Seja qual for futuro dos meios de pagamento, fato
é: não podemos desprezar que as criptomoedas mudaram a maneira com que nos
relacionamos com o dinheiro. Ainda hoje, grande parte das pessoas vive
suas vidas com olhos para o mundo do passado, mas precisamos ter em mente que
mudanças significativas sobre questões primárias, como, por exemplo, a
compreensão do dinheiro, o que chamamos de “mudanças geracionais”, levam mais
tempo para serem amplamente aceitas e compreendidas.
Voltando um pouco na história, em 1971, Richard
Nixon, presidente dos Estados Unidos, rompeu o Acordo de Bretton Woods, que
acabou com a convertibilidade do dólar americano com o ouro, tornando a moeda
não mais “lastreada” a uma quantidade de ouro existente. Isso significa
que, o valor que existe de dólares no mundo passou a ser controlado pelo
governo americano. Essa foi, de fato, uma mudança geracional. Grande parte das
pessoas porém, ainda acredita que o governo tem algum valor para dar o
“lastro” da moeda.
Assim como nos EUA, o Brasil também não possui
“lastro” para emissão de Reais. No entanto, em diversas apresentações para
grupos de investidores, fundos de investimento, e pessoas mais próximas, a
pergunta “Onde está o lastro do Bitcoin?” é certeira. Minha resposta sempre
teve como referência o fim do Acordo de Bretton Woods. Afinal, onde está
o lastro do Dólar ou do Real?”.
As respostas seguintes à minha pergunta sempre
foram agressivas ou conclusivas. Alguns colocavam a mão no fogo dizendo que o
petróleo era a base do valor do Dólar, enquanto outros praticamente me
expulsavam da sala por “cutucar” seu conhecimento do sistema financeiro. Os
poucos que me deixaram continuar minha explicação, são hoje meus investidores
ou amigos que têm algum valor investido em criptomoedas. E por que eu conto
essa história?
A verdade é que, em 1971, essa decisão unilateral
com finalidades específicas para uma só nação, colocou em xeque toda lógica que
compreendíamos sobre dinheiro. Quando o Brasil finalmente conseguiu compreender
um pouco desse novo mecanismo, controlando a inflação em 1994 com o plano Real,
começamos uma onda gigantesca de quebra de paradigmas potencializado pela
internet onde o dinheiro não mais era o foco, e sim, os serviços online.
Antes de conseguirmos visualizar o Bitcoin como
grande diferencial, no entanto, precisamos compreender o real diferencial
criado pelos bancos durante esse período. O Brasil tem um dos sistemas
financeiros mais completos e complexos do mundo e vimos, nos últimos
anos, serviços como pagamentos e transferências passaram para a palma da
mão com segurança e agilidade. No entanto, precisamos lembrar que essa
facilidade não é gratuita. Os bancos ganham caminhões de dinheiro com tarifas
de transferências, manutenção de contas e pagamentos, e utilizam de valores em
para empréstimos a outros clientes (o que significa emprestar dinheiro que não
têm). Ou seja, o banco está jogando contra o cliente.
Mas surgiram duas frentes novas para se chocar e
questionar este sistema: os bancos digitais e as criptomoedas. Além da redução
de taxas e facilidade nos serviços, o Bitcoin foi além dos bancos digitais,
partindo de premissas ainda mais transformadoras. Em “Bitcoin: A Peer-to-Peer
Electronic Cash System”, White Paper do pseudônimo de Satoshi Nakamoto,
tivemos a primeira descrição de uma estrutura robusta suficiente e que conseguiria
resolver os desafios criado pelo rompimento do Acordo de Bretton Woods, ou
seja, criando um sistema de “emissão” de moeda (e a moeda em si) automatizado,
com mecanismos de escassez natural que preservam ou aumentam seu valor ao longo
do tempo e, caso aceito em escala, maior segurança em seu mecanismo que os
próprios bancos seriam capazes um dia de fornecer e um custo infinitamente
menor para os usuários do sistema.
Sim, algo completamente insano e longe de ser
compreensível em cinco minutos, assim como todas as mudanças geracionais. A
estrutura que compõe o Bitcoin foi criada com base na Economia e na Tecnologia.
Passamos a ter um sistema monetário baseado em algoritmos e que resolve
problemas de segurança, escalabilidade e autenticidade de transações,
utilizando o mais alto nível de conhecimento de tecnologias de criptografia e
segurança de sistemas.
De 2008 para cá, o Bitcoin passou a ter um valor de
mercado total de aproximadamente 170 bilhões de dólares. A criptomoeda já é uma
realidade. E é tão real que os próprios bancos centrais de diversos
países estão discutindo suas próprias moedas digitais em uma estrutura baseada
em Blockchain. Dessa forma, os governos poderão controlar a emissão do dinheiro
e fornecer acesso para as instituições financeiras de forma mais simples e
barata. Sem contar que, ao digitalizar o dinheiro dessa forma, todas as
transações financeiras passam pelo monitoramento do governo. Ou seja,
utilizando a tecnologia e benefícios de escalabilidade por trás do Bitcoin, mas
com propósitos muito diferentes.
Iniciativas como a Bitfy nascem com o
objetivo de tornar cada vez mais o Bitcoin uma moeda corrente e que permite o
desenvolvimento de tecnologias. Esse caminho não tem volta, o foco é
encontrar o que temos a aproveitar e pensar em como podemos melhorar a vida das
pessoas com a tecnologia.
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