Daria meu reino (se o tivesse) para não escrever estas
linhas.
O crime organizado, segundo a ONU, fatura entre 3 e 4
trilhões, dos quais o narcotráfico 1 trilhão. Impossível, sem conexão com o
sistema bancário.
As repugnantes condições carcerárias do Brasil fomentam a
formação de organizações dentro dos próprios presídios. O preso se organiza
para sobreviver. O governador Geraldo Alckmin diz que o PCC não existe.
"Há coisas que se dizem, outras que não", dizem governantes, mas
negar o óbvio é intolerável.
Crime introduzido nas instituições públicas, na
democracia, na economia formal. Criminosos podem ser organizar politicamente.
"O crime organizado começa nas favelas e termina em Wall Street", diz
o jornalista e escritor Carlos Amorim.
O Presidente do Panamá, Manuel Oriega, sócio de Pablo
Escobar, só foi retirado à força pelos Estados Unidos. A máfia nigeriana,
conexão entre as Américas, a Europa e o Oriente, é o grupo que mais cresce no
mundo. Vai maconha, cocaína e crack; vem heroína, ópio e morfina. A Nigéria
tinha um setor do aeroporto exclusivo para esse "comércio",
protegido por forças militares.
A face oculta do crime organizado é de cidadãos que vivem
no campo da legalidade. O MPF acusa advogados e desembargadores de Boa Vista,
onde acabam de se acrescentar ignomínias como as de Manaus, de conceder prisões
domiciliares e libertar presos pelo preço médio de R$ 200.000,00.
Recentemente
o Gaeco, em São Paulo, prendeu 32 advogados, um deles o Presidente do
Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana da Secretaria da
Justiça. Não seria eu a negar o princípio da presunção de inocência e o do
devido processo legal processual, ampla e prévia defesa. Nem lhes serão
subtraídos pela Justiça Paulista, mas o fenômeno deve ser observado.
Depois dos mexicanos, os brasileiros são os maiores
consumidores de cocaína do mundo. E o primeiro do abominável crack, de
consequências devastadoras e irreversíveis.
O crime organizado tem leis próprias e implacáveis,
dentro e fora dos presídios. São estados de delinquentes a desafiar o Estado
Político e nele infiltrado.
Um traficantezinho de bairro, diz o citado jornalista,
movimenta 1 milhão por semana. Multiplicam-se e conectam-se pelo mundo.
PCC e PV se uniram, executaram Jorge Rafat Toumani,
chefão paraguaio na fronteira Ponta Porã- Pedro João Caballero, nomearam outro,
desentenderam-se e se iniciaram os conflitos nos presídios do Norte e do
Centro-Oeste. Para entender um pouco de Manaus e Boa Vista. Por ora...
Em suma, humanizar presídios é fácil, ante o combate, que
parece missão impossível, ao crime organizado.
Na outra banda deste mundo cinzento, a política. Nada
absorveram os povos das lições das duas grandes guerras mundiais. O mundo
descamba, com um presidente americano que repudia as alianças, exorta as
xenofobias, o protecionismo e admira os déspotas (Martin Wolf, "Financial
Times"). Democracia "não liberal" (sic) no leste europeu, o
Brexit e não improvável vitória de Marine Le Pen na França. O policial
Putin e sua política expansionista e a China, que não perde oportunidades,
elegendo Xi Jing Ping não como "primus inter pares", mas como o
"grande comandante" do mundo...
A imigração forçada de orientais à Europa e tida como
concorrência desleal aos nacionais, principalmente em relação à mão-de-obra não
qualificada; se todas as guerras foram determinadas por propósitos de
conquistas de mercados, a próxima será por mercados de trabalho. Só
permanecerão incólumes - e crescerão - os antes inimagináveis mercados do crime.
Amadeu Roberto
Garrido de Paula - Advogado e membro da Academia
Latino-Americana de Ciências Humanas.
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