O aumento em 20 anos
está acima da média global. Pode causar a perda da visão por descolamento de
retina, catarata e glaucoma. Entenda.
Pesquisa da OMS (Organização Mundial da Saúde) aponta que
a prevalência global da miopia e alta miopia estão em ascensão no mundo todo,
mas no Brasil avança mais que a média global.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do
Instituto Penido Burnier, a miopia, dificuldade de enxergar de longe, ainda é
pouco compreendida. Para ele, o esforço visual contínuo para perto, imposto
pelo uso sem pausas das telas eletrônicas é uma variável importante do aumento
da miopia, conforme ficou demonstrado em um estudo que realizou com 360
crianças. Outro fator ambiental, comenta, é
a baixa concentração nos olhos da dopamina, hormônio ativado nas
atividades externas pelo sol que está relacionado ao crescimento axial do olho.
É justamente este crescimento do olho, observa, a linha
divisória para o aumento mais acelerado da alta miopia, acima de 5 graus, no
Brasil do que no restante do mundo. O
banco de dados da OMS mostra que de 2020 a 2040 a alta miopia no Brasil aumenta
89%. Passa de 6,8 milhões casos para 12,9 milhões. No âmbito mundial o
crescimento no mesmo período atinge 49%, passando de 399,4 milhões de casos
para 596,51 milhões.
O oftalmologista afirma que a maior propagação da alta
miopia no país é uma grave questão da saúde pública. Isso porque, pode
desencadear descolamento da retina, catarata e glaucoma, importantes causas de
perda da visão.
Descolamento
da retina
Ele explica que o crescimento axial do olho afina a
retina, membrana no fundo do olho responsável pela visão. Por isso, pondera, a alta miopia é uma
importante causa do descolamento da retina, separação entre a camada superior,
epitélio, e os vasos sanguíneos que
fornecem oxigênio e nutrientes essenciais para a saúde retiniana.
Sintomas
Queiroz Neto destaca que nem sempre o descolamento
apresenta sintomas. Por isso, o acompanhamento periódico, especialmente entre
os que têm grau mais elevados pode prevenir danos graves à visão. Para se ter
ideia, 7 em cada 10 descolamentos acontecem entre maiores de 60 anos, mas podem
acontecer picos dos 20 aos 30 anos em quem tem miopia muito alta.
Quando ocorrem, os sinais mais frequentes são: enxergar
flashes de luz, pequenos pontos pretos
ou moscas volantes e uma cortina sobre a visão que indicam emergência em passar
por consulta oftalmológica.
Outros
grupos de risco
O oftalmologista ressalta que o descolamento da retina
também pode acontecer por traumas, inflamações cório-retinianas, alterações no
vítreo decorrente da idade, e doenças como o diabetes ou hipertensão maligna
porque formam novos vasos na retina que dificultam a circulação e podem romper
por serem mais frágeis.
Foram os traumas em campo, comenta, que afastaram Tostão
do campo de futebol e que explicam o descolamento de retina sofrido por Pelé.
Tratamento
Queiroz Neto afirma que quanto mais rápido o atendimento
médico maiores as chances de reabilitar a visão. Por exemplo, comenta, quando
acontece uma ruptura da retina o descolamento pode ser prevenido com aplicação
ambulatorial de laser ou crioterapia (congelamento) que sela a retina no fundo
do olho.
As principais técnicas cirúrgicas para reabilitar o
descolamento são:
·
Retinopexia
convencional em que uma faixa flexível de silicone
empurra a retina para a parede do olho.
·
Retinopexia pneumática que consiste em injetar uma
bolha de no olho para empurrar a retina.
·
Vitrectomia
em
que o gel vítreo do olho é retirado e substituído por gás ou óleo de silicone
Prevenção
”Muitas pessoas acreditam que o tratamento da miopia
consiste em usar óculos ou lente de contato. Não é bem assim. Quem tem mais de
cinco graus precisa fazer exames de fundo de olho periodicamente para prevenir
complicações que podem cegar”, afirma.
Depois de instalada a miopia não regride, mas estudos
demostram que o colírio de Atropina diluído a 0,01% interrompe um em cada dois
casos de alta miopia na infância, período em que a progressão é mais
intensa. A terapia é indicada até a idade de 15 anos nos casos de variação de 0,5 grau a
cada seis meses. O tratamento deve ser feito por, no mínimo, 2 anos e sempre
com acompanhamento médico porque a atropina em maior concentração pode levar ao
glaucoma.
Implante
é mais seguro que lente
Conviver com a alta miopia não é fácil porque 85% de
nossa integração com o meio ambiente depende da visão. Queiroz Neto afirma
que muitos preferem usar lente de
contato para fugir do limitado campo visual imposto pelos óculos. A boa notícia
para quem tem mais de 5 a 20 graus de miopia é que pode se livrar dos óculos com o implante de
uma lente entre a íris, parte colorida do olho e o cristalino. Uma metanálise
da Cochrane mostra que este implante é
mais seguro que a troca constante
de lentes de contato. O médico explica que a cirurgia não retira o cristalino e
só pode ser feita em quem tem o grau estabilizado há, no mínimo, um ano, não
tem alterações na córnea, retina ou
glaucoma. Não é o fim da alta miopia, mas quem já fez a cirurgia ganhou
uma nova vida, conclui.