Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista |
No mês da amamentação, paira a dúvida: com o aumento de casos de
Covid-19, é seguro ou não amamentar
Leite materno reforma o sistema
imunológico do bebê e a amamentação traz inúmeros outros benefícios para a
criança e a mãe. Mulheres sem sintomas de Covid-19 devem amamentar seus filhos
normalmente, enquanto as sintomáticas ou com o coronavírus podem fazer a
ordenha e pedir para o (a) cuidador (a) do bebê alimentá-lo com leite materno
ou, ainda, recorrer a um banco de leite humano
Agosto Dourado é o termo utilizado para chamar a
atenção para a importância da amamentação. Mas, com a pandemia por coronavírus,
muitas mulheres ficam em dúvida: é seguro amamentar os bebês?
A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e
mastologista, explica que o leite materno continua sendo o melhor alimento do
mundo. “É o único alimento completo, que não precisa de absolutamente nada para
sustentar o bebê de até seis meses de vida – nem de água”, diz ela.E, como ele
é repleto de anticorpos, fundamentais para a saúde e a resistência do bebê a
doenças, é fundamental que a criança o receba, como única fonte de alimento,
até essa idade. “Não existem evidências da presença do coronavírus no leite
materno. Então, as mães podem amamentar”, informa a médica.
Assim, é preciso seguir algumas recomendações:
- Mães que não estão infectadas com o
coronavírus – essas podem amamentar tranquilamente, sem
restrições. “E devem manter-se em casa, é sempre bom lembrar, porque estão com
imunidade mais baixa, assim como seus bebês”, diz a médica.
- Mães infectadas com o coronavírus, com ou
sem sintomas – essas devem isolar-se do bebê, deixando-o aos
cuidados de outras pessoas. Elas podem fazer a ordenha (retirada do leite) para
que ele seja servido à criança em mamadeira, pela pessoa que estiver cuidando
do bebê. Caso sintam medo de contaminação, podem recorrer a um banco de leite
humano, se desejarem, mantendo a alimentação da criança exclusivamente por
leite humano.
A importância do aleitamento materno
Uma das maiores preocupações de Dra. Mariana
Rosario, em seu consultório está relacionada à orientação sobre o preparo,
durante toda a gestação, para que as gestantes adquiram a consciência da
importância da amamentação exclusiva do bebê, até os seis meses de vida, e
complementar, até os dois anos de idade. “A cada dia, percebo que as mães,
principalmente as de alta renda, têm a tendência de desistir da amamentação com
muita facilidade. Realmente, este pode não ser um processo fácil, porque há
muitos bebês que demoram a pegar o peito, sendo um ato que demanda paciente e
dedicação. Mas, a amamentação é tão importante que eu insisto para que as
gestantes tentem o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre
mãe e filho e a amamentação aconteça”, diz a médica, que faz parte do corpo
clínico do hospital Albert Einstein.
Existe muita informação disponível sobre os
benefícios do aleitamento materno. Segundo a Organização Mundial da Saúde –
OMS, entretanto, apenas 39% dos bebês brasileiros são amamentados com
exclusividade até os cinco meses de vida.
Recentemente, uma pesquisa* divulgada no periódico
The Lancet afirma que a amamentação está associada a uma redução de 13% na
probabilidade de ocorrência do sobrepeso e/ou obesidade e também a uma queda de
35% na incidência do diabetes tipo 2. A mesma análise diz que o leite materno
contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência
(QI). Outra evidência científica mostra que crianças amamentadas por um período
superior a 12 meses em áreas urbanas do Brasil completaram um ano a mais de
atividades educacionais em comparação com as amamentadas por menos de 12 meses.
Ambas as conclusões indicam que o aleitamento contribui com o cumprimento do
ODS 4 (Qualidade na educação). Esses e outros dados demonstram a importância do
aleitamento na infância e os efeitos que esse ato gera ao longo da vida.
Por que, então, as mães não
amamentam?
Existem vários motivos que impedem as mulheres de
amamentarem seus filhos. Dor, medo, insegurança e até motivos estéticos podem
surgir. Segundo a Dra. Mariana Rosario, amamentar realmente é difícil, mas pode
se tornar mais fácil com preparação. Ela fornece detalhes:
- Teoricamente, todas as mulheres produzem
leite, desde a gestação. Após à saída da placenta, existe a saída do colostro,
que dura de três a cinco dias e é um alimento fundamental para o bebê, porque
traz anticorpos imprescindíveis para a proteção de seu organismo.
- Depois desse período, realmente vem o que
popularmente é chamado de ‘descida do leite’: as mamas ficam bem cheias e é
possível que exista dor e, em alguns casos, até febre. Não é um momento para
estresse, porque apenas com calma e paciência é que a mãe conseguirá amamentar.
O estresse, inclusive, pode prejudicar a produção do leite.
- É comum que, nos primeiros dias, os bebês não
peguem o peito – e as mães se desesperem. Isso é comum, mas eles estarão no
hospital, acompanhados pela equipe médica, e nada de ruim acontecerá. É o
melhor momento para que se tente amamentar, acompanhada pela equipe de
enfermagem e com todo o apoio. Em casa, também não se deve desistir, porque o
recém-nascido tem instinto de sobrevivência e precisa se alimentar. É hora de
tentar alimentá-lo, primeiro com a mama, seguindo para fórmula apenas depois de
tentar a amamentação, e com orientação do pediatra.
- Dependendo do jeito que o bebê pega o peito, pode
causar rachadura. Por isso, é fundamental seguir as orientações da equipe de
enfermagem e do obstetra, que têm muita experiência e podem orientar a mãe.
Também existem pomadas específicas para tratamento, que devem ser usadas apenas
após o nascimento do bebê.
- Existem bicos de silicone e outros
utensílios para ajudar as mães na amamentação. É o estímulo do sugar do bebê,
entretanto, que fará com que o leite desça e que a produção seja contínua. Por
isso, não se deve desistir – mas, também não se pode deixar a criança mamar
quando o peito estiver machucado, porque a situação pode piorar. Por isso,
quando houver qualquer problema, deve-se procurar pela orientação médica.
- Muitas mães ainda têm medo do efeito que a
amamentação poderia causar, esteticamente falando, em suas mamas. Existe o mito
de que a sucção da criança deixaria as mamas flácidas e caídas e uma pequena
parcela delas opta pelas fórmulas para evitar esse efeito. Esse é um erro de
interpretação: as mulheres que já têm as mamas flácidas realmente terão o
problema acentuado. Porém, as que não as têm não sofrerão do problema.
- Algumas mulheres temem que, após a
licença-maternidade, seja muito difícil para o bebê ficar sem o leite materno e
ele sofra. Porém, é melhor ele ser amamentado pelo maior tempo possível, com
exclusividade, do que não ter nenhum período disponível desse alimento, tão
precioso. Então, analisando friamente, mesmo que a mulher não consiga seis
meses de licença, é preferível amamentar o bebê com exclusividade por quatro
meses do que em nenhum momento.
Antes do nascimento...
- Durante a gestação, também é possível
preparar as mamas para a amamentação. Uma de minhas dicas é esfoliar, durante o
banho, o bico do peito, com uma bucha vegetal comum, para que o bico vá se
formando.
- Outra dica é tomar sol no peito, sem roupa,
pela manhã, diariamente (até às 10h), para que a pele fique mais forte. O
mamilo pode ser estimulado com a mão, para que vá se formando. Mas, antes do
parto, nunca se deve usar pomadas emolientes.
- A mãe também deve, durante a gestação,
preparar-se psicologicamente para a amamentação. Trata-se de um ato de amor e
muitas mulheres relatam o bem-estar imenso que sentem ao amamentar, porque o
vínculo que é criado entre a mãe e o bebê é ímpar, insubstituível. Portanto, se
houver o preparo, sem medo, tudo dará certo.
É importante lembrar que a amamentação também faz
bem para a mãe, porque o aleitamento permite que o útero volte ao tamanho
normal rapidamente, previne a anemia materna, já que reduz o sangramento, e
ainda previne o risco de câncer de mama e de ovário, além de ajudar na
manutenção do peso corporal.
*Dados disponíveis em: https://nacoesunidas.org/no-rio-agencia-de-saude-da-onu-apoia-eventos-mundiais-sobre-aleitamento-materno/
Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e
Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.
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