Na contramão destes índices, o programa “Medicina do Sono”, iniciativa das empresas regulares de transporte terrestre, se consolida como aliado do cuidado com saúde dos motoristas e pode ser decisivo para redução de acidentes nas rodovias
Cerca de 60% dos acidentes registrados nas rodovias brasileiras foram
causados por fadiga e sonolência excessiva. É o que aponta pesquisa realizada
pela Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (ABRAMET), em 2019.
De acordo com o levantamento, do total de veículos envolvidos,
apenas 1,9% se referem a ônibus rodoviários. Várias iniciativas implementadas
pelas empresas de ônibus regulares, contribuem para esse índice tão baixo,
dentre elas destaca-se a implementação do programa Medicina do Sono,
desenvolvido para promoção de práticas em favor da saúde dos motoristas de
transportes terrestres. O projeto foi criado por iniciativa dessas em parceria
com um médico especialista em medicina do sono, Dr Sérgio Barros.
Criado há duas décadas, o projeto preza pela segurança no trânsito
por meio de testes e abordagens clínicas especializadas e individualizadas, a
fim de proporcionar a educação, prevenção e conscientização de quem trafega
pelas estradas brasileiras e é voltado às empresas que realizam linhas
regulares autorizadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
Com sete laboratórios de polissonografia estruturados nas garagens
algumas das principais companhias pelo país, o programa já realizou no total,
quase 40 mil exames e destes, 7,6 mil exames de polissonografia, actigrafia,
latência e manutenção de vigília e aplicou ainda aproximadamente 750 mil testes
de fadiga e vigília, antes de cada liberação de viagem.
“Quando o motorista se sente cuidado, todos saem ganhando. O
profissional com saúde tratada se torna tão seguro quanto um assintomático”, observou
o coordenador e criador do programa, o médico Sérgio Barros.
Ainda de acordo com o especialista, a ideia é que todo o
tratamento seja feito de forma preventiva para diminuir os fatores de risco.
“Hoje, o número de motoristas em não conformidade para início de viagem é de
menos de 1%. O teste do bafômetro, que é obrigatório antes do embarque, tem o
índice de 0,01% de anomalia”, destacou.
Outro recurso da iniciativa é a sala de estimulação do alerta,
onde os motoristas têm experiências em ambientes distribuídos nos pontos de
paradas estratégicos. Durante 20 minutos, eles praticam exercícios de
alongamento, bicicleta ergométrica e recebem alimentação balanceada, “já que o
consumo de alimentos ricos em açúcar e de difícil digestão podem interferir
diretamente no rendimento do profissional”, explica o médico. No local, os
profissionais participam ainda de sessões de cromoterapia e luxterapia, para
inibir a produção do hormônio do sono, a melatonina.
Palestras e cursos também fazem parte do programa, para orientação
sobre a importância da qualidade de vida dos colaboradores em relação à saúde
física e mental, além dos cuidados com a sonolência, “fator que pode ser
associado a fatores como doenças pré-existentes como apneia, pressão alta,
ansiedade, depressão e obesidade, por exemplo”, afirmou o médico.
Ainda segundo o especialista, o programa promove conhecimento à
família dos motoristas, relação que é um dos pontos-chave no tratamento,
explica o médico.“Quando eles entendem que o descanso e a qualidade de vida são
extremamente importantes, tudo se alinha. Com o bem-estar dos colaboradores em
ordem tudo funciona de forma mais fácil, segura e respeitosa”, afirma o Dr.
Barros.
Iniciativa merece ser multiplicada
“Nas empresas de ônibus todas as ações voltadas à segurança são
uma prioridade e é vital que se dedique aos motoristas atenção e cuidado, já
que o fator humano nessa equação é preponderante. Sendo assim, cuidar da saúde
dele também faz com que o profissional se sinta mais engajado na missão”. A
observação é do presidente da Associação Brasileira das Empresas de Transporte
Terrestre de Passageiros (Abrati), Paulo Porto, que acredita que a iniciativa
merece ser multiplicada e adotada pela maior parte das empresas regulares da
categoria. Hoje aderem ao programa empresas que transportam cerca de 16 milhões
de passageiros por ano de um setor regular que atingiu 37 milhões de
passageiros transportados no ano de 2022.
O executivo destaca que empresas que aderiram ao programa Medicina
do Sono registram excelentes resultados nos índices de sinistros gerais e
melhor ainda quando se avaliam a prevenção de acidentes por consequência de
fadiga ou sonolência excessiva no volante, bem observa ainda que os números do
programa refletem a efetividade dos investimentos no programa para a segurança
de todos.
“A vida e a segurança dos clientes são nossa missão enquanto
operadores do transporte de pessoas, além disso há um prejuízo efetivo aos
resultados das empresas em decorrência da insegurança nas rodovias e mitigar
riscos é algo essencial. Entendemos que, quanto mais se investe, mais impactos
positivos geramos para o setor e para os demais usuários das rodovias nacionais”,
concluiu.
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