Premiada durante o Congresso Mundial da
Conservação 2016, Maria Tereza é a primeira brasileira a receber a medalha
Maria
Tereza Jorge Pádua ganha destaque pelos esforços feitos em prol da conservação
da fauna e da flora brasileiras em mais de 50 anos de carreira
A
agrônoma Maria Tereza Jorge Pádua recebeu, no dia 6 de setembro, a Medalha
comemorativa John C. Phillips 2016, a mais alta condecoração do Congresso
Mundial da Conservação 2016. Ela é a primeira brasileira e a segunda mulher a
receber o prêmio, que desde 1963 reconhece personalidades que se destacam
internacionalmente pela contribuição excepcional à conservação da natureza. A
primeira mulher premiada foi Indira Gandhi, ex-primeira ministra da Índia, em
1984. A condecoração também celebra a vida e trabalho do cientista da qual leva
o nome, que foi um pioneiro no movimento conservacionista.
Com
atuação decisiva para a criação de diversos parques nacionais e outras unidades
de conservação em todo o Brasil, Maria Tereza já participou no conselho de
importantes organizações mundiais ligadas à conservação da natureza, como a
IUCN, o World Resources Institute (WRI) e World Wide Fund-International.
Atualmente ela é membro do Conselho da Comissão Mundial de Áreas Protegidas
(WCPA) da União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), do
Conselho Curador da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e do
Conselho da Fundação Pró-natureza (Funatura). Também é membro da Rede de
Especialistas em Conservação da Natureza.
A
escolha do premiado é feita por um júri composto por cinco membros do comitê
constituinte da União Internacional para Conservação da Natureza (IUCN, na
sigla em inglês), que organiza, a cada quatro anos, o Congresso Mundial da
Conservação. Em 2016, o evento acontece em Honolulu, no Havaí, durante os dias
1 a 10 de setembro, e reúne os mais importantes representantes e formadores de
políticas ambientais de todo o mundo.
Na
opinião da diretora executiva da Fundação Grupo Boticário Malu Nunes,
Maria Tereza foi uma das protagonistas centrais de uma época única para a
conservação da natureza brasileira. "Com sua contribuição, o Brasil dos
anos 1960 evoluiu de um discreto patamar para chegar à década de 1980 entre os
países mais avançados em termos de áreas protegidas. Foi um crescimento intenso
e consistente, nunca visto antes no nosso país”, comenta a diretora executiva
da Fundação Grupo Boticário, instituição da qual Maria Tereza é membro do Conselho
Curador desde 1990. Para Malu, a contribuição de Maria Tereza para a
conservação da natureza merece ser reconhecida mundialmente e, por isso, a
Fundação Grupo Boticário a indicou para a medalha John C. Phillips da IUCN. “E,
agora, é com imenso orgulho que recebemos a notícia de sua premiação”,
complementa Nunes.
Premiações
Além
da Medalha John C. Phillips, Maria Tereza já recebeu o prêmio Fred Packard, em
2008, um reconhecimento oferecido pela Comissão Mundial de Áreas Protegidas
(WCPA) da IUCN, que reconhece o serviço prestado em prol das áreas protegidas.
Em 1999, o prêmio Henry Ford condecorou sua atuação individual, assim como o
prêmio Jean Paul Getty para a Conservação da Natureza, considerado o Prêmio
Nobel da Ecologia.
Trajetória pioneira
Natural
de São José do Rio Pardo (SP), Maria Tereza Jorge Pádua é a primeira mulher a
ter posição de destaque no setor de conservação e foi pioneira em muitas
atividades que realizou. “Quando comecei a graduação havia apenas duas mulheres
na turma de Agronomia e quatro na Universidade. Fui a primeira mulher a atuar
com parques nacionais na área de conservação da natureza no Instituto
Brasileiro de Desenvolvimento Florestal e isso se repetiu muitas e muitas
vezes, até hoje”, comenta ela.
Sua
trajetória está intimamente ligada à história do Brasil e à luta pela
preservação da flora e da fauna nacionais. Formada em Agronomia com mestrado em
Ecologia e Manejo de Vida Silvestre, ela começou sua carreira no recém-criado
Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (IBDF) em 1968, no qual atuou
por 18 anos e fez história. Quando começou seu trabalho, apenas 0,28% da
extensão do Brasil era protegido, segundo ela. “Quando saí do IBDF, muitos
parques nacionais haviam sido criados. Nós quintuplicamos a área protegida no
país e criamos inclusive a primeira reserva biológica marinha: o Atol das
Rocas”, conta com orgulho.
Além
de vários parques na Amazônia, região onde não havia unidades de conservação no
início da carreira de Maria Tereza, a lista de áreas protegidas criadas por ela
incluem a Chapada Diamantina, Serra Geral, Fernando de Noronha, Serra da
Capivara (a primeira na Caatinga) e o Pico da Neblina. “De certa forma era
fácil escolher as áreas, pois praticamente não havia unidades de conservação no
Brasil”, comenta ela. “A dificuldade estava no apoio da população e dos
políticos. As pessoas não percebiam a importância das áreas verdes, pois o
sinônimo de desenvolvimento para a época era asfalto e concreto”.
Em
1986, com o apoio de outros conservacionistas, ela criou a Fundação
Pró-Natureza (Funatura), a segunda organização não governamental focada em
conservação da natureza do Brasil. Grandes conquistas estão no currículo da
organização, como a criação das primeiras Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPN) no Brasil e a criação do Parque Nacional Grande Sertão Veredas,
primeira área protegida nos Campos Gerais. Em fevereiro de 1989 o IBDF foi
extinto e cedeu lugar ao Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos
Naturais Renováveis (IBAMA). A instituição foi presidida por Maria Tereza Jorge
Pádua em 1992.
Entre
as diversas realizações de Maria Tereza ao longo de sua carreira, destaca-se a
criação de 15 parques nacionais, o apoio em ao menos outros 4 e a implementação
de diversas áreas que conservam a natureza local em mais de 9 milhões de
hectares. O Projeto Tamar, de proteção de tartarugas marinhas, o Projeto
Peixe-boi e o Centro Nacional de Pesquisa para a Conservação das Aves Silvestres
(Cemave) também estão na lista de suas realizações.
No
entanto, para ela, ainda há muito a ser feito. “Meu sonho é que o Brasil
investisse em pesquisas direcionadas ao manejo de fauna. Nós já perdemos o
bonde da história e as listas de animais ameaçados de extinção estão aí para
comprovar isso”, alerta. “Nós já perdemos tanto e vamos esperar mais o que? Já
passou da hora de agir”, afirma Maria Tereza Jorge Pádua.