Por ser uma doença
invisível, a dor acaba sendo alvo de muitas informações falsas. Um dos
objetivos de dra. Amelie Falconi é esclarecer dúvidas sobre o tema
Ninguém gosta de sentir dor, mas todo mundo
experimenta essa sensação um dia na vida. Dependendo de suas características,
principalmente referente a periodicidade, a dor pode tornar-se crônica. Quando
isso acontece acaba recebendo a alcunha de doença invisível, porque é sentida,
mas raramente identificada. Em razão desta dificuldade em comprová-la, quem
sofre de dor crônica costuma ser alvo de descrença, não só de pessoas próximas,
mas de profissionais da saúde. Afinal, vale a lógica, o que não se vê não
existe. Por conta disso, o estudo da dor crônica acaba sendo relegado a segundo
plano, o que faz com que o assunto fique envolto em muitos mistérios.
Por conta de circunstâncias da vida, a médica
Amelie Falconi seguiu a direção contrária da maioria dos médicos e resolveu
mergulhar fundo nos estudos sobre a dor; especializou-se em dor na Faculdade do
Hospital Santa Casa, em São Paulo e fundou o Comitê de Medicina Integrativa e
Dor Crônica da Sociedade Brasileira do Estudo da Dor (Sbed). Hoje é médica
intervencionista em dor e atua em diversas frentes para dirimir dúvidas sobre o
tema. Nesse sentido, a seguir, Amelie desmistifica pensamentos comuns a respeito
da dor.
Mito 1 – Exercício físico piora o desgaste
articular
Amelie afirma que, ao ser realizado de forma
adequada e supervisionada, geralmente, o exercício físico não piora o desgaste
articular. “Muito pelo contrário, a prática traz benefícios à saúde das
articulações, incluindo a prevenção ou retardamento do desgaste articular,
também chamado de osteoartrite”, diz.
Segundo ela, o exercício físico pode ter um papel
importante na prevenção e manejo da osteoartrite, pois promove o fortalecimento
dos músculos que suportam as articulações; envolve movimento, que pode ajudar a
manter a flexibilidade das articulações; atua no controle do peso, que, em
excesso, sobrecarrega as articulações de carga, como os joelhos; e melhora a
circulação sanguínea para as articulações, o que pode ajudar a fornecer
nutrientes essenciais para a cartilagem e outras estruturas articulares.
Mito 2 – Repouso melhora a dor
Amelie afirma que o repouso pode ser útil em certos
casos agudos de dor, como após uma torção de tornozelo, e por um tempo
limitado. Contudo, faz uma ressalva de que, em muitos casos de dor crônica, o
repouso prolongado tende a piorar a condição. “Isto porque acaba levando ao
descondicionamento físico, à perda de força muscular, à diminuição de
flexibilidade e até mesmo ao aumento da sensibilidade à dor”, diz. Por seu
lado, a atividade física regular consegue minimizar todos os pontos acima
descritos.
De acordo com a médica intervencionista, deve-se
dar muita atenção ao tipo e à intensidade do exercício físico, pois estes devem
ser individualizados e adequados às condições de saúde e às limitações do
paciente com dor crônica. “Assim, é fundamental consultar um profissional de
saúde qualificado para desenvolver um plano de exercícios adequado e seguro,
levando em consideração a causa da dor, o estado de saúde geral do paciente, e
outros fatores relevantes”, afirma.
Mito 3 – Exames de imagem mostram a causa e a
intensidade da dor
A resposta é não. Conforme Amelie, geralmente
exames de imagem, como radiografias, ressonâncias magnéticas (RM) e tomografias
computadorizadas, não são capazes de mostrar a intensidade da dor. A médica
intervencionista em dor explica que os exames de imagens têm como sua função
principal identificar alterações nas estruturas do corpo que possam estar
ligadas a condições médicas que causam dor. Dessa forma, os exames de imagem
podem ajudar a identificar a causa subjacente da dor, avaliar a gravidade e
extensão da condição e auxiliar na definição do plano de tratamento, mas não
podem medir a intensidade da dor.
“A dor é experiência subjetiva e individual, cuja
intensidade varia de pessoa para pessoa”, diz. Para avaliar sua intensidade,
segundo a médica intervencionista em dor, utiliza-se, principalmente, o relato
do paciente sobre sua experiênia de dor, que é coletado via ferramentas
subjetivas, como a Escala Númerica da Dor (END) e a Escala Visual Analógica
(EVA).
Mito 4 – Criança não sente dor
Quando o médico avalia a intensidade da dor,
conforme as escalas citadas, ele enfatiza a importância de o paciente comunicar
de forma clara sua experiência de dor, descrevendo a localização, a qualidade,
a duração e a intensidade dela. Como bebês e crianças pequenas não são capazes
de expressar verbalmente o que sentem, é muito comum que se pense que eles não
são capazes de sentir dor. Tal ilação não poderia ser mais equivocada. “A dor é
uma experiência sensorial e emocional desagradável que pode ser experimentada
por pessoas de todas as idades, incluindo crianças”, afirma Amelie.
Segundo a médica intervencionista em dor, bebês e
crianças pequenas costumam expressar dor chorando, ficando inquietas,
contorcendo-se, evitando toques ou movimentos específicos ou por meio de
mudança no comportamento ou no humor. “Por isso, a importância de pais,
cuidadores e profissionais de saúde ficarem atentos ao qualquer sinal e sintoma
de dor nas crianças, para fornecerem o devido cuidado e conforto”, diz. Sempre
levando em conta que a experiência de dor de uma criança pode ser diferente com
relação a um adulto, devido a diferenças de desenvolvimento e maturação do
sistema nervoso, além de diferenças culturais e individuais.
Mito 5 – Velhice é sinônimo de dor
“O envelhecimento é um processo natural e
inevitável que afeta o corpo de várias maneiras e a dor pode ser uma das
manifestações desse processo. Várias condições de saúde associadas ao
envelhecimento contribuem para a sensação de dor e fatores como diminuição da
massa muscular, perda de densidade óssea e diminuição da flexibilidade”,
comenta Amelie.
Conforme a médica intervencionista em dor, embora a
dor possa ser comum em pessoas mais velhas, isso não significa que ela é
inerente ao envelhecimento, ou seja, pode ser evitada ou mitigada de diversas
maneiras. “Há muitas opções de tratamento disponíveis para ajudar a gerenciar a
dor em pessoas idosas, incluindo medicamentos, terapias físicas, abordagens não
medicamentosas e modificação de estilo de vida”, afirma.
Dra. Amelie Falconi - Especialização em Medicina da Dor pela Santa Casa da Misericórdia de São Paulo. Título de Especialista em Dor pela AMB (Associação Médico Brasileira). Fellow Of International Pain Practice (FIPP) pelo World Institute of Pain (WIP). Fellowship de Intervenção em Dor - Clínica Aliviar / sinpain Rio de Janeiro. Pós-graduação em Medicina Intervencionista da Dor Guiada Por Ultrassonografia – sinpain. Pós-graduação em Anestesia Regional - Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio Libanês. Especialização em Anestesiologia MEC / SBA. Medicina pela Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF. Ministra aulas na pós-graduação de medicina intervencionista da dor do Hospital Albert Einstein. Ministra aulas na pós-graduação de medicina intervencionista da dor na Faculdade sinpain.
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