Segundo o médico
endocrinologista, Rodrigo Bomeny, quanto mais racional for o processo de
emagrecimento, mais fácil será para a pessoa tomar decisões conscientes e
livrar-se de autojulgamento e preconceitos
Para pessoas obesas e com sobrepeso que começam a
adotar estratégias voltadas ao emagrecimento é de suma importância entender
qual a natureza dos sinais de fome e saciedade emitidos pelo corpo humano. Explicações
relacionadas ao tema fazem parte do Você+, método de acompanhamento
multidisciplinar desenvolvido pelo médico endocrinologista, especialista em
emagrecimento, Rodrigo Bomeny que foca no desenvolvimento de 5 Níveis
considerados essenciais para a mudança do estilo de vida e emagrecimento.
Segundo Bomeny, de posse de conhecimentos relativos
ao funcionamento dos mecanismos que envolvem a fome e a saciedade, a pessoa
compreende melhor o que e como deve comer para que seu organismo funcione de
maneira mais eficiente visando à perda de gordura. “Quanto mais racional se
tornar o processo de emagrecimento, mais fácil será para o paciente tomar
decisões conscientes e livrar-se de autojulgamento e preconceitos relacionados
a si mesmo”, afirma.
Fome e saciedade são dois sinais enviados pelo
corpo humano que alertam a respeito de uma necessidade fisiológica. No caso da
fome, diz que está faltando nutrientes e energia ao organismo. Em relação à
saciedade, sinaliza que o estoque está cheio e que é preciso gastar essa
energia. Contudo, de acordo com o médico endocrinologista, nem sempre é fácil
reconhecer ambos os sinais. Em primeiro lugar, porque ao longo da vida,
principalmente na infância, devido a hábitos culturais, (horário de refeições,
ideia de que é preciso comer todo o alimento que está no prato etc.) para-se de
prestar atenção neles.
Deve-se levar em conta que o ser humano também se
alimenta por outras razões que a meramente fisiológica. Questões culturais,
emocionais e comportamentais influenciam nesse sentido e muitas vezes podem ser
confundidas com fome por falta de nutrientes. Conforme Bomeny, dificulta ainda
a melhor percepção da fome e saciedade o fato de as pessoas obesas apresentarem
uma desregulação dos hormônios responsáveis pela emissão dos dois sinais. “Isso
faz com que elas tenham muita fome mesmo com excesso de energia armazenada”,
explica.
Hormônios sinalizam ao
hipotálamo
Dito isso, o médico endocrinologista explica que o
controle da fome e da saciedade ocorre em uma região chamada hipotálamo, que
fica localizada no sistema nervoso central. “Os hormônios produzidos em
diversas partes do corpo – estômago, intestino, tecido adiposo, sangue etc. -
são centralizados no hipotálamo, que informa se devemos aumentar ou diminuir o
apetite”, relata. Segundo o especialista em emagrecimento, dependendo dos
sinais entregues ao hipotálamo, serão acionadas a via anorexigênica, que indica
a saciedade ou a via orexigência, que comunica a fome.
Entre os hormônios acionados pelo alimento ou por
sua fala destaque para a leptina, fabricada no tecido adiposo, a substância
química aumenta quando o corpo está alimentado, ou seja, é um indicador de
saciedade. Bomeny explica que o hormônio auxilia na regulação do estoque de
gordura, avisando ao hipotálamo que o corpo já tem energia suficiente,
promovendo assim a diminuição da fome e que o aumento do gasto energético
aumente. O problema é que pessoas com muito excesso de peso às vezes sofrem de
resistência à leptina, fazendo com que o hormônio responsável pela saciedade não
funcione devidamente. Dessa forma, mesmo com muita energia, isto é, com a
leptina aumentada, a pessoa obesa continua sentindo fome.
Outro hormônio relevante e que está relacionado à
saciedade é a insulina. Produzida no pâncreas, ela informa ao sistema nervoso
central da chegada do alimento e funciona como inibidor de apetite. Do mesmo
modo que ocorre com a leptina, obesos costumam apresentar resistência à
insulina, o que prejudica o desempenho hormonal. “Dessa forma, a insulina não
consegue mais avisar ao hipotálamo que chegou o alimento e um ciclo vicioso se
instala: fome constante; maior consumo de alimentos; ganho de peso; aumento da
resistência à insulina; fome constante etc.”, explica Bomeny.
Por sua vez, a grelina é um sinalizador gástrico de
fome. De acordo com o médico endocrinologista, o hormônio é produzido quando o
estômago está vazio, comunicando a ausência de comida e o aumento do apetite.
“Com a ingestão do alimento e a distensão gástrica, a grelina passa a ser
produzida em menor quantidade no organismo”, diz.
Fabricada no intestino, o GLP-1 sinaliza saciedade,
isto é, os índices desse hormônio se elevam no organismo em período pós
alimentar. Por contribuir com que o alimento fique mais tempo no estômago, a
substância química atua com a grelina, diminuindo sua produção e
consequentemente a fome. Obesos e diabéticos também apresentam problemas com a
produção de GLP-1. Os níveis desse hormônio são mais baixos do que em pessoas
magras. “Ou seja, existe uma série de alterações bioquímicas que fazem
com que obesos tenham mais fome e se sintam menos saciados do que pessoas sem
esta condição, mostrando que emagrecer não é uma mera questão de força de
vontade”, destaca o médico endocrinologista.
Valorizar mais a qualidade da
alimentação
Para Bomeny, o complexo sistema de controle de fome
e saciedade, realizado por diversos hormônios no organismo, mostra que se deve
valorizar mais a qualidade do que a quantidade dos alimentos ingeridos em uma
estratégia alimentar de emagrecimento. “Tentar forçar um déficit calórico sem
levar em consideração a qualidade da alimentação pode dar certo no começo, mas
não em longo prazo”, explica. Conforme o especialista em emagrecimento, a rede
de mecanismos bioquímicos invariavelmente entrará em ação, aumentará a fome e
diminuirá a saciedade, fazendo com que a pessoa volte a comer em maior
quantidade.
A melhor maneira de fazer seu corpo e seu objetivo
(emagrecimento) trabalharem harmoniosamente é, segundo Bomeny, focar na
qualidade do que é ingerido. O médico endocrinologista explica que dessa forma
o corpo emagrece por conta da atuação dos hormônios, que estimulados pelos
alimentos certos do ponto de vista nutritivo e não pela privação de calorias
comunicam ao hipotálamo e este por sua vez ao corpo à saciedade e à fome. “Assim,
a probabilidade de a pessoa conseguir manter a perda de peso de forma duradoura
é maior”, afirma.
A qualidade da alimentação – que interfere no
funcionamento dos hormônios e consequentemente na fome e saciedade - está
intrinsecamente relacionada aos macronutrientes que devem ser ingeridos.
Carboidratos, por exemplo, aumentam a saciedade agudamente nas primeiras três
horas a partir de sua ingestão, mas passado este período a fome volta com
força. Já gordura e proteína geram também uma saciedade intensa, mas que
perdura por mais tempo. “No que diz respeito à intensidade e duração, a
proteína é ainda mais importante do que a gordura”, enfatiza Bomeny.
Nesse sentido, para ajustar a saciedade e a fome
por meio da qualidade dos alimentos ingeridos, o médico endocrinologista sugere
algumas dicas, como priorizar o consumo de proteínas. “Só depois de atingir seu
alvo proteico passe para os vegetais com baixo amido, que, apesar de serem
pobres do ponto de vista energético, possuem fibras que contribuem para a saciedade
e são muito nutritivos”, explica. Outra sugestão interessante é comer devagar,
para dar tempo de os sinais hormonais chegarem ao hipotálamo e este indicar a
saciedade ao corpo.
O especialista em emagrecimento enfatiza que o ser
humano não se alimenta apenas porque está com falta de nutrientes. O prazer
está envolvido no ritual de comer. E nesse quesito os alimentos mais
recompensadores são os ultraprocessados, que apresentam grandes quantidades de
gordura e carboidratos. De acordo com Bomeny, quando se está satisfeito
nutricionalmente – ao priorizar proteínas e vegetais de baixo amido – fica
muito mais fácil comer moderadamente os alimentos apetitosos. “A pessoa tem
muito mais chances de ingerir uma menor quantidade de sobremesa, um soverte,
por exemplo, quando a vontade é seu único guia e não também a fome”, diz.
Rodrigo Bomeny - Especialista em
emagrecimento, Rodrigo Bomeny é graduado em Medicina pela Universidade de São
Paulo (USP), com residência em clínica médica e em endocrinologia e metabologia
pela mesma instituição de ensino.