Estima-se que a
cada 44 crianças e adolescentes uma seja autista
Diagnóstico tardio, dúvidas, questionamentos,
incertezas. Sensações como essas são, muitas vezes, trazidas aos consultórios
por adolescentes que começam a se perguntar: será que eu sou autista? No
Brasil, cerca de 2 milhões de pessoas carregam o Transtorno de Espectro Autista
(TEA), segundo o Centro de Controle de Doenças e Prevenção (CDC).
Apesar do autismo tardio ser uma realidade, por
outro lado o diagnóstico cedo também tem crescido. Hoje, as chances de um
diagnóstico assertivo para crianças de até 4 anos já chega aos 50%. Contudo, o
acesso à informação, compreensão e diálogo sobre o assunto tem trazido à tona
aquela parcela da população que não foi diagnosticada precocemente. E é aí que
entram os adolescentes.
“Muitos adolescentes que chegam ao consultório, às
vezes até por iniciativa própria, trazem alguns questionamentos acerca de seus
comportamentos que diferem de alguns colegas de escola ou de outras pessoas com
quem convivem no cotidiano”, comenta a psicóloga Bruna Rodrigues.
A profissional ainda destaca que “costumo receber
adolescentes com dificuldade que vão desde entender o sarcasmo do outro,
iniciar um relacionamento amoroso até mesmo enfrentar bloqueios em interações
simples no trabalho ou para desenvolver uma amizade”. Ou seja, pela percepção
desses adolescentes há algo realmente diferente, que gera desconforto, e por
conta do acesso à medicina optam por tentar entender melhor com a ajuda de um
profissional.
Como detectar o autismo na adolescência?
Mesmo apresentando vários sintomas do TEA, para se chegar a um diagnóstico final em adolescentes entre os 12 e 18 anos são necessários exames e acompanhamento de especialistas.
Um time composto por psiquiatras, neuropsiquiatras
e neuropsicopedagogos, juntamente do psicólogo do adolescente, conseguem chegar
a uma resposta desde que tenham total acesso às informações de como ocorreu a
infância da pessoa.
A média para um diagnóstico certo costumava
necessitar de um acompanhamento de 5 anos. Contudo, quando acompanhado por
psicólogos e outros especialistas, esse período de análise tem reduzido muito e
os médicos conseguem chegar a um diagnóstico final dentro de 3 a 6 meses.
Quais os sintomas do autismo
na adolescência?
É possível ficar atento para certos sinais que as
pessoas com espectro autista na adolescência apresentam:
- Interesses
restritos:
adolescentes mais fechados, com interesses particulares bem específicos
- Dificuldade
de comunicação: alguns adolescentes podem até se recusar a interagir com outros
- Linguagem
formal:
usam palavras mais difíceis e muitas vezes nem usadas na linguagem geral
do dia a dia
- Problemas
de entendimento: sarcasmo, piadas, tons de conversação podem não ser entendidos
pelos autistas
- Dificuldade
em entender linguagem não verbal: ou seja, não interpretam sinais corporais
como um simples franzir de testa
- Isolamento
social: quando
não se sentem à vontade em situações sociais
- Comportamentos
estereotipados: quando apresentam comportamentos repetitivos com o corpo. Ex: se
balançam bastante ou mexem muito as mãos
- Baixa
tolerância a mudanças: como a troca de escola, de turma ou de casa
A psicóloga Bruna Rordigues destaca também como
geralmente esses adolescentes notam eles próprios alguns dos sintomas. “Algo
que também acontece é quando amigos e familiares notam um comportamento
diferente nesses adolescentes, tais como, dificuldade de realizar contato
visual levantando questionamentos sobre um possível TEA”, comenta.
Ela ainda ressalta que “por outro lado, outros nos
procuram, pois, apresentam os sintomas, mas não entendem o porquê se comportam
de determinadas formas. Claro, que embora tenhamos que investigar todos os
sintomas, nem sempre o diagnóstico é de autismo”.
Ou seja, há ainda os “novos problemas” que essa
geração tem mostrado desafiadora. “Diante do cenário que temos hoje, posterior
à pandemia, temos que levantar hipóteses de crianças que não desenvolveram
habilidade da comunicação e interação social por conta do isolamento”, aponta
Bruna.
O que existe hoje de apoio?
Em 2012, foi sancionada a Lei Berenice Piana
(12.764, 2012), que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos da
Pessoa com Transtorno do Espectro Autista. Já em 2020, foi sancionada a Lei
13.977, de 2020, que cria a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno
do Espectro Autista (Ciptea).
A vantagem do documento é assegurar aos portadores
atenção integral, pronto atendimento e prioridade no atendimento e no acesso
aos serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e
assistência social.
Paralelo a isso, existe um aplicativo chamado Rede
Azul, que reúne indicações de locais, serviços e oportunidades amigáveis à
comunidade autista em quase todos os estados brasileiro.
Bruna Rodrigues - Psicóloga (CRP 06/119.229) Pós-graduada em psicanálise pelo Instituto de Pós-graduação (IPOG); Pós-graduanda em Intervenção ABA para Transtorno do Espectro Autista pela Faculdade Metropolitana (FAMEESP) em ludoterapeuta pelo Instituto Cinco (I5); Uma das idealizadoras do 1º Grupo de Psicólogos e Estudantes de Psicologia do Alto do Tietê, Fundadora do Instituto Diferente Mente e do projeto Psicologia em Ação, psicoterapeuta, palestrante e treinadora.
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