Coachability é a capacidade de uma pessoa receber feedback, aprender com ele e ajustar seu comportamento ou habilidades com base no que foi sugerido. É a disposição e abertura para receber orientação, conselhos e direcionamento de um coach, mentor ou qualquer pessoa que esteja fornecendo um feedback construtivo. Uma pessoa com essa característica está disposta a ouvir, refletir e implementar mudanças. Ela tem uma mentalidade aberta e receptiva a novas ideias e está disposta a sair da sua zona de conforto para melhorar seu desempenho e alcançar seus objetivos.
E aí, se identificou? Você tem coachability? Ou já recebeu muito feedback, mas sempre achou que estavam pegando no seu pé ou que a empresa não sabia reconhecer o seu valor? Na minha percepção, essa característica é uma das coisas mais importantes na hora que buscamos alguém para integrar o time. Atualmente, quem tem mindset fixo e não assimila o que lhe falam terá uma trajetória profissional complicada.
Às vezes, ao sermos postos defronte a uma lacuna, procuramos negá-la. É inconsciente, algo que parte das profundezas de nosso cérebro primitivo em um arroubo de autodefesa. "Como assim, não mereço essa promoção?"; "Eu me esforço demais e dou o meu melhor por essa empresa, mas vocês promovem apenas quem está mais próximo."; "Por que ele merece e eu não? Como assim?". Nessas horas, é inútil argumentar com a pessoa, pois sua janela de aprendizado está fechada. Nada do que o gestor disser será assimilado.
Além da negação, é comum que o profissional sem o
coachability inicie um processo de desqualificar o seu oponente - neste caso,
seu gestor ou a pessoa que lhe forneceu o feedback. Imagina o impacto na
empresa quando o profissional, ao receber uma crítica, começa a falar mal do
seu superior. É terrível. Alguém assim pode ser o gatilho para a criação de um
ambiente tóxico, que fará com que os demais funcionários o isolem - ou pior,
comecem a reclamar também. Se isso acontece, a confiança do time é minada e o
resultado entra em declínio rapidamente. Comumente, casos como esse acabam
resultando em demissões, perda de talentos e resultados ruins.
A importância do coachability
Agora, se, ao contrário do que falamos, o profissional está aberto a receber sugestões, as consequências são diferentes e muito provavelmente positivas. Para um gestor, ter alguém na equipe que entenda o que precisa melhorar e se dedica a esta tarefa é um verdadeiro sonho. Com gente assim no time, o ciclo da virtude se estabelece. Além do resultado individual do colaborador melhorar, outros membros do grupo começam a notar o comportamento e buscam replicá-lo. Afinal, se as pessoas da equipe estão se esforçando, ninguém deseja ficar para trás. Isso acaba aumentando a autoridade da liderança e tornando mais tranquilas as decisões de promoção e transferência dos seus para novos desafios.
Se um colaborador conseguir estudar e melhorar sua capacidade de analisar dados, por exemplo, tirará de letra se alocado em um desafio em outra área. Isso vale para as famosas soft skills, tão desafiadoras de se desenvolver. Se alguém que não sabia se comunicar de forma adequada acata o feedback e desenvolve essa habilidade, sua promoção para liderança pode ser facilitada.
Como gestor, posso assegurar: encontrar pessoas assim é um grande desafio. Quando conseguimos, não podemos perder. Ter pessoas que não sabem ouvir e precisam de supervisão constante para seu desenvolvimento não é algo produtivo para o time. Além do esforço de frustração gerada, o risco de contágio se algo não sair de acordo com o que imagina é grande. Já vi profissionais de extrema competência ficarem estagnados por não quererem aprender algo novo, julgando que já nasceram prontos.
É verdade, também, que a propensão ao coachability também depende do seu gestor. Há pessoas que entendem a melhor maneira de abrir a sua janela de aprendizagem e fazem isso com maestria. Outras, por sua vez, parecem não dispostas a se colocarem no mesmo nível, dificultando o estabelecimento da confiança sincera. Mesmo assim, um profissional com essa característica destacada consegue até conduzir seu gestor no processo, entendendo, nas entrelinhas, o que é preciso fazer para ter sucesso. Por isso, leitores, recomendo que desenvolvam essa valiosa habilidade. É um dos combustíveis fundamentais para a sua carreira decolar.
Virgilio Marques dos Santos - um dos fundadores da FM2S, doutor, mestre e graduado em Engenharia Mecânica pela Unicamp e Master Black Belt pela mesma Universidade. Foi professor dos cursos de Black Belt, Green Belt e especialização em Gestão e Estratégia de Empresas da Unicamp, assim como de outras universidades e cursos de pós-graduação. Atuou como gerente de processos e melhoria em empresa de bebidas e foi um dos idealizadores do Desafio Unicamp de Inovação Tecnológica.
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