Entidade filantrópica Pró-Saúde discute mudanças e desafios da profissão no pós-pandemia
Com a pandemia do novo coronavírus, o
gerenciamento de serviços de saúde se tornou um desafio global. Mais do que
nunca, contar com profissionais altamente capacitados se mostrou essencial para
garantir a assistência para milhões de doentes em todo o mundo.
Na semana em que é celebrado o Dia do Administrador Hospitalar (14/7), a
Pró-Saúde, uma das maiores entidades filantrópicas de gestão hospitalar do
país, ouviu a visão e a expectativa para o futuro da profissão.
Além das características básicas de análise e comunicação, estudos apontam sete
habilidades essenciais para gestores hospitalares, entre elas: conhecimento da
indústria, liderança, pensamento crítico, construção de relacionamento,
julgamento ético, adaptabilidade e pensamento rápido.
É exatamente neste cenário que o administrador hospitalar ganha destaque. A
profissão, criada na década de 60, surgiu da necessidade de formar gestores
qualificados para atuar em uma área tão complexa e dinâmica como a da saúde.
“O setor de saúde está cada vez mais competitivo. Precisamos de gestores que
inspirem a organização a fornecer o melhor atendimento possível, desenvolvam e
aprimorem suas habilidades analíticas, estabeleçam confiança na equipe e,
principalmente, se sintam à vontade para tomar decisões em tempo real”, destaca
o médico Péricles Góes da Cruz, superintendente Técnico da Organização Nacional
de Acreditação (ONA), entidade sem fins lucrativos que avalia a qualidade dos
serviços prestados por unidades de saúde em todo o Brasil.
Para o administrador Rogério Kuntz, diretor Operacional da Pró-Saúde, a
expectativa acerca do gestor de saúde vai muito além do tradicional planejar,
estruturar, organizar, conduzir e controlar. “Diante da complexidade e
dinamismo da saúde, o mercado requer constante atualização em todas as áreas da
gestão, a fim de propiciar uma visão holística do negócio, com foco nos
principais processos e apresentação de soluções”, enfatiza.
Em relação às mudanças impostas pela atual pandemia, Péricles não tem dúvidas
de que o principal aprendizado está na tecnologia da informação e
compartilhamento de dados. “Ainda é cedo, mas o consenso emergente é que os
meios digitais têm um papel importante em uma resposta abrangente a surtos e
pandemias, complementando as medidas convencionais de saúde e, assim,
contribuindo para reduzir o impacto humano e econômico”, declara.
No nível operacional dos serviços de saúde, Kuntz acredita que o legado deste
momento crítico está relacionado, principalmente, com a “qualificação e
desenvolvimento profissional, a pesquisa e o desenvolvimento de protocolos
assistenciais, o planejamento logístico e de suprimentos e, por fim, a adoção
de práticas diversas a prevenção de perdas e manutenção das atividades, como
por exemplo, a adoção do trabalho remoto, fortalecimento das ações de
negociações e, também, a adesão a soluções digitais”, explica.
Ambos destacam uma mudança no mercado de saúde, que converge para a criação de
grandes grupos e incorporações, exigindo uma visão mais abrangente dos
gestores, à medida em que crescem. Péricles ressalta ainda a mudança no perfil
dos pacientes/clientes ao longo dos anos, que passaram a conduzir sua própria
experiência de saúde, pressionando os serviços por um atendimento personalizado
e de alta qualidade.
“Tecnologias inovadoras recebem bastante atenção, mas a experiência do
paciente, a administração médica e as operações de assistência também
evoluíram. Estas tendências de maximização do mercado certamente terão um
grande impacto nos sistemas de saúde nos próximos anos e a constante
atualização de conhecimento é que permitirá aos gestores hospitalares a bagagem
de conhecimento necessária para tais mudanças”, destaca o superintendente da
ONA.
Futuro da gestão hospitalar
As expectativas em relação aos profissionais de gestão hospitalar vão muito
além do currículo básico dos cursos disponíveis. Habilidades multifuncionais,
como liderança, integração e comunicação estão se tornando cada vez mais
importantes.
Asimar Cardoso, presidente do Conselho Fiscal da Federação Brasileira de
Administradores Hospitalares (FBAH), destaca um elemento inerente ao gestor de
saúde. “Trabalhamos com um serviço que, essencialmente, envolve pessoas.
Geralmente, a origem e a solução dos problemas críticos da área de saúde estão
relacionados às pessoas. Então, saber compreendê-las é crucial nas negociações,
gestão de conflitos, implementação de projetos e condução das atividades
rotineiras”, salienta.
Entre as principais tendências para o futuro da área estão a redução de custos,
uso de tecnologia da informação e privacidade de dados, conformidade com as
legislações vigentes e avanços tecnológicos. Essa pluralidade de temas ressalta
o quão complexo e exigente é o grau de formação e habilidades destes
profissionais.
“A contratação de gestores com treinamento e desenvolvimento adequado e
apropriado é o fator fundamental na boa operação de hospitais que tenham o
objetivo de, cada vez mais, prestar assistência a seus pacientes com qualidade
e segurança. Pode-se afirmar que as organizações de saúde procurarão os candidatos
mais habilidosos para garantir decisões seguras”, ressalta Péricles.
Formação de lideranças
No entanto, as dificuldades em encontrar profissionais são inúmeras, como por
exemplo, a mudança de perfil dos candidatos ao longo do tempo, alta rotatividade
do mercado e até mesmo a dificuldade de adaptação ao contexto da saúde.
Diante deste cenário, a Pró-Saúde lançou, neste ano, um programa inédito de
Trainee Executivo, voltado para a formação da alta direção de hospitais. O
projeto visa promover o desenvolvimento do capital humano, com habilidades
alinhadas aos métodos de inteligência em gestão aplicados pela instituição nos
hospitais que administra.
“É um projeto extraordinário em termos de gestão na área da saúde. Dentro da
realidade de um país onde é normal ter que fazer mais com menos, formar pessoas
com um olhar profissional para um segmento tão peculiar quanto a saúde é um
enorme benefício para a sociedade”, comenta Asimar.
“Sem dúvida, o programa da Pró-Saúde levará ao aprimoramento de profissionais
de saúde voltados para a gestão, permitindo aos participantes a ampliação de
seus conhecimentos e objetivando a colocação no mercado de gestores gabaritados
e aptos a desempenhar suas atividades com eficiência e qualidade”, complementa
o superintendente da ONA.
A criação da Pró-Saúde está diretamente ligada à profissionalização da gestão
hospitalar no país, já que seu primeiro presidente, padre Niversindo Antônio
Cherubin, foi pioneiro na criação de cursos de Administração Hospitalar, em
1967. Hoje, com presença em todas as regiões do país, a entidade conta com um
dos maiores quadros de administradores hospitalares do Brasil.