A desigualdade de gênero é um fenômeno persistente e se manifesta de diversas formas, desde disparidades salariais entre homens e mulheres até a sub-representação delas em cargos de liderança e tomada de decisões. Ela reflete na violência de gênero, no acesso desigual à educação e a oportunidades econômicas, bem como na perpetuação de estereótipos. Na área da saúde e da ciência, isso não seria diferente.
No campo da ciência, universidades americanas e escolas europeias
têm promovido conhecimento precoce para apoio à diversidade e à mulher,
incentivando meninas a trilharem todos os caminhos da ciência. Nesta direção,
em 2005, a Assembleia Geral das Nações Unidas estabeleceu o dia
11 de fevereiro como sendo o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na
Ciência, com o objetivo de incentivar e aumentar a participação de mulheres e
meninas, reforçando o seu importante papel para o desenvolvimento científico e
tecnológico.
Mas, hoje as mulheres estão sujeitas a demandas profissionais cada
vez maiores, muitas vezes, fazendo com que elas se ausentem da realização de
exames de rotina e ginecológicos, que são fundamentais na prevenção do câncer
de mama e colo uterino, por exemplo. Também, segundo dados de março do
Ministério da Saúde, 1 em cada 10 brasileiras têm endometriose, e a maioria não
faz diagnóstico precoce, suportando a dor da menstruação durante o trabalho,
deixando o diagnóstico e tratamento para depois e agravando sua condição. A
busca incessante de se posicionar, muitas vezes, faz com que deixem de se
cuidar.
De acordo com dados da Unesco, agência da Organização das Nações
Unidas (ONU), as mulheres representam apenas 28% dos pesquisadores no mundo.
Elas são o maior número de Doutoras, com maior exigência e responsabilidade,
porém, menor número em condições de liderança. Assim, como preservar as
necessidades dessas pesquisadoras, como, por exemplo, dar acesso ao
planejamento de família sem favorecer a desigualdade de gênero?
Cientistas enfrentam inúmeros desafios quanto ao planejamento de
família. Cita-se condições limitadas de acesso aos cuidados da saúde
ginecológica e reprodutiva, a disponibilidade exígua de bolsas de estudos, a
insegurança financeira quanto à constituição de família, o excesso de trabalho,
a necessidade de publicações crescentes, o senso de responsabilidade com a
pesquisa, tanto quanto ao ineditismo, quanto ao cumprimento de prazos, a
ausência de políticas de apoio durante a licença-maternidade e a falta de
informação sobre a reserva ovariana. Todos esses fatores contribuem para
postergar a maternidade. Em grupos de diálogo com mulheres na ciência, observa-se
que elas desconhecem projetos de preservação da fertilidade e programas de
ovodoação compartilhada.
É fundamental preservar estas mulheres que se dedicam a fazer
pesquisa científica e buscam a igualdade de oportunidade de gênero. É
importante realizar programas de conscientização sobre relógio biológico,
reserva ovariana, preservação da fertilidade por meio do congelamento de
óvulos, maternidade tardia e seus riscos. Também são necessários programas de
planejamento de família para, inclusive, evitar a gravidez não planejada, cuja
incidência alarmante mundial é de 56% de todas as gestações.
Esta visão feminina de algumas doenças é fundamental e urgente
para o acesso ao diagnóstico e tratamento adequado na saúde reprodutiva,
menopausa, saúde sexual e outras áreas únicas da saúde. Somente mulheres unidas
e com conhecimento poderão saber sua real necessidade de saúde e desejo do
ponto de vista reprodutivo, buscando a preservação da fertilidade em tempo
adequado e uma maternidade consciente, favorecendo assim a igualdade de
oportunidade de gênero.
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