Na visão budista o namoro ou
casamento devem ser vistos como oportunidades de compartilhar e crescer como
ser humano
Temos muito a dizer sobre amor e
relacionamentos nos tempos atuais. Com tantas prioridades no mundo moderno como
carreira, viagens, estudo, festas, amigos, independência financeira, parece até
que o amor anda ficando um pouquinho de lado. Muitos dizem que viver um amor é
o último objetivo dentre tantos outros a realizar.
Algumas pessoas até se auto intitulam como
solteiros e solitários convictos e felizes, que não precisam mais do outro para
se satisfazerem, que não querem se apegar a ninguém. Mas será mesmo que o amor
é isso, ter que se apegar a alguém?
"Nos pegamos descrentes por
amargarmos algumas decepções, consequências de um amor romântico que não deu
certo. E isso pode ser mais comum do que imaginamos, já que amores românticos
geram expectativas, nos dão aquele medo de perder a outra pessoa, criam apego e
mais tarde algumas desilusões e tristezas", explica o Monge Mauricio
Hondaku, da Ordem Shinshu Otani - Higashi Honganji.
No amor romântico a tendência é
enxergar o outro como posse, como nossa propriedade, numa clara concepção
egoísta. E lá na frente isso tende a levar à frustração, rompimentos e até
traições.
O budismo pode
explicar o amor de uma forma que você talvez nunca tenha pensado: A verdade disso tudo é que o amor
romântico na visão budista não é amor. Pode até chocar alguns românticos
apaixonados, mas o fato é que amor romântico, desses que conhecemos bem,
nada mais é do que uma grande paixão. O amor, sendo um sentimento tão
nobre e dito altruísta, jamais poderia levar ao sofrimento e à angustia. Teria
sempre que nos levar à liberdade e êxtase.
"Buda não costumava falar de
'tipos' de amor. Ele sempre se referia ao amor associado à amor-compaixão, um
amor genuíno, livre de apego, que leva em consideração o bem-estar e a
felicidade do outro como sendo mais importantes que a sua própria. Um amor
muito difícil de se encontrar e de se sentir, mas não impossível", diz
Hondaku.
Interessante entender como pode-se
trazer o amor genuíno para dentro de um relacionamento no campo afetivo-sexual. Essa
oportunidade do namoro ou casamento deve ser vista como uma oportunidade de
compartilhar e crescer como ser humano.
Para o monge, o primeiro passo para que
a relação dê certo é não investir. "Sim, investir nos remete às
recompensas, retorno, esperar em troca e o amor genuíno não é uma empresa, não
é um escambo. Amor genuíno é parar e olhar para o outro, prestar atenção
em você e no outro, entender o que o outro sente e porquê sente",
complementa ele.
Nos relacionamentos, as pessoas
costumam projetar o que desejam no outro, o que querem da relação. E como as
pessoas estão continuamente mudando, é natural que se sintam frustradas se o
outro não agir como o esperado, como elas idealizaram.
"Buda dizia que tudo é mutável,
tudo se transforma, logo relacionamentos também, não há como escapar desse
ciclo infindável"
Com o tempo, as pessoas envolvidas num
relacionamento podem descobrir interesses que divergem. Por isso é importante
que se adaptem às mudanças do outro. E se conseguirem se adaptar e ainda assim
sentirem que vale a pena caminhar junto é sinal de que está tudo certo.
Numa união, a relação de confiança e
doação deve ser uma conquista diária. Saber se comunicar e ter o coração
transparente é o que mantém duas pessoas dentro de um relacionamento. Isso
funciona também para amizades.
"Temos que entender essa mutação
da vida e adaptar nossos relacionamentos. E para isso funcionar precisa ter
diálogo franco e entendimentos das ações", finaliza Hondaku.
Portanto nessa semana e em todas as
outras de sua vida, o melhor caminho para a felicidade é abdicar do egoísmo e
deixar fluir um amor com compaixão, sem mentiras e sem cobranças.
Fonte: Mauricio
Hondaku - um monge totalmente fora dos
estereótipos. Executivo da área de vendas e palestrante motivacional. Adora
rock'n'roll, tatuagens, bike de estrada e um bom papo com amigos. Segue a
filosofia budista há 32 anos e tornou-se Monge há seis. Pertence à Ordem Shinshu
Otani - Higashi Honganji. Apaixonado pela cultura oriental e artes marciais
desde a infância. Dá uma perspectiva moderna e simples aos ensinamentos
budistas, sem perder a tradição. Primeiro monge brasileiro convidado a fazer
uma série de artigos para a Revista Tricycle, principal revista budista do
mundo.
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