Robson
Ferrigno, médico especialista em radioterapia da BP, esclarece as principais
dúvidas sobre esse importante tratamento oncológico que normalmente gera
insegurança em pacientes
Julho é o mês dedicado à
conscientização do câncer de cabeça e pescoço, que são aquelas neoplasias que
aparecem nas porções de boca, garganta e laringe, principalmente. Uma
importante forma de tratamento de tumores malignos e benignos é a radioterapia,
procedimento utilizado em cerca de 60% dos casos de câncer em pelo menos uma
fase do tratamento para assegurar a curabilidade.
De acordo com o médico
Robson Ferrigno, especialista em radioterapia e coordenador dos serviços de
Radioterapia da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, muitos
pacientes ainda têm dúvidas sobre o procedimento. “Com avanços recentes de
tecnologia, a radioterapia é atualmente um tratamento seguro e, na maioria das
vezes, com pouco ou nenhum efeito colateral”, explica.
O especialista da BP
responde diversas questões sobre essa forma de tratamento que pode salvar a
vida de tantas pessoas. Confira:
1 - Para que serve a radioterapia?
A radioterapia tem como principal objetivo curar uma enfermidade
que esteja presente ou evitar o seu reaparecimento após a quimioterapia ou
cirurgia. Ela também pode ser utilizada para controlar sintomas como
sangramento, dores ou outros causados pela presença de doenças.
2 - Qual a diferença entre radioterapia e quimioterapia?
A quimioterapia é um tratamento que utiliza um determinado
medicamento, aplicado por via venosa ou oral, e que vai agir no corpo inteiro.
A radioterapia é um tratamento localizado, mais parecido com um banho de luz,
em uma determinada região do corpo. Portanto, os efeitos colaterais da
quimioterapia dependem do tipo de droga utilizada e os da radioterapia, da dose
e da região tratada.
3 - Quais os efeitos
colaterais da radioterapia?
Tanto os efeitos benéficos
como os indesejados dependem da dose utilizada e da área do corpo que está
sendo tratada. É possível, em muitas ocasiões, que o paciente não tenha
qualquer efeito colateral durante o tratamento ou apresente apenas uma reação
passageira na pele por onde a radiação atravessou. Como cada efeito colateral
depende de cada caso, é muito importante que o paciente seja orientado pelo
médico quanto a esses efeitos e como tratá-los ou amenizá-los. A radioterapia,
por exemplo, não causa queda de cabelo, a não ser que a região da cabeça seja
tratada e, mesmo assim, vai depender da técnica e da dose utilizada. Com os
avanços tecnológicos obtidos nos últimos anos, a radioterapia se tornou mais
segura e mais efetiva.
4 - A radioterapia é
indicada para todos os tumores de cabeça e pescoço?
Não, depende de cada
situação clínica, no entanto, a radioterapia é parte integrante do tratamento,
na maioria das vezes.
5 - Como é feita a
radioterapia na região de cabeça e pescoço?
Uma vez indicada a
radioterapia o paciente passa pelas seguintes fases do tratamento com
radioterapia:
1- É realizada
uma tomografia na posição de tratamento para realização do planejamento da
entrega de radiação. É nas imagens de tomografia que o especialista em
radioterapia determina onde a radiação deve ser entregue. Isso é realizado por
programas de computador.
2- A tomografia
é realizada após confecção de uma máscara de plástico, com o formato da cabeça
do paciente. Essa máscara visa assegurar que o paciente não mexa a cabeça
durante as sessões de radioterapia.
3- Após o
término do planejamento, o paciente receberá as aplicações de radioterapia por
um aparelho próprio para isso, que variam de 25 a 35 sessões, com intervalo
diário, de segunda a sexta-feira, com duração de 10 a 15 minutos cada sessão.
Para receber essas aplicações, o paciente deita numa mesa plana e a máscara é
colocada para imobilizar a cabeça.
6 - Essas máscaras
imobilizadoras causam fobia?
Na maioria das vezes os
pacientes toleram bem e sem fobia. Essas máscaras possuem furos que permitem
que o paciente enxergue o ambiente. Apesar de apertada, não causa fobia. É
muito raro um paciente não tolerar e necessitar de sedação para realizar o
tratamento.
7 - É possível curar um
câncer de cabeça e pescoço somente com radioterapia?
Sim, particularmente para
os tumores em estágios iniciais como alternativa à cirurgia. O melhor exemplo
são os casos de tumores iniciais da corda vocal que são curados em mais de 90%
das vezes apenas com aplicações de radioterapia, sem a necessidade de cirurgia
mutilante. Tumores iniciais do lábio, da pele da face ou do couro cabeludo e da
cavidade oral são outros exemplos de tumores da região de cabeça e pescoço que
podem ser curados apenas com radioterapia.
8 - A radioterapia pode
ser associada a outro tratamento?
Dependendo da situação
clínica, a radioterapia é utilizada junto com outros tratamentos, como
quimioterapia e cirurgia. Em geral, tumores operados e que estão em estágios
intermediários ou avançados recebem radioterapia após a cirurgia para evitar
recaída da doença no local operado. Já nos casos de tumores localmente
avançados e que não são operáveis, busca-se a cura por meio da associação de
radioterapia e quimioterapia concomitantes. A associação de tratamentos é
decidida em discussões multidisciplinares, ou seja, por médicos de diferentes
especialidades que tratam os cânceres de cabeça e pescoço. As principais
especialidades médicas que tratam esse tipo de câncer incluem a cirurgia, a
radioterapia e a oncologia clínica.
9 - Quais os efeitos
colaterais esperados da radioterapia na região de cabeça e pescoço?
Como em outras partes do
corpo, os efeitos colaterais esperados dependem da dose de radioterapia
empregada e da região do corpo onde as radiações são entregues. No caso da
cabeça e pescoço, o paciente pode ter apenas efeitos leves na pele, no caso de
radioterapia localizada na laringe, como pode ter efeitos colaterais durante as
sessões de radioterapia, tais como, boca seca, diminuição ou perda do paladar,
aftas na mucosa e reação na pele. Vale ressaltar que esses efeitos são
temporários e a maioria regride após término do tratamento.
10 - Quais os cuidados que
os pacientes com câncer de cabeça e pescoço devem ter durante um tratamento com
radioterapia?
Durante o tratamento o paciente é orientado
quanto aos vários cuidados, tais como evitar tomar sol na região que está sendo
tratada para não exacerbar a reação de pele, ser acompanhado por um
profissional de saúde bucal, conhecido como estomatologista, e ser acompanhado
por um nutricionista. O estomatologista faz uma série de procedimentos, como
aplicações de laser na mucosa para prevenção e tratamento da mucosite (aftas),
orientação de higiene bucal, revisão das condições dentárias e aplicação de
flúor nos dentes. Se necessário, realiza extrações de dentes em mau estado de
conservação ou obturações de cáries. O nutricionista acompanha o peso e a
ingesta calórica do paciente uma vez que há alteração da dieta e, em algumas
situações, dificuldade de ingerir alimentos sólidos.
BP
– A Beneficência Portuguesa de São Paulo