Saiba mais sobre a especialidade que contribui para a saúde, desempenho e carreira dos atletas
Em ocasiões como a Copa do Mundo, a saúde dos
atletas merece atenção e relevância. Durante os jogos, alguns atletas ganharam
destaque por estarem usando protetores faciais durante as partidas. Em geral,
eles se machucaram antes da Copa e precisavam estar protegidos com máscaras
faciais para entrarem em campo.
Um deles foi o lateral-direito Thomas Meunier, da
seleção belga, que jogou o segundo tempo da partida contra o Canadá dias após
sofrer uma fratura no osso zigomático, que fica na maçã do rosto. Outro atleta
que também entrou em campo “mascarado” foi o ponta esquerda Son Heung-min,
destaque da seleção da Coreia do Sul. Ele fraturou a órbita, cavidade em volta
do olho esquerdo, e passou por uma cirurgia. Já Ellyes Skhiri, meia da seleção
da Tunísia, jogou com a proteção após ter fraturado o malar durante forte
choque em disputa de jogo.
Além dos protetores faciais, não é incomum entre os
atletas a utilização de outros dispositivos, como protetores bucais. Tais
recursos e cuidados são indicados por especialistas.
Os Cirurgiões-Dentistas, assim como os médicos,
exercem um papel fundamental para a saúde e desempenho de atletas de qualquer
modalidade, tanto que a Odontologia do Esporte é uma especialidade reconhecida
pelo Conselho Federal de Odontologia (CFO) desde outubro de 2015.
A Odontologia do Esporte é a área de atuação do
Cirurgião-Dentista que inclui segmentos teóricos e práticos da Odontologia, com
o objetivo de investigar, prevenir, tratar, reabilitar e compreender a
influência das doenças da cavidade bucal no desempenho dos profissionais ou
amadores, com a finalidade de melhorar o rendimento esportivo e prevenir
lesões, considerando as particularidades fisiológicas dos atletas, a modalidade
que praticam e as regras do esporte.
O Cirurgião-Dentista e presidente da Câmara Técnica
de Odontologia do Esporte do Conselho Regional de Odontologia de São Paulo
(CROSP), Dr. Reinaldo Brito e Dias, considera que o reconhecimento da
especialidade vem ao encontro da necessidade, cada vez maior, de oferecer
saúde, prevenção, proteção e acompanhamento odontológico ao atleta,
colaborando, assim, para o seu desempenho esportivo.
“A prática desta nova especialidade carrega a
responsabilidade dos cuidados aos atletas na prevenção, proteção, cuidados no
doping, acompanhamento e orientação, que muitas vezes é particular e específica
de cada modalidade. O Cirurgião-Dentista que se dedicar à Odontologia do
Esporte deve estar sempre atualizado quanto às regras das modalidades
específicas, determinações anuais da agência controladora de doping (WADA),
relação da saúde bucal com a saúde geral do atleta e vice-versa, além de
cuidados elementares com a tabela de jogos e convocações”.
O especialista pondera, ainda, que o profissional
dedicado ao atendimento do atleta/paciente deve conhecer as particularidades
dele, tratá-lo e protegê-lo da melhor forma possível, lembrando que, muitas
vezes, não existe somente a saúde do atleta sob nosso cuidado e atenção. “Temos
suas conquistas, sua carreira, sua modalidade esportiva e também o país que ele
representa”.
Saúde e desempenho
Os afastamentos de atletas por tempos longos são
comuns e os motivos para isso, após minuciosa investigação, surpreendem, pois,
muitas vezes, estão ligados a problemas
odontológicos.
Os episódios de lesões e períodos de recuperação
acarretam diversos prejuízos aos atletas, inclusive psicológicos. Dr. Reinaldo
explica que o organismo do atleta é uma máquina que deve funcionar com potência
máxima, e, para isso, todos os órgãos e tecidos devem estar em pleno funcionamento.
Portanto, os profissionais da saúde que cercam esse atleta devem ter
consciência de que alguns planos de tratamento e estratégias preventivas
precisam ser considerados.
“A cavidade oral possui uma microbiota (conjunto de
micro-organismos) particular e bem equilibrada. A partir do momento que existe
o desequilíbrio, inicia-se um processo de doença que compromete o bem-estar do
indivíduo. Quando nos reportamos ao paciente atleta, o primeiro pensamento que
se deve ter em mente é que uma das características que o difere de um paciente
comum do dia-a-dia do Cirurgião-Dentista é que, se a corrente sanguínea leva
bactérias a longa distância no organismo humano, esse processo ocorre em uma
velocidade maior no organismo do atleta, pois ele encontra-se sempre no limite
fisiológico”.
Dr. Reinaldo lembra que os atletas possuem um
metabolismo muscular mais acelerado. As bactérias orais, por sua vez, têm, cada
uma, sua predileção: deslocam-se da cavidade oral, seja dos tecidos
periodontais ou de lesões periapicais, para diferentes nichos do organismo
humano. Segundo ele, é preciso entender que a cavidade oral e os microrganismos
que a colonizam naturalmente podem se apresentar em até 400 espécies
diferentes, devendo estar em equilíbrio para manter a microflora e, por
conseguinte, a saúde oral. “Deve-se pontuar que problemas de saúde geral podem
ter início nas enfermidades bucais e ter em mente o quanto essa situação pode
trazer riscos à saúde do atleta e ao seu desempenho. Essa é uma das
responsabilidades do Cirurgião-Dentista especialista em Odontologia do
Esporte”.
Medicação necessária – o que
fazer?
Atletas que necessitam de medicação devem estar
devidamente documentados e fazer com que essa documentação tramite junto às
federações nacionais e internacionais de Direito. Esse documento deve
esclarecer que seu estado de saúde sofrerá uma piora significativa caso a
substância e/ou método proibido deixe de ser utilizado no decurso do tratamento
de uma doença aguda ou crônica, que seu rendimento não será potencializado
significativamente pelo seu uso, que não existe alternativa de tratamento
terapêutico para o problema de saúde existente e que a necessidade de
utilização da substância e/ou método proibido não decorre da utilização
anterior de qualquer substância e/ou método proibido pela WADA.
“Como a Odontologia faz uso da prescrição de
fármacos, deve estar sempre atenta às normas e regras que conduzem as ações
antidoping no mundo e no Brasil. Por esse motivo, Cirurgiões-Dentistas que se
dedicam ao atendimento odontológico de atletas devem conhecer as determinações
de agências internacional e nacional, cumprindo, desta forma, a relevante
missão de preservar a saúde e a integridade do atleta, fundamental para a
Odontologia do Esporte e para o conhecimento do profissional que a exerce”.
Conselho
Regional de Odontologia de São Paulo (CROSP)
Nenhum comentário:
Postar um comentário