Diferente
do que ocorria antes, alguns casos estão evoluindo com sintomas graves e até
óbitoUm dos sintomas da hepatite A é a icterícia,
cor amarela da pele e dos olhos.
(Crédito: NHS/UK)
Curitiba está passando por um surto de hepatite A
O alerta foi emitido pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da capital.
Muitos destes pacientes têm sido atendidos pelo Centro de Cirurgia,
Gastroenterologia e Hepatologia (Cighep), do Hospital Nossa Senhora das Graças,
que conta com hepatologistas especialistas no assunto.
Conforme dados da SMS, a última vez que a capital teve um pico de
casos foi em 2018, com 28 pacientes diagnosticados. Mas nenhum deles foi grave
ou morreu, já que a doença sempre foi amena. O comum também sempre foi menos de
10 casos por ano. Em 2020, por exemplo, Curitiba teve apenas 2 diagnósticos.
Já na metade de 2023 os números começaram a crescer e o ano somou 20 pacientes. No primeiro trimestre de 2024, Curitiba saltou para 76 casos confirmados ou em investigação, além da ocorrência de três mortes.
Mudança de perfil
A médica hepatologista Cláudia Pontes Ivantes, do Cighep, conta a
preocupação dos especialistas, tendo em vista que muitos destes pacientes com
hepatite A têm evoluído para forma grave da doença, com necessidade de
internamento e até alguns casos de óbito.
"Estamos percebendo um grande aumento nos casos, mas o que
preocupa mesmo é a gravidade deles", relata. Ela explica que a hepatite A,
antigamente, se manifestava em geral nas crianças , de forma leve. E em 99,9%
dos casos o paciente ficava curado.
Agora, o perfil mudou. Segundo Dra. Cláudia, a hepatite A está
atingindo adultos jovens, com alguns casos evoluindo para forma grave e até
óbito. Entre os graves, alguns precisam de transplante hepático.
Além de diarreia, mal-estar, náuseas e vômitos, que são comuns a diversas viroses gastrointestinais, quem está com hepatite A também pode apresentar febre, olhos amarelados e urina escura.
Como a doença se dissemina
A hepatite A, explica a médica, é transmitida por via fecal -
oral. Ou seja, a falta de lavagem cuidadosa das mãos após ir ao banheiro e
antes de comer. A doença também é transmitida por água contaminada,
principalmente em locais onde não há condições suficientes de saneamento. O
vírus está presente nas fezes dos indivíduos. Pode permanecer vivo no meio
ambiente por período prolongado e até cinco meses sendo eliminado pelo corpo
humano.
O vírus também é transmitido pelos alimentos contaminados, ou
seja, pelo consumo de frutas e verduras cruas que não foram devidamente lavadas
e desinfetadas. Nos adultos, a transmissão também pode ocorrer pela relação
sexual anal desprotegida, principalmente quando há a prática de sexo oral.
Mas por Curitiba ser uma cidade com altíssimo índice de saneamento
(100% da população urbana é abastecida com água tratada e quase 98% têm acesso
à rede coletora de esgoto, sendo que 100% do esgoto coletado é tratado) e pelas
pessoas terem bom nível de conscientização da higienização dos alimentos, o motivo
do surto agudo de hepatite A ainda é um grande mistério.
Segundo Cláudia Ivantes, a SMS está investigando o assunto e ainda não conseguiu desvendar a disseminação, que está ocorrendo principalmente nas regiões central e norte da cidade e em pessoas sem ligação umas com as outras.
Tem que vacinar
Além de uma boa higiene pessoal e com os alimentos, a vacinação é
a forma mais eficaz de se prevenir.
No SUS, alerta a gastroenterologista do Cighep, a vacina só está
disponível para crianças até quatro anos e para alguns grupos de pessoas com
algumas doenças ou transplantados (veja a lista abaixo). A vacina contra o
vírus da hepatite A pode ser aplicada a crianças e adultos na rede privada.
“A vacinação é bastante efetiva. Fica o alerta às pessoas que nunca tiveram hepatite, ou que não saibam se já tiveram ou não (alguns ficam assintomáticos), que busquem a vacina”, pede Cláudia Ivantes.
Além das crianças menores de quatro anos, têm direito à vacina da
hepatite A pelo SUS pessoas com:
- Hepatopatia crônica de qualquer etiologia, inclusive
portadores do vírus da hepatite C e B.
- Pessoas vivendo com HIV/aids.
- Imunossupressao terapêutica ou por doenças imunossupressoras
- Coagulopatias, doenças de depósito, fibrose cística,
trissomias, hemoglobinopatias.
- Candidatos a transplante de órgão sólido, cadastrados em
programas de transplantes.
- Transplantados de órgão sólido (TOS).
- Transplante de células-tronco hematopoiéticas (TCTH).
- Asplenia anatômica ou funcional de doenças relacionadas.
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