Há quem diga que a juventude é a melhor época da vida. No entanto, a senioridade talvez possa ser considerada a mais almejada. Afinal, quem não quer viver oitenta, noventa ou até ser centenário? É importante ressaltar, no entanto, a enorme diferença entre viver e sobreviver, o que chamamos de qualidade de vida.
Não apenas o Brasil,
mas todo o mundo está passando por um processo de envelhecimento populacional.
É natural, então, que essa pauta venha cada vez mais à tona. Segundo um estudo
da Fundação Getúlio Vargas (FGV), divulgado em abril deste ano, os idosos
representam 10,53% da população brasileira, um aumento de 20% em relação a
2012, quando a proporção de idosos era de 8,8%. Em 2050, esse número será ainda
maior. Por isso, garantir uma boa qualidade de vida para essa parcelada da
população é tão crucial.
Complementar ao estudo
acima, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
a expectativa de vida continuará em ascensão. A informação mais recente é que
ela se aproxima dos 80 anos em estados como Santa Catarina (79,1), Espírito
Santo (78,2), Distrito Federal e São Paulo (ambos com 78,1). No restante do
território nacional, também foi registrada uma alta. À medida em que a
população se tornar mais idosa, veremos mais pessoas em busca de atividades que
promovam autoestima, bem-estar, e, claro, felicidade.
Os idosos já viveram o
que a sociedade geralmente considera como "anos de ouro" e sabem o
que a vida tem a oferecer. E eu garanto que, por trás dos passos atentos e
vagarosos, há pessoas que desejam viver o mais ativamente possível, ainda que
com algumas limitações. Permitir que esses indivíduos tenham qualidade de vida
proporciona saúde, tanto física como emocional, além de, claro, trazer prazer e
satisfação.
O English Longitudinal
Study of Aging (ELSA), maior estudo britânico sobre longevidade, fez uma
análise com 3.200 pessoas e constatou que os indivíduos com mais de 60 anos que
se sentiam mais satisfeitos com a vida apresentavam menos limitações na
realização de suas atividades diárias. Sendo assim, é possível verificar que
existem diferentes fatores que proporcionam essa sensação positiva, entre eles
ser ativo e se sentir útil, aproveitar a vida, realizar sonhos, socializar com
familiares e amigos, fazer planos para o futuro e investir em qualidade de
vida.
Para que a pessoa
permaneça tão ativa quanto na fase adulta, ou, ainda, desenvolva hábitos
saudáveis de desenvolvimento social, cognitivo e físico durante a fase idosa,
um fator que influencia, e, muito, para realização de atividades satisfatórias
e que geram bem-estar e prazer é incentivo por meio de familiares e de amigos.
Gosto sempre de lembra
que a prática constante de atividades físicas, nesse sentido, pode melhorar a
mobilidade e aliviar as dores. Além disso, a alimentação adequada garante mais
disposição e saúde. Ambos, é claro, sempre guiados pela ajuda de um
profissional. Normalmente, quando chega a fase idosa algumas famílias optam por
cuidados multidisciplinares para proporcionar cuidado de acordo com às
necessidades específicas.
A socialização é um
fator de extrema importância para uma longevidade agradável e com felicidade,
seja a convivência com a família, entre amigos ou em residenciais. As relações
humanas amenizam os sentimentos de solidão e a carência, comuns nessa fase. É
evidente, contudo, que a pandemia e a obrigatoriedade de distanciamento social
dão outro peso à essa necessidade. Mas, como mencionei em um artigo recente
sobre a população idosa e o isolamento, há alternativas como artesanato,
pintura, culinária, jardinagem e outras opções de lazer. A tecnologia tem sido
uma importante aliada durante esse período. É possível se conectar via
telefone, e-mail ou videochamada, amenizando, um pouco, a sensação de
isolamento.
Durante o momento
temos vivenciado, muitos idosos descobriram ou estreitaram suas relações com a
internet, que, além dos contatos com conhecidos, dá a possibilidade de realizar
cursos e estimular aprendizados, que muitos não dominavam anteriormente. É
importante atentar-se ao fato de que a qualidade de vida está diretamente
ligada às preferências e à rotina de cada um. O que diverte alguns, pode
deprimir outros. A chave é ouvir e estar disposto a mostrar opções. Como eu
disse anteriormente, a família é fundamental no processo de manter o idoso
ativo e proporcionar atividades de socialização faz parte disso.
Manter-se ativo é
fundamental para que o ócio, tão almejado por jovens e adultos, não se torne
algo prejudicial. Ter a mente vazia pode ser especialmente danoso para os
indivíduos com mais de 60 anos, considerando a quantidade de tempo livre
disponível. Quando esse tempo envolve muita solidão, pode gerar quadros
clínicos de doenças emocionais como ansiedade, stress e depressão.
Uma pesquisa liderada
pelo IBGE revelou que a depressão é a doença mais comum nos brasileiros entre
60 e 64 anos. Já um levantamento do Núcleo de Estudos em Saúde Pública e
Envelhecimento da Fundação Oswaldo Cruz e da Universidade Federal de Minas
Gerais mostrou que, de 1997 a 2012, o consumo de antidepressivos por idosos
passou de 8,3% para 23,6%. Por isso, esses processos de socialização são tão
necessários.
Sendo assim, é preciso
lembrar constantemente que nossos idosos precisam de atenção direcionada,
cuidado, carinho e equipe médica especializada. Atentar-se a essas necessidades
e buscar a qualidade de vida beneficiam não somente os idosos como seus familiares,
pois garante a ambos tranquilidade e bem-estar.
E, para fechar:
proporcionar qualidade de vida aos idosos de hoje é também garantir e aprimorar
a nossa no futuro.
Mini Bio Dra. Ana Catarina Quadrante - Geriatra e coordenadora
médica da Cora Residencial Senior, formou-se na Faculdade de Ciências Médicas
de São Paulo e fez residência em clínica médica no Hospital das Clínicas da
Faculdade de Medicina da USP e, também, em geriatria e gerontologia. Tem pós-graduação
em aperfeiçoamento em cuidados paliativos pelo Instituto Sírio Libanês de
Ensino e Pesquisa. Atuou como clínica médica do Instituto do Câncer de São
Paulo e como médica geriatra nos hospitais: Santa Cruz, Sírio Libanês, Alemão
Oswaldo Cruz. Além disso, também foi médica da equipe de cuidado paliativos do
Hospital Metropolitano do Butantã.
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