A transição para a maternidade é considerada um dos grandes
marcos na vida das mulheres e quando é fruto de uma escolha consciente e
planejada, espera-se que seja um processo de felicidade e realização pessoal.
No entanto, os estudos e pesquisas não ratificam completamente estas
expectativas.
Ter filhos certamente contribui para que a vida ganhe mais
sentido. Como eu já defendi em outros artigos e vídeos que publiquei, o sentido
da vida tem um caráter protetivo na saúde mental das pessoas.
Contudo, há vários fatores jogando contra para que as mães, especialmente as
que trabalham, possam vivenciar plenamente a escolha que fizeram para a vida.
A maternidade é uma escolha de estupenda coragem, pois
coloca a mulher diante de todos os seus desafios num período de grande
vulnerabilidade física, emocional e social. Ainda que muitas delas declarem
sentirem-se empoderadas durante a gravidez, segundo a OMS, cerca de 10% das
grávidas em todo o mundo e 13% das mulheres que acabaram de dar à luz sofrem de
algum transtorno mental, principalmente a depressão. Nos países em
desenvolvimento os números são ainda mais altos, alcançando 15,6% durante a
gravidez e 19,8% após o parto. Qualquer mulher pode desenvolver algum
transtorno desencadeado no período da gravidez ou durante o primeiro ano da
maternidade, mas alguns fatores podem contribuir decisivamente para aumentar os
riscos, como exposição à violência (doméstica, sexual e de gênero),
emergências, conflitos, falta de apoio social e do parceiro, estresse extremo e
a autocobrança para ser perfeita, tanto como mãe quanto profissionalmente.
As mulheres, mesmo as mais bem resolvidas, têm esta
autocobrança alimentada pelas normas internalizadas que por séculos vem sendo
prescritas nas sociedades ocidentais, onde a mãe é a principal responsável pelo
cuidado dos filhos e deve colocar os interesses deles na frente dos seus. As
consequências deste processo são: sentimento de culpa, instalação da crença de
não ser eficiente em nada, esgotamento, dificuldade para dormir e
irritabilidade, o que acaba configurando um Burnout. Este
mecanismo de autocobrança que permeia a vida de todos nós, está muito bem
definido no livro “Sociedade do Cansaço” de Byung-Chul Han.
Infelizmente, nos últimos anos ou talvez décadas, este
problema vem se agravando, pois as mulheres acabam sendo penalizadas por suas
conquistas no mercado de trabalho. Aparentemente, as políticas governamentais e
corporativas não acompanharam esta evolução, apesar das licenças para a maternidade,
dos horários de amamentação, das iniciativas de inclusão e diversidade etc., o
peso da responsabilidade da parentalidade ainda é muito maior para as mães.
Fundamentalmente, as mudanças mais importantes neste cenário
virão da educação para uma sociedade mais igualitária e cooperativa, porém, a
condição da mãe que trabalha pode e deve melhorar muito a partir de algumas
ações por parte das empresas:
· CORRESPONSABILIDADE:
Aumentar a licença paternidade e criar mecanismos para que o pai se ausente do
trabalho para apoiar a mãe. Enquanto o governo não aprovar o período de licença
maternidade que pode ser dividido de comum acordo entre os pais, as empresas
podem facilitar a vida dos casais que mantém uma relação igualitária.
· AMAMENTAÇÃO:
Criar espaços de amamentação dentro da empresa ou em local próximo. Aqui também
vale a iniciativa da corresponsabilidade, onde o pai amamenta a criança usando
o leite materno e uma mamadeira.
· HOME
OFFICE: Definir mecanismos de trabalho remoto para um período
mínimo de 6 meses após a licença maternidade.
· PARENTALIDADE:
Fazer campanhas de conscientização sobre a importância da dedicação mais
efetiva por parte do pai, dividindo assim o peso da demanda, mas também o
benefício de cultivar um vínculo mais forte com a criança desde os primeiros
meses.
· PSICOTERAPIA:
Promover e disponibilizar apoio psicológico específico para as grávidas e
durante o primeiro ano após o nascimento.
· WELCOME
BACK: Programa de retorno ao trabalho com o devido acolhimento
e assunção progressiva de responsabilidades.
· AVALIAÇÃO
DE DESEMPENHO: Ao invés de olhar apenas para as entregas e
resultados as empresas podem pensar no que estão ganhando com uma profissional
mais bem preparada. A mãe amadurece muito nesta fase, podendo melhorar
competências como empatia, tomada de decisão, resiliência e outras soft skills fundamentais
para líderes.
Em nosso programa de gestão para criar ambientes
psicologicamente seguros e a integração saudável com ser humano com seu
trabalho, o 4HUMAN, eu enfatizo o protagonismo do ser humano. É fundamental que
cada colaboradora participe do processo e entenda que a empresa está lhe
oferecendo possibilidades, as quais ela deve analisar e recorrer se achar que
faz sentido.
Que o próximo dias das mães nos permita
celebrar a existência daquela que nos trouxe ao mundo e valorizar todas as
pessoas que assumiram a missão da maternidade
Wagner Rodrigues -
psicólogo, pós-graduado em marketing e comunicação empresarial pela ESPM, MBA
com ênfase em gestão de pessoas pela FIA/USP . Por mais de vinte anos ocupou
cargos de alta gestão em grandes empresas. Criador do programa 4HUMAN de saúde
mental nas empresas.