Nos últimos meses tem se intensificado a divulgação sobre demissões em massa, principalmente de setores da chamada nova economia, a economia digital (startups e fintechs). Esse fenômeno é digno de atenção. Milhares de postos de trabalho estão sendo eliminados em vários países, e aqui não é diferente. Empresas cortando dez, vinte, trinta e até cinquenta por cento da força de trabalho.
Inclusive muitos desses processos são realizados de
maneira pouco respeitosa: demissões por chamadas de vídeo e em grupo se multiplicam.
“Se
você está nessa reunião, é porque seu contrato de trabalho com nossa empresa
está sendo encerrado”. Caramba, é assim mesmo?
Na hora da contratação, presentinhos e carinhos
devidamente registrados nas redes sociais, as companhias gostam dessa
propaganda disfarçada. Na hora da saída, uma chamada de vídeo! As equipes
merecem mais atenção e respeito. Uma conversa de 15 ou 20
minutos, olho no olho com a pessoa responsável imediata é o mínimo que se
espera de uma relação saudável entre empregador e empresa.
Esse é um ponto. A outra questão são os motivos
desses grandes cortes. Temos dois principais. Os grandes investidores nacionais
e internacionais dessas empresas, os fundos de Venture Capital,
criados justamente para captar recursos de investidores e aplicá-los em novas
companhias, que ainda não são públicas, estão com poucos recursos para
continuar alimentando essa enorme quantidade de novos negócios criados nos
últimos anos.
Por conta de um longo período com taxas de juros
muito baixas no mundo todo, que começou após a crise de 2008, aquela dos
imóveis nos EUA, que desestimulava as pessoas manterem o dinheiro parado e
incentivavam que os investidores, principalmente institucionais
(fundos de previdência, fundos de investimentos, bancos,
famílias ricas etc.), colocassem seus recursos em novos negócios.
Esse fator contribuiu, inclusive, para que uma
enxurrada de dinheiro fosse transferida para nós - países emergentes. E assim
as novas empresas surfaram nessa maré, muitas com negócios ainda não testados
suficientemente, algumas ainda no pré-projeto, mas tudo bem, né? Afinal,
os investidores queriam participar do novo ciclo e não perder o bonde. Todos em
busca do novo Google, Facebook, Youtube, Amazon.
Então, em 2020, veio a crise da Covid-19, os juros
baixos sumiram tão rápido quanto o álcool gel nas prateleiras das farmácias
naquele período. A inflação voltou no rastro da confusão logística que se
criou, quando vários países pararam muitas atividades, principalmente as
estruturas de exportação. E as rodadas de investimento acabaram, ou quase. A
opção das empresas que viviam dessa transfusão de recursos gigantes foi fazer
uma parada de arrumação e cortar despesas. Lay-off neles.
O segundo motivo está ligado ao primeiro, sempre
né? As taxas de juros, agora nas alturas, que se seguiram como solução para
baixar a inflação, fizeram com que ficasse muito caro para as empresas buscarem
dinheiro nos bancos, e aí tiveram que cortar custos, senão as contas não
fechavam.
Esses dois motivos parecem suficientes para
explicar os cortes massivos de postos de trabalho. Mas não totalmente. Existe
muita incompetência nesses processos. Gestores despreparados e inconsequentes,
muitas vezes, contratam times em excesso, sem pensar no que vão fazer caso algo
não funcione bem. E, como sabemos, muita coisa não funciona.
As ressacas não perdoam, e elas sempre retornam.
Não muito tempo atrás você lia sobre CEOs, CFOs e outros diretores estrelados
numa postura orgulhosa em entrevistas falando da quantidade de novos
contratados e o gigantismo de suas equipes, como se isso fosse prova de
sucesso.
Numa corrida meio maluca por ver quem contratava
mais. Prova de competência deveria ser não precisar demitir. Manter o time
estável, com baixa rotatividade, sim, deveria ser uma métrica de saúde das
empresas a ser buscada.
Tem ainda aquele pessoal que está em pleno lay-off
e defende que a empresa está indo muito bem, com planos maravilhosos e que o
sucesso é o único caminho a ser seguido. Vamos reduzir a conversa
fiada. Lay-off nunca é bom. Porém se a empresa está em risco
nas operações e precisar reduzir urgentemente despesas para manter e
sobrevivência, seu uso pode ser justificado, para garantir a sobrevivência da
companhia e dos empregos.
Também é justificável quando a empresa compra outra
companhia e tem sobreposição de áreas e departamentos. A redução no quadro de
funcionários é natural. Os empregados já sabem que vai acontecer. O pessoal usa
uma expressão para isso: criação de sinergias.
Agora, bater no peito e falar que está tudo ótimo,
não dá, né?
João Victorino - administrador de empresas e especialista em finanças pessoais.
Formado em Administração de Empresas pela Universidade e com MBA pela
instituição.
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