No ano de 1776, o economista britânico Adam Smith
lançava um livro que se tornaria um clássico mundial conhecido como ”A Riqueza
das Nações”. O livro demonstra, em cinco partes, um conjunto de teorias sobre
como as nações evoluíam sob o ponto de vista econômico e social. Neste
contexto, podemos dizer que seu livro foi uma descrição das origens e até mesmo
um guia de como os governantes deveriam tratar o Estado; não é à toa que o nome
completo de sua obra é “Uma Investigação sobre a Natureza e as Causas da
Riqueza das Nações“.
Em seus textos, nas entrelinhas, há uma suposição
de que isso é fundamental nos dias de hoje, e talvez seja por isso que essa
obra seja considerada um clássico, pois, apesar de séculos terem se passado, o
conjunto da teoria é útil e atual. A suposição básica é referente à
estabilidade política. Mas o que é, no século XXI, estabilidade política?
Uma nação com estabilidade política é aquela em que
a política nacional é muito previsível, por exemplo, como é o caso da Coreia do
Norte, em que há uma ditadura totalitária extremamente opressiva que foi, e
ainda é, governada pela mesma família por gerações. Não há dúvidas sobre quem
está no comando do país, ou mesmo quem estará comandando no futuro próximo, ou
a cujas ordens todos deverão obedecer em um sistema como esse. Por outro lado,
a estabilidade política também está presente em países onde existe uma
democracia segura, pacífica e contínua por séculos, como ocorre com os Estados
Unidos, o Canadá ou o Reino Unido, que são nações muito estáveis, já que sua
história e seu conjunto de regras e de leis ajudam a promover uma importante
reverência pública por respeitar as tradições das eleições e resolução de
disputas políticas dentro das regras e dos acordos bem compreendidos a partir
das suas Constituições.
Às vezes, uma ditadura totalitária não tem um plano
de sucessão claro. Às vezes, uma democracia estabelecida há muito tempo é
confrontada com uma "crise constitucional" que introduz um problema
para o qual não existe uma tradição já estabelecida e, às vezes, as nações têm
sua estabilidade ameaçada por outros elementos como guerras ou, no nosso caso,
pandemias que ameaçam a ordem política, jurídica e econômica,
indiscriminadamente.
Democracias liberais bem estabelecidas como as da
França, Alemanha e Itália firmaram-se em um modelo de união nacional em que a
política fiscal, monetária e as disputas de poder se uniram com o escopo de
manter a estabilidade nacional e a defesa de um modo de vida e de organização
social que vem desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Nações Totalitárias e
democracias iliberais como a China, os Emirados Árabes Unidos ou a Rússia se
fecharam em torno de seus líderes políticos e de sua elite econômica com o
objetivo de manter, a todo custo, o status quo da sociedade, e isso ocorre
necessariamente para manter a melhora da qualidade de vida da sua população.
Não importa o regime político. A palavra de ordem é
estabilidade, pois é dela que se garante o investimento privado das empresas
nacionais ao mesmo tempo em que também influi diretamente para a atração do
investimento internacional. É a estabilidade política e econômica que garante o
controle da inflação e gera garantias para a população consumir e contrair
dívidas de longo prazo, como, por exemplo, automóveis e imóveis. É a
estabilidade que garante a expansão do crédito no mercado financeiro para as empresas.
É a estabilidade que garante a liquidez dos títulos da dívida nos mercados
internacionais, e é ela a base fundamental do crescimento econômico.
Em termos práticos, o Brasil carece de estabilidade
em muitos planos. Quem tem razão sobre o coronavírus? Qual o plano correto de
reabertura das empresas? Vamos seguir um plano liberal na economia ou vamos
fazer o Pró-Brasil? A política do Auxílio Emergencial e do Apoio ao Emprego
serão pagas com reservas internacionais, impressão de dinheiro ou com mais dívida?
As privatizações acabaram? A China é inimiga do Brasil?
Crescimento econômico é a base para o
desenvolvimento econômico e consequentemente para a diminuição da pobreza, o
que significa melhora nas condições de vida e no consumo da população, o que
gera de fato a Riqueza das Nações. O Brasil infelizmente está longe da
estabilidade, e o ano de 2020 vem mostrando que o longo prazo em nosso país é
pouco mais de um mês. Ou o país passa a entender a estabilidade como algo
fundamental ou estaremos caminhando para mais uma década perdida.
Igor Macedo de Lucena - economista e empresário, Doutorando em Relações Internacionais na Universidade de Lisboa, membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política.
Nenhum comentário:
Postar um comentário