Entenda por que, ao seguir carreira na área de ciência de dados, você desenvolverá habilidades comparáveis às que fizeram de Holmes o mais conhecido detetive do mundo
Curiosidade e capacidade de
observação e de dedução apuradas, desenvolvidas ao longo de anos de estudo em
múltiplas áreas do conhecimento e colocadas à prova diante dos mistérios do
mundo real. Atenção aos detalhes, analisando todos os dados coletados e
separando as informações importantes das que são irrelevantes para construir
novos conhecimentos. Essas são as habilidades que um (ou uma) cientista de
dados utiliza na vida profissional.
Qualquer semelhança com as habilidades do famoso Sherlock Holmes, não é mera
coincidência, garante o professor André de Carvalho, vice-diretor do Instituto
de Ciências Matemáticas e de Computação (ICMC) da USP, em São Carlos: “Para ser
um cientista de dados, você não precisa ser o melhor aluno de matemática,
precisa só ser curioso e gostar de olhar os dados para descobrir coisas novas a
partir deles. Então, é mais ou menos como ser um Sherlock Holmes, porque você
vai trabalhar com os dados usando ferramentas da ciência e tentará extrair
informações importantes como, por exemplo: pistas sobre quem matou quem; sobre
o que está por trás de uma doença; sobre como obter mais rendimento em uma
aplicação financeira, entre tantas outras possibilidades.”
É como se um cientista de dados trabalhasse sempre carregando uma lupa nas
mãos, debruçando-se nos detalhes dos dados, buscando encontrar padrões em meio
ao caos, explica André. Assim, ao descobrir padrões, esse profissional
descobrirá também informações valiosas e poderá produzir novos conhecimentos.
Para ajudar a visualizar esse trabalho, seguem alguns exemplos concretos:
imagine um cientista de dados analisando os pedidos que você fez nos últimos
anos em um aplicativo de entrega de comida. O que ele poderia descobrir? Com
certeza, identificaria facilmente o tipo de culinária que mais agrada seu
paladar. Poderia também encontrar um padrão em relação aos dias da semana e
horários em que você costuma fazer suas solicitações e, a partir dessa análise,
criar e enviar promoções para estimular seu estômago e agradar seu bolso.
Por outro lado, imagine esse mesmo cientista observando o histórico do consumo
de energia, água e luz da sua residência. Com certeza, seria fácil prever
quanto você irá consumir futuramente e quanto isso lhe custará. Analisando
esses dados, poderia também oferecer percentuais de desconto, que aumentariam
proporcionalmente conforme você alcançasse metas de redução do uso desses
recursos, contribuindo com a sustentabilidade do planeta.
Outro exemplo: investigando uma série de dados que os médicos utilizam para
tomar suas decisões, os cientistas podem localizar pistas relevantes que
permitem chegar à conclusão sobre o tipo de enfermidade que acomete um
paciente. Então, ao unir o conhecimento médico, desenvolvido ao longo de anos
de experiência, com os dados disponíveis, é possível desenvolver sistemas para
apoiar o diagnóstico médico, usando técnicas e ferramentas de inteligência
artificial (clique
aqui para ler mais sobre isso).
Enfim, pensando na infinidade de dados que temos disponíveis no mundo de hoje –
estamos produzindo e fornecendo dados o tempo todo a partir do momento em que
nos conectamos à web –, faltam profissionais capacitados para extrair
informações úteis e valiosas desse incrível material bruto. A demanda por
cientistas de dados é crescente em todos os países. Segundo André, em 2018, a
estimativa do mercado era de que, apenas nos Estados Unidos, faltassem de 140 a
190 mil profissionais para atuar nessa área.
De acordo com quatro especialistas da empresa Bain & Company, a oferta
global de talentos em ciência de dados está prestes a explodir, atingindo cerca
de 1 milhão de pessoas este ano, contra meio milhão em 2018. Ainda assim,
segundo eles, esse aumento na oferta não resolverá inteiramente a demanda: “A
maioria desses talentos se formou recentemente, mas ainda há escassez de
pessoas com mais experiência, necessárias para liderar e gerenciar equipes. Os
Estados Unidos sofrerão com a escassez de engenheiros e arquitetos de dados,
enquanto enfrentarão um possível excesso de oferta de cientistas de dados” (leia
o texto original em inglês).
Em artigo
publicado pela empresa de recrutamento remoto TECLA, especializada na área
de tecnologia, afirma-se que as vagas para cientistas de dados aumentaram
“incríveis 650%” desde 2012, ano em que esse trabalho foi considerado “o
mais sexy do século 21”. Um gráfico apresentado no artigo mostra o
crescimento acelerado no número de vagas em aberto para cientistas de dados nas
maiores companhias do mundo (veja a imagem).
“Em termos de oportunidade de trabalho, de acordo com o site Infomoney, a área
de ciência de dados no Brasil está entre as cinco mais procuradas pelo mercado
desde 2019. Então, a quantidade de oportunidades e de emprego para cientistas
de dados é imensa”, diz o professor Luis Gustavo Nonato, do ICMC. Ele é o
coordenador do Bacharelado em Ciência de Dados da USP, que é o primeiro a ser
ofertado por uma universidade pública brasileira nessa área, cujas aulas da
primeira turma terão início no ano que vem.
Arqueólogos do futuro – O professor Francisco Rodrigues, do ICMC,
destaca, assim como André, que um cientista de dados precisa desenvolver
diversas habilidades adicionais, especialmente de comunicação, tendo em vista
que sempre atuará apoiando especialistas em diferentes campos do conhecimento.
“O profissional tem que ser um bom gerenciador de projetos e também um data
storytelling, já que precisará construir narrativas toda vez que for
explicar aos profissionais de outras áreas como, depois de analisar os dados,
conseguiu chegar aos resultados”, explica Francisco. “O diferencial da área é o
uso do método científico para estudar os dados disponíveis e, só então,
formular hipóteses, fazer testes e tirar conclusões”, completa o professor.
André faz referência a outra metáfora para explicar como é o trabalho desse
profissional: “O mundo todo se tornou um grande sítio arqueológico, repleto de
tesouros para serem encontrados. Nós, os cientistas de dados, somos os
arqueólogos em busca dos artefatos preciosos que nos ajudarão a resolver os
problemas misteriosos do mundo.”
Tal como nas histórias de Sherlock Holmes, os mistérios só serão desvendados
quando as evidências coletadas – nesse caso, os dados – permitirem formular
teorias e compreender o fenômeno investigado. “É um erro grave formular teorias
antes de se conhecerem os fatos. Sem querer, começamos a distorcer os fatos
para se adaptarem às teorias, em vez de formular teorias que se ajustem aos
fatos”, ensina Holmes durante um diálogo com seu melhor amigo, John Watson, no
conto Escândalo na Boêmia, no livro As aventuras de Sherlock Holmes,
de Arthur Conan Doyle.
Novos cursos, mas a área nem tanto – André conta que a primeira vez que
o termo “ciência de dados” apareceu na história da computação foi no livro
Concise Survey of Computer Methods, publicado por Peter Naur em 1974. No
prefácio, o autor menciona um curso que ministrou em 1968 intitulado Datalogy,
the science of data and of data processes and its place in education, em
tradução livre para o português, algo como Datalogia, a ciência dos dados e
do processamento de dados e seu espaço na educação.
Mas, de fato, o termo só ascende à posição “sexy” que possui hoje no início do
século XXI, em especial a partir de 2013, quando surgem os três primeiros
cursos de graduação na área: na Northern Kentucky University, na University
of San Francisco e no College of Charleston, todos nos Estados
Unidos. Atualmente, já existem 300 curso de graduação em ciência de dados
espalhados pelo mundo.
“Em 2016, eu recebi um convite para ser professor visitante na Universidade de
Nova York. E cheguei lá no momento em que estava sendo criado o Centro de
Ciência de Dados, então, vivenciei a montagem dos currículos dos cursos de
graduação e de pós-graduação na área”, conta o professor Nonato, em vídeo disponível no canal do ICMC no
Youtube. Ele acompanhou também a contratação do time de professores do novo
Centro, que abarcava além de cientistas de computação e matemáticos, também
profissionais de outras áreas do conhecimento como psicologia e biologia: “Eu
me encantei com a multidisciplinaridade daquela área que estava surgindo e,
desde então, o
foco das minhas pesquisas se direcionou totalmente para a ciência de dados.”
Nonato foi um dos professores responsáveis por elaborar o projeto
político-pedagógico e a grade curricular do curso de Ciências de Dados do ICMC.
“Eu vejo a área como resultado de uma intersecção entre a matemática e a
computação”, diz o professor. Por isso, as disciplinas oferecidas no curso
refletem essa intersecção, contemplando conhecimentos básicos em computação,
matemática (em especial da estatística), além de disciplinas específicas sobre
técnicas e ferramentas de inteligência artificial que estão sendo amplamente
utilizadas pelos cientistas de dados como redes neurais artificiais e
aprendizado profundo. Para conferir a grade curricular e o projeto
político-pedagógico, basta acessar o site do Bacharelado em Ciência de Dados: www.icmc.usp.br/graduacao/ciencia-de-dados-bacharelado.
“Se você pretende seguir na área de ciência de dados ou inteligência
artificial, eu super recomendo que dê uma atenção especial para esse curso.
Porque, além de ser oferecido pela USP, pelo ICMC, que é um Instituto muito
forte nessa área em específico, você vai pegar um momento muito bom para
aprender isso. Eu garanto que, com esse conhecimento, você não vai ficar
obsoleto em, sei lá, questão de décadas. Porque essas tecnologias têm cada vez
mais aplicações e a tendência é que o mercado e a academia as utilizem
exaustivamente”, recomenda o divulgador científico Caio Dellaqua, em vídeo
que fez sobre o novo curso do ICMC.
Estudante do Instituto de Física da USP (IFUSP), Caio identificou entre os
seguidores de seu canal no Youtube, uma demanda por informações sobre a área de
ciência de dados e resolveu, então, ler o projeto político-pedagógico do curso
para explicar quais disciplinas serão oferecidas e o que o estudante aprenderá,
de modo geral, em cada uma (clique
aqui para assistir).
Além do Bacharelado em Ciência de Dados, o ICMC fez alterações em outro curso
de graduação, que passou a abarcar conhecimentos de ciência de dados. Foi assim
que o Bacharelado em Estatística passou a se chamar, a partir deste ano, Bacharelado
em Estatística e Ciência de Dados. Basicamente, quem opta pelo curso de
Ciência de Dados, tem à disposição mais disciplinas da área de computação, mas
aprenderá também métodos estatísticos fundamentais para poder analisar dados.
Já quem escolhe o caminho da Estatística e Ciência de Dados cursará mais
disciplinas da área de estatística, sendo oficialmente reconhecido como
estatístico ao final do curso, mas terá também conhecimentos de computação,
suficientes para usar o computador como ferramenta para analisar dados. Para
entender melhor as diferenças entre esses dois cursos, acesse este vídeo que o
ICMC disponibilizou no Youtube: https://youtu.be/qMbSb7hHFMg.
Denise Casatti – Assessoria de Comunicação do
ICMC-USP
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