O recente
atentado terrorista ao jornal satírico francês Charlie Hebdo matou 12 pessoas e
desencadeou uma onda de protestos na Europa e de apoio aos jornalistas mortos.
A frase ‘Eu sou Charlie’ apareceu como defesa da liberdade de expressão. Por
outro lado, há outro movimento que diz: ‘Eu não sou Charlie’ e defende outras
ideias, como os limites da liberdade de expressão, a luta contra a
“islamofobia” e, principalmente, o RESPEITO às diferenças religiosas.
Evidente que
não sou a favor dos terroristas e de seus métodos, condeno a barbárie no
jornal, mas “Eu não sou Charlie” e
explico meus motivos. Em primeiro lugar, precisamos entender que na França
existem mais de 6 milhões de muçulmanos, a maioria vítimas de preconceitos,
excluídos e considerados cidadãos de segunda classe. Esses cidadãos seguem a
doutrina do Islã, que é de paz, e não são terroristas ou ligados a movimentos radicais
que procuram resolver tudo pela força.
Por outro
lado, a religião islâmica diz que seu profeta Maomé é uma figura sagrada e não
pode ser ridicularizado. Ofender ao seu Profeta é ofender a todos os
muçulmanos. O argumento de que o jornal fazia charges com a Igreja Católica sem
maiores conseqüências é infantil e parece querer transmitir uma superioridade
ocidental.
O fundador
do partido Frente Nacional, Jean-Marie Le Pen, declarou que ‘Não é Charlie’.
Ele disse estar triste pela morte dos jornalistas, mas que isso não irá
justificar a ideologia do jornal, a seu ver, anarquista e contrária à moral.
Uma mobilização em massa a favor do slogan ‘Eu sou Charlie’, na verdade, pode
aumentar os preconceitos contra o Islã.
Quando um
humorista faz uma piada racista está endossando o racismo de quem dá risadas,
disfarçado de senso de humor. O humor do jornal de certa forma é racista e
aumenta o preconceito e o ódio contra a religião islâmica. As pessoas passam a
ver os muçulmanos como terroristas e fanáticos que devem ser banidos da França.
A liberdade de expressão é sagrada, mas também é sagrada a liberdade de pensar,
de ter determinada fé, de crença, de viver desta ou daquela maneira e assim por
diante.
As charges
polêmicas do Charlie Hebdo mostram uma intolerância e falta de respeito com a
cultura alheia. Isso não é motivo para matarem seus jornalistas e ninguém em sã
consciência apoia os terroristas, mas devemos separar bem os terroristas de
quem não é.
O policial
assassinado na frente do jornal, Ahmed, era muçulmano. Lamento todas essas
mortes, mas acho que esse atentado poderia ter sido evitado. Quando se diz que
determinados discursos fomentam o ódio e o racismo e devem ser evitados é uma
censura?
Freud dizia
que há uma relação inversa entre o riso e o desenvolvimento do afeto. Em outras
palavras, se você consegue se colocar na posição da pessoa que está sendo
ofendida, não vai rir da charge ofensiva. Longe disso dizer que charges não
devam ser feitas ou justificar o assassinato de pessoas, mas sim procurar entender
tudo que está por trás dessa questão.
Temos que
nos unir sim, contra o terrorismo, contra os preconceitos, contra o racismo,
contra a intolerância e contra a falta de respeito, venha de onde vier. O lema
da França de ‘Liberdade, Igualdade e Fraternidade’ torna-se mais fácil de ser
praticado com RESPEITO. Por tudo isso, ‘Eu não sou Charlie’.
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