A
primeira consideração que devemos fazer sobre a gestão jurídica é dividi-la em
dois conjuntos de atividades diferentes, com características, desafios e
soluções completamente diferentes para cada uma delas.
O
primeiro conjunto diz respeito à gestão da operação jurídica, onde são geridas
todas as atividades envolvidas no processo da concepção, da execução e do
acompanhamento do processo jurídico até a sua conclusão.
Neste
conjunto de atividades estão concentradas a maioria das inovações tecnológicas
que estão criando uma revolução no modus operandi dos serviços jurídicos
e na profissão do Direito.
Tanto
para escritórios de advocacia quanto para departamentos jurídicos, estão
aparecendo ferramentas impressionantes que vão/irão ajudar os advogados a serem
mais rápidos, mais eficientes e tornar o acesso à justiça um pouco mais barata
para o consumidor desses serviços.
Apenas
para enunciar as principais tendências, cito os sites e sistemas alternativos
de resolução de conflitos (com maior ou menor utilização de tecnologia
aplicada); os fornecedores de dados compilados e normalizados de processos;
sistemas de estatísticas de julgamentos, etc. Alguns mais sofisticados utilizam
algoritmos estatísticos e de “machine learning” para propiciar a elaboração automática
(ou quase) de documentos; para entender o contexto do documento por meio de
processamento de linguagem natural (NLP); para fazer pesquisas inteligentes
sobre doutrinas, jurisprudências, etc., até a utilização de plataformas de
blockchain para registros de documentos.
O
segundo conjunto de atividades diz respeito à gestão no negócio Jurídico, onde
são executadas todas as atividades inerentes a qualquer negócio, ou seja,
controle da eficiência e da qualidade da produção, gestão de talentos (antigamente
RH), controles financeiros, de faturamento e cobrança, marketing institucional
e de vendas, branding, tecnologia, etc.
Neste
grupo, precisamos fazer uma outra distinção, separando as necessidades de
departamentos jurídicos e de escritórios de advocacia, pois parte das
atividades anteriores são completamente diferentes (ou inexistentes) em cada um
dos casos.
O
motivo principal desta discussão é fazer uma analogia
da pirâmide de Maslow sobre a hierarquia das necessidades humanas com aquelas
necessárias à correta gestão de uma empresa prestadora de serviços advocatícios
(“aka” escritório de advocacia) e, também, discutir um pouco sobre a
utilização de inteligência artificial e humana neste processo.
A
pirâmide original de Maslow prevê 5 níveis (caminhando da base para o
topo): Fisiologia, Segurança, Social, Estima e Realizações Pessoais.
Nas
empresas, a fisiologia são os dados e informações, pois sem eles ou com eles
imprecisos, todas as outras atividades ficam prejudicadas ou inviáveis. Imagine
uma decisão operacional ou estratégica baseada somente no “achismo” de algum
gestor! Gosto de citar sempre a frase de W.Edwards Demming: “Sem informação,
você é apenas mais um com uma opinião”.
O
nível da segurança na pirâmide original, relativizo com a tecnologia, pois é
nesse nível que a fisiologia acontece no indivíduo e o tratamento dos dados e
informações na empresa. Todas as tecnologias disponíveis para tratar números e
palavras (textos) criam um arcabouço que irá sustentar os níveis superiores,
processando as informações e dados e gerando os relatórios gerenciais (chamados
atualmente de dashboards).
O
terceiro nível, chamado social na pirâmide original é equivalente à operação na
piramide empresarial, pois por meio da operação as empresas se relacionam com
os clientes, com seus colaboradores, seus parceiros e fornecedores e se
posicionam no mercado.
O
quarto e penúltimo nível refere-se à estima no indivíduo ou autoconhecimento e
é exatamente igual a uma empresa, onde por meio dos três níveis inferiores acumula
e gerencia o seu maior bem, o seu conhecimento (principalmente nas empresas que
vendem serviços intelectuais onde escritórios de advocacia de encaixam
perfeitamente)!
O
último nível no individuo é a realização e novamente é perfeitamente comparável
com uma empresa, ou seja, com os quatro níveis inferiores, a empresa tem
condições de exercer uma governança eficiente e traçar suas estratégias para
atingir seus
objetivos!
O
último ponto que quero abordar diz respeito a como são utilizadas as duas
inteligências (a artificial e a humana) em todas essas camadas da pirâmide de
uma empresa jurídica. Como já vimos anteriormente, a utilização da IA tem sido
extremamente disseminada na gestão da operação jurídica e não seria diferente
na gestão do negócio.
Na
minha opinião, à medida que evoluímos na pirâmide, aspectos como
interpretações, considerações subjetivas e analises multidirecionais ou
multidisciplinares vão se tornando mais relevantes e importantes. Para esses
casos, ainda (sabe lá Deus até quando) a inteligência humana se sai melhor, ao
passo que nos níveis mais baixos, o processamento de milhares ou milhões de informações
em curtos espaços de tempos se mostram muito mais eficientes com o emprego da
inteligência artificial.
José Paulo Graciotti -
consultor, autor do livro “Governança
Estratégica para escritórios de Advocacia”, sócio da GRACIOTTI
Assessoria Empresarial, membro da ILTA– International Legal Technology
Association e da ALA – Association of Legal Administrators. Há mais de 28 anos
implanta e gerencia escritórios de advocacia - www.graciotti.com.br
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