É fato que quando começaram a liderar, muitas mulheres acabaram copiando o modelo masculino. Primeiro, porque à época existiam pouquíssimas mulheres exercendo liderança. Sendo assim, não havia um modelo feminino muito claro e disponível a ser seguido. O que se conhecia era o modelo masculino. E consequentemente, os princípios femininos de liderança ainda não eram percebidos como valor. Isso nos leva ao segundo ponto: havia o receio de sermos vistas como fracas e inefetivas se agíssemos de forma mais feminina. E nós precisávamos garantir o nosso lugar, manter a nossa conquista e abrir mais espaço.
Com tempo, estudo e experiência, as mulheres foram
modificando o seu estilo de liderar. Ouvir muito, dar voz às pessoas, praticar
feedbacks, distribuir reconhecimentos, despertar lealdade e confiança, engajar
melhor as pessoas da equipe, pedir desculpas reconhecendo erros (sim, porque
líderes também erram) - esses são alguns exemplos para se compreender melhor a
força e a importância do estilo femininos de liderar.
Há estudos de tendências que afirmam que o
exercício da liderança vai cada vez mais exigir os princípios femininos:
cooperação, respeito às diversidades, contribuição social, inteligência para se
relacionar em situações críticas, acolhimento, empatia e humanização.
Contudo, muitas barreiras ainda existem para que
esses princípios sejam verdadeiramente adotados (tanto por mulheres quanto por
homens no exercício da função) e para que mais mulheres assumam posições de
liderança.
Para mudar essa realidade é necessário encorajar as
mulheres em suas áreas de atuação e fazer com que elas se sintam seguras e
inspiradas a desenvolver seu potencial dentro do mercado de trabalho.
Por esta razão, no Senado Federal, foi criado o
Programa de Mentoria de Liderança destinado exclusivamente às servidoras. O
programa foi denominado Mentoria de Liderança Corajosa e Gentil. Essas duas
palavras são o pilar da proposta e representam as duas características
consideradas fundamentais numa líder: gentileza e coragem.
O Programa tem exatamente este foco: fortalecer a
capacidade de liderança feminina para aumentar suas habilidades socioemocionais
e colaborar para a disseminação do conhecimento tácito, não formalizado em
documentos, mas adquirido na experiência das líderes. Afora isso, outro
benefício é o de contribuir para criar e fomentar redes de relacionamento entre
as líderes da Casa. Une conhecimento, estratégia e experiência para que as
servidoras exerçam uma liderança mais efetiva e humanizada.
“[...] A Mentoria de Liderança Feminina Corajosa e
Gentil [...] me abriu muito a perspectiva sobre como liderar melhor. Eu
descobri que ao líder não basta ter conhecimento técnico. É preciso habilidades
de relacionamento e comunicação. Aprendi que a gentileza e a empatia são
grandes características de um líder, mas a coragem de fazer o que precisa ser
feito também.” (Glauciene Lara)
Iniciativas em prol da equidade podem, além de
modificar uma instituição internamente, provocar mudanças em outras
instituições e, consequentemente, nas relações sociais que permeiam a
sociedade. Pretendemos agora oferecer o Programa para a Rede Interlegis de
Casas Legislativas, como forma de alcançar mais servidoras no âmbito do Poder
Legislativo.
Quando uma mulher aprende a liderar de forma
corajosa e gentil, ela abre uma porta de realização para si mesma. E pode abrir
portas para outras mulheres também.
Fomentar a equidade de gênero na liderança favorece
uma gestão mais humana, mais agregadora e que busca incentivar a cooperação, a
integração e o engajamento das equipes. O intento é o de construir um cenário
em que o serviço público saia fortalecido na medida em que todos, homens e
mulheres, identifiquem sua entrega de valor, alinhando seu comportamento ao
trabalho necessário e a saudáveis relacionamentos, oferecendo uma contribuição
cada vez mais eficiente na prestação de serviços à sociedade, com coragem e
gentileza.
O serviço público precisa muito disso, o Brasil
precisa muito disso e eu acredito que nós podemos - e devemos - ser a mudança
que desejamos ver no mundo.
Claudia
Nogueira - Treinadora e mentora de liderança e servidora pública
há 29 anos. Exerceu funções de gestão até 2012, quando deu uma guinada na vida
profissional. Atualmente conduz o Programa de Mentoria de Liderança para
servidoras. Pós-graduada em Coaching, possui certificação internacional em
Mentoring e sua experiência inclui treinamentos de líderes e equipes em
diversas organizações públicas e privadas. Coautora do livro “Elas na
liderança”, pela Literare Books International.
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