A depressão é um transtorno mental que afeta mais de 264 milhões de pessoas de todas as idades em todo o mundo. Compreender seus mecanismos é vital para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas eficazes. Cientistas do Institut Pasteur, Inserm e do CNRS conduziram recentemente um estudo mostrando que um desequilíbrio na flora bacteriana intestinal pode causar uma redução em alguns metabólitos, resultando em comportamentos semelhantes aos pacientes depressivos. Essas descobertas, que mostram que uma microbiota intestinal saudável contribui para o funcionamento normal do cérebro, foram publicadas na Nature Communications em 11 de dezembro de 2020.
A população bacteriana no intestino, conhecida como microbiota intestinal, é o
maior reservatório de bactérias no corpo. A pesquisa tem mostrado cada vez mais
que o hospedeiro e a microbiota intestinal são um excelente exemplo de sistemas
com interações mutuamente benéficas. Observações recentes também revelaram uma
ligação entre transtornos de humor e danos à microbiota intestinal. Isso foi demonstrado
por um consórcio de cientistas do Institut Pasteur, do CNRS e do Inserm, que
identificou uma correlação entre a microbiota intestinal e a eficácia da
fluoxetina, molécula frequentemente usada como antidepressivo. Mas alguns dos
mecanismos que governam a depressão, a principal causa de deficiência em todo o
mundo, permaneceram desconhecidos.
Usando modelos animais, os cientistas descobriram recentemente que uma mudança
na microbiota intestinal provocada pelo estresse crônico pode levar a comportamentos
semelhantes aos da depressão, em particular por causar uma redução nos
metabólitos lipídicos (pequenas moléculas resultantes do metabolismo) no sangue
e no cérebro.
Esses metabólitos lipídicos, conhecidos como canabinóides endógenos (ou
endocanabinóides), coordenam um sistema de comunicação no corpo que é
significativamente prejudicado pela redução dos metabólitos. A microbiota
intestinal desempenha um papel na função cerebral e na regulação do humor
Os endocanabinóides ligam-se a receptores que também são o principal alvo do
THC, o componente ativo mais conhecido da cannabis. Os cientistas descobriram
que a ausência de endocanabinóides no hipocampo, uma região-chave do cérebro
envolvida na formação de memórias e emoções, resultou em comportamentos
semelhantes aos pacientes depressivos.
"Esta descoberta mostra o papel
desempenhado pela microbiota intestinal na função normal do cérebro",
continua Gérard Eberl, chefe da Unidade de Microambiente e Imunidade (Institut
Pasteur / Inserm) e co-último autor do estudo. Se houver um desequilíbrio na
comunidade bacteriana intestinal, alguns lipídios vitais para o funcionamento
do cérebro desaparecem, estimulando o surgimento de comportamentos semelhantes
aos depressivos. Nesse caso particular, o uso de bactérias específicas pode ser
um método promissor para restaurar uma microbiota saudável e tratar os
transtornos de humor de forma mais eficaz.
Fonte: Grégoire Chevalier et al, Effect
of gut microbiota on depressive-like behaviors in mice is mediated by the
endocannabinoid system, Nature Communications (2020). DOI:
10.1038/s41467-020-19931-2
Rubens de Fraga Júnior - Especialista em
geriatria e gerontologia. Professor titular da disciplina de gerontologia da
Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná.
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