Cirurgia de coluna não é mais sentença de
vida sedentária. ALIF, técnica consagrada em todo o mundo, tem sido difundida
no Brasil há 5 anos e possibilita recuperação precoce do paciente
“Se me falar que teria que operar de novo, eu
faria agora, de tão bem que fiquei. Eu deveria ter operado antes”. É assim que a
bancária Ericka Giudice Piovesani, de 33 anos, resume sua experiência na
recuperação de duas hérnias de disco extrusas (L4 e L3), após a Cirurgia de
ALIF, realizada em julho de 2018. Dois anos após o procedimento, a bancária
mantém uma rotina de vida que há muito tempo desejava retomar. “Eu já não
conseguia ser eu mesma: sempre gostei de esportes, ia para a academia, jogava
futebol, mas minha dor me impedia de continuar e em determinados momentos eu
não conseguia fazer nada”, afirma. A dor que a acompanhava Ericka e se
prolongava desde 2012 - quando descobriu a primeira hérnia de disco -, afetou
suas relações com a família, além de seu desempenho no trabalho. “Era só
remédio. Me tornei uma pessoa agressiva, nervosa”, completa.
O procedimento que devolveu a qualidade de
vida à Ericka não é novo, mas vem ganhando espaço no Brasil há 5 anos. “Apenas
agora os médicos entenderam a melhora clínica possível com este procedimento”,
aponta o ortopedista Juliano Fratezi, especialista em coluna, pós-graduado em
Dor pelo IEP - Hospital Sírio Libanês, e membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia
e Traumatologia (SBOT) e Sociedade Brasileira de Coluna (SBC). Fratezi trabalha
com a cirurgia de ALIF há quase 15 anos. “É uma cirurgia segura, realizada
com o apoio de profissionais habilitados, como o cirurgião vascular, que
garantem resultados mais eficientes e menor risco de lesão”, afirma o
especialista.
ALIF é a sigla para Anterior Lumbar
Interbordy Fusion. Neste procedimento, o cirurgião tem acesso à coluna do
paciente pela parte da frente do corpo, com três incisões de cerca de 10cm abaixo
do umbigo. As indicações para a cirurgia de hérnia de disco pela frente ou por
trás levam em consideração diversos aspectos. “Quando a doença é mais discal
e a parte posterior da coluna é boa, não temos doença dos elementos posteriores
(facetas e ligamentos), então podemos optar pela cirurgia pela frente”,
explica o ortopedista Juliano Fratezi. “O Cage (estrutura colocada para
substituir o disco degenerado) tem uma área maior de contato com o osso do que
o parafuso somente, então ele apoia melhor”, completa.
O ALIF atua na reestruturação da coluna.“Com
o ALIF, a gente consegue reconstruir a lordose lombar e melhora o balanço
sagital, que são as curvas normais da coluna e as transferências de carga dela”,
esclarece Fratezi. O especialista aponta, ainda, para outras vantagens da
técnica, como maior facilidade de acesso ao local lesionado, uma vez que a
camada muscular é menos espessa do que a das costas e a melhor recuperação
muscular do paciente.
Além disso, o ALIF é utilizado como cirurgia
de revisão de outros procedimentos. Nos casos de pseudoartrose, por exemplo,
onde há a artrodese com parafuso e não ocorre a consolidação óssea no tempo
certo, o parafuso pode ficar solto. “É um uso bastante interessante do ALIF
neste casos, pois ele apresenta alto poder de consolidação óssea, indicado para
pacientes que já realizaram a artrodese mas continuam com dores ou
instabilidade”, pontua o médico ortopedista. Este também foi o caso da
Ericka, que realizou uma microdissectomia em 2015, porém o disco continuou em um
processo de degeneração e médico e paciente optaram pela nova intervenção,
desta vez com o ALIF.
A cirurgia de ALIF não é recomendada,
geralmente, em duas situações: quando é observada uma osteoporose marcante ou
quando a doença é posterior - como em casos de facetas muito grandes, onde há a
compressão por via posterior - e em casos de estenose do canal congênita “Nestes
casos, avaliamos quando é possível realizar o procedimento pela frente e por
trás ou somente por trás”, revela o especialista em coluna e dor.
ALIF, recuperação e volta ao esporte
Três meses após operada, Ericka voltou a
praticar atividades físicas. Começou com a esteira, passou para o transport e
exercícios aeróbicos. Cinco meses depois, a bancária voltou a fazer musculação.
“Aí eu deslanchei: fortaleci meu abdômen, perdi 20 Kg e voltei a correr”,
diz animada. “Fiz uma corrida de 5k dez meses depois da cirurgia, não tinha
dado nem um ano ainda, fiz outra corrida de 10k. Voltei a correr!”,
relembra Ericka.
“A fusão óssea ocorre entre seis a 12 meses
após a cirurgia de ALIF”, explica o especialista em coluna e dor, Juliano
Fratezi. Neste período, ele aconselha o paciente a voltar às suas atividades de
forma gradual. As orientações iniciais envolvem não abaixar no chão, não pegar
peso de mal jeito e de forma repetitiva, evitar empurrar móveis e dobrar as
costas até que a consolidação óssea ocorra corretamente. “Depois da
consolidação, o paciente pode fazer até esporte de alta performance”,
afirma Fratezi, que ressalta: “Óbviamente, o quanto o paciente vai
desempenhar depende muito caso a caso. A taxa de resultados positivos é grande
e o paciente deve procurar, nestes casos, voltar a praticar atividades físicas.
É possível voltar”.
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