Médico da Rede Mater Dei chama a atenção para uso
excessivo de suplemento, fitoterápicos e anabolizantes
Com a proximidade do Dia Mundial do Rim, celebrado este ano
em 14 de março, a atenção volta-se para a crescente preocupação com as doenças
renais em todo o mundo. Segundo estimativas da Organização Internacional World
Kidney Day, cerca de 10% da população global, o equivalente a 850 milhões de
pessoas, enfrenta algum tipo de doença renal crônica, uma condição que pode ser
fatal, se não for tratada adequadamente.
No Brasil, os números não são menos preocupantes. De acordo
com dados recentes da Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), mais de 140 mil
pacientes estão em estágio avançado de doença renal crônica, submetendo-se a
tratamentos, como a diálise, para sobreviver. O transplante de rim, que
representa cerca de 70% do total de transplantes de órgãos realizados no país,
é uma esperança para muitos desses pacientes. O Brasil ocupa uma posição de
destaque global nesse aspecto, sendo o terceiro maior transplantador de rim do
mundo, com 4.828 procedimentos registrados apenas em 2021.
No entanto, apesar dos avanços na área, ainda há desafios
significativos a serem enfrentados. Estima-se que cerca de 50 mil pessoas no
Brasil morrem prematuramente, a cada ano, devido à falta de acesso à diálise ou
ao transplante de rim.
Frente a esse contexto, a Sociedade Brasileira de Nefrologia
(SBN) coordena anualmente, no país, a Campanha do Dia Mundial do Rim, que tem
como objetivo disseminar informações vitais sobre as doenças renais, destacando
a importância da prevenção, do diagnóstico precoce e do tratamento
adequado.
De acordo com o nefrologista Victor Jordão, do Hospital
Mater Dei Santa Genoveva, em Uberlândia, os rins são órgãos chamados de “vitais”
no nosso corpo. Eles são responsáveis pelo controle de líquido (o que fica, se
está faltando, ou o que sai de água, se em excesso), de toxinas e sais, que
devem manter equilíbrio no organismo, da acidez do sangue, da produção de
células do sangue pela medula óssea e da pressão arterial. Sua disfunção ou
perda de seu equilíbrio podem ter consequências sérias.
“Muitas vezes essas consequências vêm por doenças
relacionadas ao uso de medicações necessárias, porém tóxicas para os rins, mas
é cada vez mais comum vermos uso abusivo de fitoterápicos, vitaminas,
oligoelementos, anabolizantes e alguns suplementos”, alerta o médico.
Victor considera que, atualmente, estamos vivendo uma fase
de acesso à informação e a produtos muito fácil, o que é excelente. Entretanto,
nem tudo que está na internet e é difundido nela é benéfico ou o correto para
aquela pessoa ou situação. “A automedicação pode levar a superdosagens de
substâncias no organismo que, mesmo que já presentes ou até produzidas por
nosso corpo, tornam-se prejudiciais em doses elevadas. Isso vale também para
anabolizantes, que tem um efeito rápido na estética, mas uma conta cara a ser
paga com efeitos colaterais, até irreversíveis, e risco de morte”, explica o
médico.
“Reforço que suplementos são para preencher carências da
nossa alimentação, que deve ser adequada para nossos objetivos e para nossa
saúde, e que nem sempre algo que é natural, ou até mesmo presente no nosso
corpo, é melhor em mais quantidades. Os níveis devem ser adequados para uma
saúde plena, junto a outros fatores, como bons hábitos de alimentação,
exercício físico, sono e redução do stress”, diz Victor.
De acordo com Victor, os atendimentos a pacientes que tenham feito uso excessivo e acabaram
comprometendo os rins têm aumentado em seu consultório: “esse tipo de consulta
é cada vez mais frequente. Os campeões são, com certeza, o uso indiscriminado
de anabolizantes ou, até mesmo, de ‘reposição hormonal de testosterona’, mesmo
que acompanhada por médico, mas com muitos efeitos. Outro muito comum é o uso
indiscriminado de Vitamina D, que é uma vitamina (ou hormônio) de extrema
importância para o corpo, mas que se aplicada através de doses elevadas no
sangue, como alguns estão objetivando, podem levar ao aumento de cálculos
renais ou até lesão renal irreversível por toxicidade direta”, afirma.
Uma análise sobre os padrões de consumo, conduzida pelo
Ministério da Saúde, revelou que em 59% dos domicílios brasileiros, pelo menos
uma pessoa faz uso de algum tipo de suplemento alimentar. Destes, 60% são
homens e 40% são mulheres. “Acredito que isso seja um efeito colateral de
múltiplas coisas que aconteceram ao mesmo tempo, com o avanço da tecnologia.
Desde o acesso rápido e fácil à informação, (que nem sempre é de fonte
confiável ou verdadeira), o culto ao corpo inatingível, vendido em redes
sociais, onde a pessoa, mesmo sem ter noção ou indicação de algo, quer copiar
aquele influenciador específico, para ‘ser igual’, até à facilidade de acesso a
qualquer produto atualmente, com contatos fáceis ou compras diretas online”,
alerta o médico.
Sinais do uso excessivo – estes sintomas dependem muito do que foi usado e das
doses. Victor explica que, se tratando de anabolizantes, pode ocorrer desde o
aumento da pressão arterial, pelo aumento da viscosidade do sangue, até lesões
diretas e tóxicas ao funcionamento dos rins, fígado e estrutura do coração –
sem contar o risco aumentado de infarto, AVC e câncer. “São problemas
irreversíveis e gravíssimos. Mais relacionados aos rins, podemos citar desde o
aumento da incidência de cálculos renais – principalmente relacionados ao abuso
da vitamina D – até o inchaço das pernas e restante do corpo, falta de ar,
falta de apetite e perda do funcionamento dos rins. Estes, relacionados
principalmente a dosagens de vitamina D superiores a 80ng/dL ou uso de
anabolizantes (ou mesmo quando chamados de reposição hormonal
controlada)”.
Exame para todos - O Dia Mundial do Rim tem como foco a saúde desse órgão tão
importante para o funcionamento do corpo. A campanha, que busca disseminar
informações para toda a sociedade, chamará a atenção também para a importância
de todos os brasileiros poderem acessar o exame de creatinina. O ideal, segundo
a SBN, é que toda pessoa, principalmente acima de 30 anos, possa fazer um exame
anual de dosagem desse marcador da função do rim.
A Rede Mater Dei de Saúde tem um serviço completo de
cuidados voltados para pacientes renais crônicos e agudos, realizando diálise
contínua por 72h a pessoas internadas em suas unidades, pacientes externos, e
diálise em trânsito, para pacientes de outras localidades que precisam permanecer
em tratamento durante um determinado período.