Efeitos
terapêuticos da substância são objeto de estudo no Instituto D’Or de Pesquisa e
Ensino
A Agência Nacional
de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu nesta quarta-feira (14) retirar o
canabidiol da lista de substâncias de uso proscrito. Essa nova visão sobre a
substância encontrada em plantas do gênero Cannabis, como cânhamo e maconha, é
uma tendência mundial, já adotada por países da Europa e Estados Unidos. A
decisão abre caminho para a comercialização de medicamentos com a substância no
país.
Para Fabrício
Pamplona, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino (IDOR) e que há
mais de 10 anos desenvolve pesquisas sobre os efeitos terapêuticos dos
canabinóides, a autorização da Anvisa pode vir a beneficiar milhares de
pacientes de doenças neurológicas, como a epilepsia, que ainda não têm acesso a
esse tratamento.
A autorização atual
é restrita à epilepsia refratária infantil, mas a tendência é que seja
expandida, incluindo outras aplicações terapêuticas em que o canabidiol é útil.
"Apesar de conhecido há bastante tempo entre os pesquisadores da área,
esta molécula ainda é muito nova para a classe médica, e é normal que haja desconfiança
no início, por se tratar de um derivado da Cannabis, ainda que não
psicotrópico", conta Pamplona.
O canabidiol é uma
substância química encontrada no cânhamo e na maconha e que, diferentemente do
canabinóide mais conhecido, o THC, não é considerado psicotrópico, ou seja, não
causa dependência. O canabidiol possui mecanismos muito particulares, agindo
como um antioxidante bastante potente, aumentando os níveis dos canabinóides
endógenos e ativando receptores de serotonina, entre outros.
“Sabemos que o
canabidiol age de forma muito própria no organismo humano e claramente reduz a
frequência e a intensidade das crises convulsivas. O principal interesse atual
é nos indivíduos que são refratários aos outros tratamentos conhecidos, como
por exemplo, crianças com síndrome de Dravet. No entanto, a maneira como ele
age no cérebro dos pacientes ainda é objeto de estudo”, explica Pamplona, que
juntamente com a equipe do dr. Stevens Rehen e apoio clínico do dr. Eduardo
Faveret, está em busca desta e outras respostas sobre a substância.
A abordagem
utilizada no estudo da equipe envolve a geração em laboratório de neurônios
humanos contendo o mesmo material genético dos pacientes analisados, envolvendo
uma técnica de reprogramação celular. Com este material em mãos, os
pesquisadores analisam o que os neurônios destes pacientes têm de diferente, e
o que os leva a responder tão bem ao canabidiol. “Este é um passo inicial
importante na busca de tratamentos otimizados e personalizados, que serão o
futuro da medicina”, analisa Pamplona.
O que a Anvisa
autoriza
A partir da decisão
da Anvisa, os médicos ficam autorizados a prescrever o uso do canabidiol, a
pacientes de epilepsia ou que sofram de convulsões, e que não tiveram melhoras
no quadro clínico após passar por tratamentos convencionais.
Segundo a entidade,
os médicos autorizados a prescrever a substância deverão ser previamente
cadastrados em uma plataforma online. Já os pacientes serão acompanhados por
meio de relatórios frequentes feitos pelos profissionais. Pacientes ou
responsáveis legais deverão ser informados sobre os riscos e benefícios do uso
do canabidiol e, então, assinar o termo de consentimento.
De acordo com a
Anvisa, o órgão recebeu até esta terça-feira 374 pedidos de importação da
substância para uso pessoal, por meio do pedido excepcional de importação de
medicamentos de controle especial e sem registro no Brasil.
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