar, tirem fotos ou
façam vídeos com a arte.
O objetivo final é provocar o Governo a dar uma
resposta para esta demanda, já que os Membros do Departamento de Assistência
Farmacêutica do Ministério da Saúde não dão qualquer retorno para os membros da
Coalizão desde 10 de janeiro deste ano. Esta insulina está incorporada no SUS desde 2019 e até hoje não
foi comprada pelo Ministério da Saúde.
“Nós precisamos que o Ministério da Saúde coloque
o diabetes como prioridade este ano. Afinal, o gasto com saúde relacionado à condição no Brasil atingiu
42,9 bilhões de dólares em 2021, o terceiro maior do mundo. Mais de 60% deste
valor é investido em complicações do diabetes. Precisamos que os gestores
entendam que o investimento em melhores tecnologias custa menos quando
comparado ao investimento em internações, hospitalizações e tratamento de
complicações do diabetes”, comenta Vanessa Pirolo, coordenadora da Coalizão Vozes do Advocacy.
Hoje no Brasil existem 16 milhões de pessoas com diabetes e que necessitam de insulina para o controle da condição. Deste número, 10% são acometidas pela diabetes do tipo 1, o que representa quase 1 milhão de pessoas, segundo dados do Último Atlas da Federação Internacional de Diabetes.
A importância da campanha
O Ministério da Saúde publicou no Diário Oficial a nota com a incorporação das insulinas de ação prolongada no
SUS, para pessoas com diabetes tipo 1, no dia 27 de março de 2019, mas até
agora não está disponível para este público no Sistema Único de Saúde.
Em 2021, ocorreram dois pregões para a compra das
insulinas análogas de ação prolongada com o preço baixo, acoplado com o valor
da insulina NPH, medicamento da mesma classe, porém mais antigo. Vale ressaltar
que o preço indicado no pregão é impraticável, impedindo qualquer empresa de
participar da concorrência. No ano passado os membros da Comissão de
Incorporação de Tecnologias do SUS abriu uma outra consulta pública para saber
se a sociedade realmente quer esta tecnologia. A reposta foi afirmativa e a
própria instituição reconheceu a superioridade de sua ação, quando compara a
insulina NPH.
“O Ministério da Saúde não tem respeitado a Lei
nº 12.401, de 28 de abril de
2011, que obriga a instituição a disponibilizar em um prazo de 180 dias a
tecnologia incorporada, a partir da data de publicação no Diário Oficial. Isso
é totalmente contra a lei! Saem prejudicados todos os brasileiros com diabetes
tipo 1 e que necessitam dessa insulina”, ressalta Vanessa Pirolo.
Os representantes da Coalizão Vozes do Advocacy
já estiveram em reunião com o Ministério da Saúde no ano passado para cobrar a
data de disponibilização desta insulina e até o momento não houve uma resposta.
Desde janeiro, a coordenadora da Coalizão vem tentando agendar reunião com o
Departamento de Assistência Farmacêutica do Ministério da Saúde, mas até agora
não obteve resposta.
Projeto piloto na Atenção Primária
Além disso, outra questão que a Coalizão vem
trabalhando na busca de um posicionamento do Ministério da Saúde é com relação
ao projeto piloto de disponibilização das insulinas análogas de ação rápida na
Atenção Primária. Depois
de muitas abordagens das Associações de Diabetes e da Sociedade Brasileira de
Diabetes, o Ministério da Saúde reconheceu que a insulina análoga rápida é o
medicamento mais indicado para tratar as pessoas com diabetes tipo 1 no país.
Assim, em fevereiro de 2017, ela foi incorporada ao SUS, mas a
compra só foi efetuada no segundo semestre de 2018. Os Estados começaram a ter
acesso a ela somente em novembro de 2018. O Ministério da Saúde optou por
disponibilizar a insulina análoga de ação rápida no Componente Especializado,
ou seja, para as pessoas terem acesso, é necessário que passem por um
endocrinologista e retirem em Unidades Dispensadoras Específicas. Dessa forma,
gerou uma série de burocracias para as pessoas retirarem o produto. Como
resultado foram adquiridas 7.921.005 canetas de 3ml, com estimativa de consumo
em um ano, para contemplar 396.050 pessoas com diabetes tipo 1 no Brasil.
Com todos os processos para a retirada da insulina, como:
documento a ser preenchido pelo médico chamado de LME (demora de 40 minutos),
ter acesso a um endocrinologista (é sabido que não existem estes profissionais
em vários municípios brasileiros) e a renovação da receita médica em boa parte
dos municípios precisa ser feita a cada seis meses, houve um grande desperdício
de produtos. Foram jogadas no lixo entre 900 mil e 1,4 milhão
canetas em 2021. Outro ponto importante e que prejudicou o acesso às canetas
foi a falta de conhecimento dos médicos e das pessoas com diabetes a respeito
desta nova "tecnologia".
Depois disso, ao longo do ano de 2022 foram feitas mais de 13 reuniões para chegar ao consenso de que poderia ser feita a transferência da insulina análoga de ação rápida do Componente Especializado para a Atenção Primária (Básica). No final, não ocorreu esta transferência e todo o trabalho discutido não foi implementado por uma série de fatores, entre eles a falta de refrigeração nas Unidades de Saúde e de disponibilização do farmacêutico nas unidades de saúde. “Estamos constantemente em busca de respostas sobre toda temática que envolve a diabetes. E os governos precisam entender a necessidade de dar respostas rápidas sobre essa doença que acomete tantos brasileiros”, finaliza Pirolo.
Sobre a Coalizão Vozes do Advocacy em Diabetes e em
Obesidade
Com a participação de 24 associações e de 2 institutos de
diabetes, o projeto promove o diálogo entre os diferentes atores da sociedade,
para que compartilhem conhecimento e experiências, com o intuito de
sensibilizar a sociedade sobre a importância do diagnóstico e tratamento
precoces do diabetes da obesidade e das complicações de ambas, além de promover
políticas públicas, que auxiliem o tratamento adequado destas condições no
país.
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