Muitos pais já devem ter passado por aquela situação em que o
filho não quer sair da cama cedo para ir à escola. A criança se frustra e os
problemas, já começam por aí: Ela faz birra, se faz de surda, de rebelde, faz
corpo mole, põe em prática a “operação tartaruga”, etc., tudo para não
levantar. Inúmeras outras circunstâncias como, por exemplo, jogar videogame até
tarde, comer doce antes do almoço, adolescente que quer ir à balada ou que quer
comprar uma roupa e não tem dinheiro, se repetem no cotidiano das famílias. E o
que fazer? Como o pai pode ensinar a o filho lidar com essas pequenas
frustrações do dia a dia e da vida?
Para Karin Kenzler, psicóloga do Colégio Humboldt,
instituição bilíngue e multicultural (português/alemão), localizada em Interlagos, não é recomendável evitar que os filhos sofram decepções na vida, mas
sim, ensiná-los a lidar com a frustração. “O ideal é aprender a postergar a realização
do desejo e até mesmo, quando não é possível realizá-lo, viver bem apesar desta
frustração. Nós adultos sabemos como é difícil acordar cedo, mas postergamos
esse desejo para aproveitar o fim de semana, quando podemos acordar mais tarde.
Dá para ser feliz com as obrigações, compromissos e limitações que temos e
precisamos ensinar isso, desde cedo, para as crianças”, diz.
Karin explica que é importante que os pais sigam três passos
em situações como essas:
1) Precisamos mostrar como nós
lidamos com a frustração e para tanto, precisamos nos solidarizar com o desejo
da criança. Em outras palavras, vamos empatizar, concordar com sua vontade.
Ex: “Concordo que é difícil sair da
cama cedo para ir à escola. Também estou com vontade de dormir mais um pouco.”
2) Em segundo lugar vamos colocar
algumas preocupações que nos vem à mente em relação à realização desse desejo,
como obstáculos e limites indesejados. Importante até aqui é não polarizar com
a criança. Ela precisa se identificar com você e se sentir compreendida.
Ex: “Mas se eu fizer isso posso levar
uma advertência do meu chefe; e você perderia a brincadeira com os colegas que
estarão te esperando...”
3) Em terceiro lugar vamos começar a
pensar em saídas, soluções. É preciso fazer com que a criança também comece a
pensar para além do desejo dela, buscando alternativas. Perguntar a ela o que
podem fazer diante dos fatos dados, é uma boa estratégia. Se ela não conseguir
pensar em nada, faça sugestões. Importante é que ela acompanhe o processo e não
apenas o resultado final.
Ex: Daqui a dois dias é sábado. O que
acha de irmos hoje e combinarmos de dormir até tarde no sábado e tomar café na
cama?
Quando não há uma solução
satisfatória, mostrar resignação diante do limite, mostrando que podemos aguentar
e seguir em frente.
Ex: O pior é que esta semana teremos
compromisso todas as manhãs. Teremos que ser muito guerreiras pra aguentar e
vencer essa semana. Que tal comemorarmos quando acabar com um jantar,
passeio...?”
A psicóloga explica que o principal legado que os pais podem
deixar para os filhos, é fazer com que a criança aprenda a enxergar os prós e
contras da situação e ajudá-las na tomada de decisão. “Os parâmetros de uma
criança são os pais. Eles não devem ser permissivos ou autoritários em excesso,
pois são atitudes prejudiciais”. Ela pondera que a criança que se frustra
demasiadamente poderá vir a ser um adulto deprimido ou submisso e cheio de
medos. Por outro lado, a falta de decepções é perigosa para a vida adulta.
“Limites são frustrações e crianças criadas sem limites tornam-se mimadas,
inseguras, confusas e com intolerância à frustração, podendo tornar-se adultos
que desistem diante do primeiro obstáculo ou que não tem resiliência”, pondera
Karin. Muitas vezes, os pais têm dificuldade em dar limites e a lidar com as
frustrações dos filhos, mas devem superar esse receio e fazê-lo com
tranquilidade. “Se der uma vida muito paradisíaca ao filho, ele vai ter
dificuldade quando não estiver sob custódia dos pais onde terá que enfrentar
situações financeiras difíceis, fazer tarefas chatas, lidar com colegas de
trabalho de que não gosta...”.
Para que os filhos saibam superar essa frustração, Karin
explica que é preciso que eles entendam que vai ficar tudo bem, mas que não vai
ser do jeito que eles querem. “A criança não pode pensar que nunca terá alguma
insatisfação, pois desapontamentos fazem parte da vida. Ela deve desenvolver
uma postura de aceitação e tolerância diante das dificuldades, pois a vida está
longe de ser perfeita. Tolerar frustração é lidar bem com a vida. Quem sabe
lidar com frustração, tem mais chances de ser uma pessoa feliz”.
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