A cidade de São Paulo, assim como muitas outras metrópoles, enfrenta desafios complexos em termos de planejamento urbano e desenvolvimento sustentável. Entre as ferramentas fundamentais para lidar com essas questões está a Lei de Zoneamento, que está sendo discutida agora, desempenha um papel crucial na definição do uso do solo e na ordenação do crescimento da cidade. No entanto, para que essa lei seja verdadeiramente eficaz e benéfica para todos os cidadãos, é indispensável que haja um debate público aberto, transparente e inclusivo.
A
revisão da Lei de Zoneamento não é uma tarefa trivial. Ela implica em decisões
que afetarão diretamente a vida de todos os habitantes da cidade, determinando
onde moraremos, trabalharemos, estudaremos e teremos acesso a serviços básicos.
Nesse contexto, a participação da população é fundamental. O debate público não
deve ser apenas um ato protocolar, mas sim um espaço genuíno de troca de
ideias, no qual as vozes dos cidadãos comuns, assim como de especialistas,
urbanistas e gestores, possam ser ouvidas e consideradas.
Em
minha experiência como coordenadora do processo participativo da revisão do
Plano Diretor em 2021, ficou claro o quão crucial é esse envolvimento cidadão.
A participação da população nas decisões de planejamento urbano não apenas é
obrigatória e enriquece o processo com perspectivas diversas, mas também
garante que as políticas urbanas sejam sensíveis às reais necessidades e
aspirações dos paulistanos. Há uma frase que eu sempre repito quando estamos no
poder público formulando políticas públicas: “se eu não sou da Brasilândia,
como eu vou decidir o que é melhor para quem é de lá?”. As decisões não podem
ser tomadas a partir de salas com ar condicionado, elas precisam refletir a
realidade de quem vive no local.
A Lei
de Zoneamento não é apenas um conjunto de regras técnicas, ela tem um impacto
direto na qualidade de vida das pessoas. Ao determinar os tipos de construções
permitidas, a densidade populacional e a distribuição de atividades comerciais
e industriais, a lei influencia diretamente a acessibilidade aos serviços e a
mobilidade urbana. Mudanças na lei podem tornar a cidade mais inclusiva e
acessível para todos, ou podem agravar as desigualdades existentes.
As
principais críticas à atual revisão da Lei de Zoneamento reside na falta de
transparência e participação. É vital que as propostas de mudanças sejam
debatidas de forma ampla e compreensível para a população em geral. Informar os
cidadãos sobre os impactos práticos das revisões, como a possibilidade de morar
próximo ao trabalho e serviços essenciais sem onerar as finanças pessoais, é um
passo crucial para fomentar um debate informado e produtivo.
É
dever das autoridades proporcionar informações claras e acessíveis à população,
garantindo que todos possam compreender e opinar sobre as mudanças propostas na
Lei de Zoneamento. Além disso, a educação política é um instrumento poderoso
para capacitar os cidadãos a participarem de forma ativa e informada nos
debates sobre as políticas urbanas, assegurando que suas vozes sejam ouvidas e
consideradas no processo decisório.
Questões
como a verticalização da cidade e a criação de zonas de uso misto são complexas
e multifacetadas. A verticalização pode ser uma solução para a expansão urbana,
desde que seja pensada com cuidado e não resulte em problemas como
congestionamentos e falta de qualidade de vida. Da mesma forma, as zonas de uso
misto podem fomentar uma convivência harmônica entre atividades comerciais,
residenciais e de lazer, mas devem ser planejadas de maneira a não marginalizar
ou desfavorecer certas partes da população.
Em
conclusão, a revisão da Lei de Zoneamento em São Paulo é uma oportunidade
crucial para moldar o futuro da cidade. No entanto, essa oportunidade só será
efetivamente aproveitada se houver um engajamento genuíno da população. A
transparência, a educação política e um debate inclusivo são os pilares
fundamentais para garantir que as mudanças propostas resultem em uma cidade mais
justa, acessível e sustentável para todos os seus habitantes.
Gabriela Sabino
- Assessora de Desenvolvimento de Políticas Públicas de Relação Porto-Cidade no
Ministério de Portos e Aeroportos e foi coordenadora do processo participativo
de revisão do plano diretor de São Paulo.
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