Cada vez que, em viagem,
passo pelo guichê da PF, saúdo o agente que ali está com a exclamação: “Polícia
Federal, orgulho nacional!”. Digo o que
penso para expressar reconhecimento e falo alto para ser ouvido. Recolho o
sorriso do policial e manifestações de aprovação ao redor. É o mesmo conceito que tenho dos procuradores
de justiça da operação Lava Jato, do juiz Sérgio Moro, do TRF4 (com a exceção
que recentemente se expôs aos holofotes) e do STJ.
Já o STF... Ele é institucionalmente tão
necessário que, durante anos, o levei a sério. Os indicados, afinal, atendiam
às exigências de caráter e cultura jurídica. Eu respeitava aquele poder do
Estado mesmo quando as ações penais contra inquilinos das penthouses do poder hibernavam, e veraneavam, e voltavam a hibernar
entre ácaros e fungos nas suas empoeiradas prateleiras. Era um poder lento,
muito lento, mas honorável. E assim foi até o advento do petismo, cujo legado
acabou com a credibilidade e a dignidade do poder. O Supremo de hoje, que breve
será presidido por Dias Toffoli – imaginem só! – junta o que de pior é pensado
pela “esquerda do Direito” com os produtos cada vez mais numerosos da
magistratura militante, a escancarado serviço de suas causas ideológicas. Como
regra, estão do lado do bandido e contra a sociedade.
Se não, vejamos. Em poucos meses, a Lava
Jato desmontou o esquema de corrupção organizado em torno dos negócios da
Petrobras. Os inequívocos crimes começaram a ser confessados, valores foram
devolvidos, as quadrilhas se desfizeram em delações e foi o que se viu. A
sociedade exultou. E o STF? Aparelhado pelo PT, num crescendo de manifestações
individuais que evoluiu para decisões colegiadas, passou a inibir a eficiência
da operação e a proteger os bandidos. Marco Aurélio Mello (o primo de Fernando
Collor) foi o primeiro a denunciar os “julgamentos de cambulhada”. Depois
vieram as restrições às algemas e às conduções coercitivas, os fatiamentos dos
inquéritos, as críticas às colaborações premiadas, as tentativas de restaurar a
impunidade eterna com o fim da prisão após condenação em segunda instância e,
por fim, as inacreditáveis solturas de cambulhada.
Para assegurar a renovação dos mandatos
dos quadrilheiros do Congresso Nacional, nada melhor do que impedir o
financiamento privado das campanhas eleitorais. Assim, mediante decisão que
atropelou o poder legislativo, o STF, em nome da “ética”, preparou o caminho
por onde bilhões de reais, em recursos públicos, chegarão aos corruptos para
usarem de modo privado, antagonizando os anseios nacionais por renovação nos
parlamentos.
Temos um STF desafinado, a proteger a
bandidagem endinheirada enquanto a sociedade se exaspera em vão, impotente,
vendo esvair-se a possibilidade de higienizar a cena política do país. Os
grandes bandidos brasileiros estão bem cuidados, aconchegados e acarinhados no
colo da deusa Têmis. E nós?
Percival
Puggina - membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e
escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
Totalitarismo; Cuba, a Tragédia da Utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil, integrante do grupo Pensar+.
Nenhum comentário:
Postar um comentário