Especialista alerta para os riscos de exercícios exagerados, que podem fragilizar as defesas do corpo e abrir janelas para vírus
Segundo o artigo Role of increasing the aerobic capacity on improving the function of immune and respiratory systems in patients with coronavirus (COVID-19) (o papel de aumentar a capacidade aeróbia na melhoria da função dos sistemas imunológico e respiratório em pacientes com coronavírus COVID-19), publicado pela Diabetes & Metabolic Syndrome: Clinical Research & Reviews (2020), treinos aeróbicos contribuem para fortalecer a imunidade geral do corpo e do sistema respiratório, particularmente para infecções por Covid-19, podendo minimizar a morbidade e a mortalidade provenientes do vírus.
Não há dúvidas de que os exercícios físicos têm relação direta com a performance do sistema imune. No entanto, o que pouca gente sabe é que eles podem nos proteger ou deixar mais suscetíveis a diferentes enfermidades.
Quem alerta é Fabio
Ceschini, especialista em fisiologia do exercício, fundador da plataforma Viajando pela Fisiologia , que capacita profissionais de educação física e de
saúde para a prescrição de treinos de acordo com a fisiologia do corpo humano.
Ele afirma que praticar exercício de forma exagerada pode prejudicar as
barreiras de proteção do organismo e provocar efeito contrário.
Isso porque o sistema
imune não está ligado somente ao mecanismo de defesa do corpo humano. Com o
avançar da idade, a imunidade fica menos ativa para defesa e mais ativa para o
desenvolvimento de substâncias inflamatórias, que podem desencadear doenças
como diabetes tipo 2, depressão e doença cardiovascular.
"São as chamadas
citocinas, hormônios proteicos, que podem agir a favor de um mecanismo
inflamatório (portanto chamado de pró-inflamatório) ou de uma resposta
anti-inflamatória (combatendo a inflamação). O exercício produz respostas
anti-inflamatórias. Ele estimula o ‘lado bom’ do sistema imune. Treinar
significa manter ‘sistema imune do bem’ elevado. E o ‘sistema imune do mal’,
diminuído. Assim, ficamos mais protegidos de vírus", explica .
Esse equilíbrio, ele
alerta, é deixado de lado em muitas prescrições. "O que vejo é muito
treinamento, mas pouca fisiologia da imunidade aplicada ao treinamento. Há
muitas aulas na internet, por exemplo, nas quais o treinador passa exercícios
vigorosos para quem está em casa, muitas vezes sedentário, sem preparo, comendo
mal, ansioso pelo confinamento, e começa a fazer exercícios que não
estão no seu ritmo. Isso pode ocasionar a disfunção no sistema imune, com
aumento do quadro inflamatório. Um risco de contaminação elevado, sobretudo
neste período de vírus circulando", enfatiza.
Treino para
preservar a imunidade
Para melhorar a
função imune, Ceschini recomenda exercícios de intensidade leve e moderada.
Segundo ele, práticas de ritmo intenso podem aumentar a resposta inflamatória
do organismo, principalmente em iniciantes.
- Para quem é
sedentário e vai começar a treinar, a única intensidade indicada é a leve, com
movimentos de pouca intensidade que possibilitem um tempo hábil do sistema
imune para responder a esses estímulos e não ‘cair’. Caminhar, pedalar, correr
são exemplos de exercícios que podem ser feitos no dia a dia, e a intensidade
adequada é aquela que a pessoa consegue conversar durante o exercício.
- Já para quem
treina e quer intensificar os exercícios: é importante manter o que está
fazendo. Se quiser intensificar para um treino vigoroso, pode fazê-lo, mas não
todos os dias. Isso porque, segundo o professor, o treino vigoroso pode
diminuir o número dos chamados ‘neutrófilos’, a primeira barreira que um vírus
encontra quando chega ao organismo.
Ceschini pontua que,
para atividades físicas como, caminhar e pedalar, não precisa necessariamente
da presença do profissional de educação física para praticar. Caso haja um
treino estruturado, a supervisão de um profissional é fundamental.
Sobre o uso da
máscara, ele destaca que, se houver hiperventilação (respiração acentuada acima
do que o corpo geralmente necessita) durante o exercício, o ideal é reduzir
intensidade e frequência. "A hiperventilação impacta no gasto
energético da função pulmonar, que não pode ser prejudicada nesse momento. O
uso de máscara é obrigatório, então você deve adaptar a sua prática a esse item
de segurança", diz.
As 7 dicas para um
treino seguro
Principalmente para
quem deseja iniciar ou retomar a rotina de exercícios.
• Não tente recuperar o tempo perdido: dependendo do tipo de
descondicionamento, uma retomada sem o acompanhamento de um profissional pode
desencadear, além da disfunção do sistema imune, sérias lesões.
• No caso de
caminhadas, corridas ou pedaladas: o indicado é praticar 30 minutos diários.
Melhor pouco diariamente do que 60 minutos três vezes por semana.
• Se possível,
fracione a sessão (independentemente do tipo de exercício: musculação,
caminhada...) em períodos mais curtos duas vezes ao dia, como por exemplo, 15
minutos pela manhã e 15 minutos à noite;
• Em treinos (como
musculação) o ideal é intercalar um dia de treino com outro de descanso. E não
ultrapassar 60 minutos no dia do treino.
• Evite modelos de
exercícios com maior mobilização de massa muscular, como correr em alta
velocidade, para evitar a hiperventilação durante a prática.
• Havendo
desconforto com a máscara, como tontura e aceleração da respiração, reduza a
intensidade e aumente o tempo de intervalo dos exercícios.
• Com cuidados no
manuseio da máscara: se hidrate antes, durante e após a atividade física.
Viajando pela Fisiologia
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