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terça-feira, 21 de julho de 2020

Agosto dourado: é possível amamentar em tempos de Covid-19?

Dra.  Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista

No mês da amamentação, paira a dúvida: com o aumento de casos de Covid-19, é seguro ou não amamentar


Leite materno reforma o sistema imunológico do bebê e a amamentação traz inúmeros outros benefícios para a criança e a mãe. Mulheres sem sintomas de Covid-19 devem amamentar seus filhos normalmente, enquanto as sintomáticas ou com o coronavírus podem fazer a ordenha e pedir para o (a) cuidador (a) do bebê alimentá-lo com leite materno ou, ainda, recorrer a um banco de leite humano



Agosto Dourado é o termo utilizado para chamar a atenção para a importância da amamentação. Mas, com a pandemia por coronavírus, muitas mulheres ficam em dúvida: é seguro amamentar os bebês?

A Dra. Mariana Rosario, ginecologista, obstetra e mastologista, explica que o leite materno continua sendo o melhor alimento do mundo. “É o único alimento completo, que não precisa de absolutamente nada para sustentar o bebê de até seis meses de vida – nem de água”, diz ela.E, como ele é repleto de anticorpos, fundamentais para a saúde e a resistência do bebê a doenças, é fundamental que a criança o receba, como única fonte de alimento, até essa idade. “Não existem evidências da presença do coronavírus no leite materno. Então, as mães podem amamentar”, informa a médica.

Assim, é preciso seguir algumas recomendações:


 - Mães que não estão infectadas com o coronavírus – essas podem amamentar tranquilamente, sem restrições. “E devem manter-se em casa, é sempre bom lembrar, porque estão com imunidade mais baixa, assim como seus bebês”, diz a médica.


 - Mães infectadas com o coronavírus, com ou sem sintomas – essas devem isolar-se do bebê, deixando-o aos cuidados de outras pessoas. Elas podem fazer a ordenha (retirada do leite) para que ele seja servido à criança em mamadeira, pela pessoa que estiver cuidando do bebê. Caso sintam medo de contaminação, podem recorrer a um banco de leite humano, se desejarem, mantendo a alimentação da criança exclusivamente por leite humano.


A importância do aleitamento materno

Uma das maiores preocupações de Dra. Mariana Rosario, em seu consultório está relacionada à orientação sobre o preparo, durante toda a gestação, para que as gestantes adquiram a consciência da importância da amamentação exclusiva do bebê, até os seis meses de vida, e complementar, até os dois anos de idade. “A cada dia, percebo que as mães, principalmente as de alta renda, têm a tendência de desistir da amamentação com muita facilidade. Realmente, este pode não ser um processo fácil, porque há muitos bebês que demoram a pegar o peito, sendo um ato que demanda paciente e dedicação. Mas, a amamentação é tão importante que eu insisto para que as gestantes tentem o tempo que for necessário para que se crie esse vínculo entre mãe e filho e a amamentação aconteça”, diz a médica, que faz parte do corpo clínico do hospital Albert Einstein.

Existe muita informação disponível sobre os benefícios do aleitamento materno. Segundo a Organização Mundial da Saúde – OMS, entretanto, apenas 39% dos bebês brasileiros são amamentados com exclusividade até os cinco meses de vida.

Recentemente, uma pesquisa* divulgada no periódico The Lancet afirma que a amamentação está associada a uma redução de 13% na probabilidade de ocorrência do sobrepeso e/ou obesidade e também a uma queda de 35% na incidência do diabetes tipo 2. A mesma análise diz que o leite materno contribui para um aumento médio de três pontos no quociente de inteligência (QI). Outra evidência científica mostra que crianças amamentadas por um período superior a 12 meses em áreas urbanas do Brasil completaram um ano a mais de atividades educacionais em comparação com as amamentadas por menos de 12 meses. Ambas as conclusões indicam que o aleitamento contribui com o cumprimento do ODS 4 (Qualidade na educação). Esses e outros dados demonstram a importância do aleitamento na infância e os efeitos que esse ato gera ao longo da vida.


Por que, então, as mães não amamentam?

Existem vários motivos que impedem as mulheres de amamentarem seus filhos. Dor, medo, insegurança e até motivos estéticos podem surgir. Segundo a Dra. Mariana Rosario, amamentar realmente é difícil, mas pode se tornar mais fácil com preparação. Ela fornece detalhes:

 - Teoricamente, todas as mulheres produzem leite, desde a gestação. Após à saída da placenta, existe a saída do colostro, que dura de três a cinco dias e é um alimento fundamental para o bebê, porque traz anticorpos imprescindíveis para a proteção de seu organismo.

 - Depois desse período, realmente vem o que popularmente é chamado de ‘descida do leite’: as mamas ficam bem cheias e é possível que exista dor e, em alguns casos, até febre. Não é um momento para estresse, porque apenas com calma e paciência é que a mãe conseguirá amamentar. O estresse, inclusive, pode prejudicar a produção do leite.

- É comum que, nos primeiros dias, os bebês não peguem o peito – e as mães se desesperem. Isso é comum, mas eles estarão no hospital, acompanhados pela equipe médica, e nada de ruim acontecerá. É o melhor momento para que se tente amamentar, acompanhada pela equipe de enfermagem e com todo o apoio. Em casa, também não se deve desistir, porque o recém-nascido tem instinto de sobrevivência e precisa se alimentar. É hora de tentar alimentá-lo, primeiro com a mama, seguindo para fórmula apenas depois de tentar a amamentação, e com orientação do pediatra.

- Dependendo do jeito que o bebê pega o peito, pode causar rachadura. Por isso, é fundamental seguir as orientações da equipe de enfermagem e do obstetra, que têm muita experiência e podem orientar a mãe. Também existem pomadas específicas para tratamento, que devem ser usadas apenas após o nascimento do bebê.

 - Existem bicos de silicone e outros utensílios para ajudar as mães na amamentação. É o estímulo do sugar do bebê, entretanto, que fará com que o leite desça e que a produção seja contínua. Por isso, não se deve desistir – mas, também não se pode deixar a criança mamar quando o peito estiver machucado, porque a situação pode piorar. Por isso, quando houver qualquer problema, deve-se procurar pela orientação médica.

- Muitas mães ainda têm medo do efeito que a amamentação poderia causar, esteticamente falando, em suas mamas. Existe o mito de que a sucção da criança deixaria as mamas flácidas e caídas e uma pequena parcela delas opta pelas fórmulas para evitar esse efeito. Esse é um erro de interpretação: as mulheres que já têm as mamas flácidas realmente terão o problema acentuado. Porém, as que não as têm não sofrerão do problema.

- Algumas mulheres temem que, após a licença-maternidade, seja muito difícil para o bebê ficar sem o leite materno e ele sofra. Porém, é melhor ele ser amamentado pelo maior tempo possível, com exclusividade, do que não ter nenhum período disponível desse alimento, tão precioso. Então, analisando friamente, mesmo que a mulher não consiga seis meses de licença, é preferível amamentar o bebê com exclusividade por quatro meses do que em nenhum momento.


Antes do nascimento...

 - Durante a gestação, também é possível preparar as mamas para a amamentação. Uma de minhas dicas é esfoliar, durante o banho, o bico do peito, com uma bucha vegetal comum, para que o bico vá se formando.

 - Outra dica é tomar sol no peito, sem roupa, pela manhã, diariamente (até às 10h), para que a pele fique mais forte. O mamilo pode ser estimulado com a mão, para que vá se formando. Mas, antes do parto, nunca se deve usar pomadas emolientes.

 - A mãe também deve, durante a gestação, preparar-se psicologicamente para a amamentação. Trata-se de um ato de amor e muitas mulheres relatam o bem-estar imenso que sentem ao amamentar, porque o vínculo que é criado entre a mãe e o bebê é ímpar, insubstituível. Portanto, se houver o preparo, sem medo, tudo dará certo.

É importante lembrar que a amamentação também faz bem para a mãe, porque o aleitamento permite que o útero volte ao tamanho normal rapidamente, previne a anemia materna, já que reduz o sangramento, e ainda previne o risco de câncer de mama e de ovário, além de ajudar na manutenção do peso corporal.






Dra. Mariana Rosario – Ginecologista, Obstetra e Mastologista. CRM- SP: 127087. RQE Masto: 42874. RQE GO: 71979.


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