Estudo
aponta a maior incidência de câncer entre os pacientes com excesso de pesoFoto ilustrativa / Divulgação
Uma pesquisa publicada pela revista
científica Nature Communications sugere que a obesidade produz alterações
celulares que promovem a origem de tecidos carcinogênicos, ou seja, que produzem
células cancerígenas. A obesidade é uma doença crônica e está diretamente
relacionada com ao menos 10% das mortes oncológicas em não fumantes no mundo.
De acordo com o estudo, uma das
hipóteses é que a obesidade eleva os níveis de insulina, hormônio que aumenta o
metabolismo e a duplicação celular. O tecido gorduroso também produz hormônios
femininos que são fatores de risco para o desenvolvimento do câncer de
mama, o tipo com maior incidência entre os pacientes com
excesso de peso. Outro ponto é a inflamação
crônica causada pela obesidade, algo que também aumenta o risco de
desenvolvimento de cânceres.
Câncer de Mama - De
acordo com a médica radiologista Dra. Cristiane Spadoni, estudos
epidemiológicos mostram a importância de fatores culturais e de estilo de vida,
sendo 5% a 10% hereditários e 20% a 50% atribuídos a fatores de risco
modificáveis, incluindo inatividade física e escolhas nutricionais que levam à
obesidade. Segundo ela, o aumento da gordura abdominal aumenta o risco para
tumores mais agressivos.
"O risco de desenvolver câncer de
mama pós-menopausa é aumentado pela obesidade. Além disso, há redução da
sobrevida apesar do tratamento apropriado, mais complicações durante a
cirurgia, radioterapia, quimioterapia e maior recorrência local. Há, ainda,
aumento da probabilidade para ter um tumor maior, metastático, resistente à
terapia endócrina e doença avançada no momento do diagnóstico", explica
Cristiane Spadoni.
Obesidade -
Segundo o especialista em obesidade, cirurgião bariátrico e do aparelho
digestivo, Dr. José Alfredo Sadowski, a obesidade promove diversas alterações
físicas e metabólicas que colaboram não apenas para o desenvolvimento de
diversos tipos de câncer como também para problemas cardiovasculares, diabetes,
hipertensão, entre outras comorbidades.
"Hoje vemos mais estudos apontando
a incidência de casos de câncer em pacientes com obesidade. Durante a pandemia
também vimos como a obesidade se tornou um fator de risco para pacientes com
COVID-19, que evoluíam mais facilmente para formas graves da doença",
comenta Sadowski.
Contudo, o médico destaca que a obesidade
possui tratamentos eficazes e seguros como a cirurgia bariátrica. O
procedimento é indicado quando o paciente atende a alguns critérios como Índice
de Massa Corporal (IMC) entre 35 e 40 kg/m² na presença de comorbidades e acima
de 40 kg/m² mesmo sem a presença de outras doenças diagnosticadas; idade e
tempo de tratamento.
"O principal benefício da cirurgia bariátrica, além de promover a perda de peso, é combater e controlar as doenças associadas e promover qualidade de vida aos pacientes. Além da saúde física, a cirurgia apresenta bons resultados também na saúde mental. Pessoas com obesidade enfrentam grave estigma social, dificuldade de acesso ao mercado de trabalho, e outros diversos tipos de estigmas sociais devido ao preconceito pelo excesso de peso.
Genoma e obesidade - Um
outro estudo publicado por pesquisadores do King's College London no último mês
aponta que os cientistas encontraram 74 novas regiões do genoma humano ligados
à obesidade.
Os pesquisadores correlacionaram o
resto do processo de decomposição de um alimento em energia - o metabolismo -
com áreas específicas do mapa genético dos voluntários. Esses resquícios são
chamados metabólitos e alguns deles estão diretamente ligados ao bem-estar
instantâneo fornecido após uma refeição, enquanto outros estão atrelados aos
principais processos fisiológicos do organismo e que interferem em seu
equilíbrio.
"É uma pesquisa muito inicial, mas
no futuro essas descobertas podem ajudar a desenvolver abordagens para manter
um peso saudável que levem em consideração o perfil genético de uma
pessoa", comenta Sadowski.
“Um maior entendimento do porque o metabolismo e as necessidades de nutrientes diferem entre indivíduos, considerando os fatores intrínsecos como a genética, epigenética, microbioma e fatores ambientais, como dieta, atividade física, saúde mental e exposição ao meio ambiente permitirão estratégias mais personalizadas para reduzir o câncer de mama relacionado à obesidade”, diz Cristiane Spadoni.
Obesidade cresce no Brasil - A última edição da Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) aponta o crescimento do índice de sobrepeso e obesidade. De acordo com os dados, 96 milhões de pessoas, ou cerca de 60,3% da população adulta do Brasil, estão com sobrepeso. Especificamente sobre a obesidade, o índice de prevalência em homens adultos é de 22,8% e de 30,2% nas mulheres.
Critérios para indicação da cirurgia
bariátrica - No Brasil, a cirurgia bariátrica pode
ser indicada quando os pacientes atendem a critérios de peso, idade e/ou doenças
associadas. Estão aptos os pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) acima
de 40 kg/m², independentemente da presença de comorbidades; IMC entre 35 e 40
kg/m² na presença de comorbidades; IMC entre 30 e 35 kg/m² na presença de
comorbidades que tenham obrigatoriamente a classificação "grave" por
um médico especialista na respectiva área da doença.
A idade também é fator a ser analisado.
Pacientes entre 18 e 65 anos não têm restrição. Acima de 65 anos, o paciente
deverá passar por uma avaliação individual. Em pacientes com menos de 16 anos,
o Consenso Bariátrico recomenda que a operação deve ser consentida pela família
ou responsável legal e estes devem acompanhar o paciente no período de
recuperação.
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