Como tirar o máximo proveito dos cuidados de saúde à
distância
A covid-19, doença causadora de uma pandemia
mundial, levou a um boom no uso e desenvolvimento da telemedicina.
Essa mudança aconteceu de forma inesperadamente
rápida, deixando muitas pessoas em dúvida se a telemedicina é realmente tão boa
quanto o atendimento presencial.
Telemedicina é o uso de tecnologias assistenciais como smartphones,
microcomputadores, tablets, internet e dispositivos de captação de sinais
vitais para prestar assistência à saúde. Quando bem feito, pode ser tão
eficiente quanto o atendimento presencial. Portanto, a telemedicina envolve o
ensino, pesquisa e assistência!
Porém, como muitos pacientes e profissionais de
saúde estão utilizando a telemedicina pela primeira vez, inevitavelmente haverá
uma curva de aprendizado até que todos se adaptem a esse novo método.
Então, como um paciente ou o profissional de
saúde podem
garantir que estejam utilizando a telemedicina de maneira correta?
Essa é uma questão que envolve o uso adequado da
tecnologia disponível para serviços corretos, a situação médica do paciente,
bem como a avaliação da real necessidade dos riscos de ir ou não a um
consultório ou hospital para o atendimento presencial.
Os recursos de telemedicina
Existem dois formatos principais de telemedicina:
o síncrono e o assíncrono. Saber quando usar cada um deles, e ter a tecnologia
certa à disposição, é fundamental para o uso responsável da telemedicina.
Telemedicina síncrona: é uma interação bidirecional, em tempo real, geralmente por
vídeo e, em situações especiais, por áudio. O atendimento pode ser
complementado por informações textuais e imagens usando smartphone, tablet ou
computador. É mais adequado utilizar videoconferências do que telefonemas
(somente áudios). Apesar da impossibilidade de tarefas que exigem a presença
física do paciente, o vídeo oferece uma avaliação de boa qualidade.
Muitas das limitações da videoconferência podem
ser complementadas por meio do monitoramento remoto de pacientes ou
telemonitoramento
Os pacientes podem usar dispositivos ou aparelhos
em casa para obtenção e envio de dados objetivos de sinais vitais aos
profissionais de saúde. Existem dispositivos para medir pressão arterial,
temperatura, ritmos cardíacos, peso, glicemia, saturação de oxigênio, ECG, e
muitos outros aspectos que complementam o exame físico.
Esses dispositivos são ótimos para obter dados
confiáveis para acompanhamento contínuo das condições clínicas dos pacientes.
Pesquisas mostram que as abordagens de
monitoramento remoto são muito eficazes quando combinadas com atendimentos
presenciais, principalmente nos cuidados de doenças crônicas como diabetes e
hipertensão arterial.
Telemedicina assíncrona: Pacientes e profissionais da saúde podem usar as tecnologias
Assistenciais para envio de dados (exames, sinais vitais e sintomas) e
respostas (laudo, conduta ou prescrições médicas).
Nem sempre, os profissionais e os pacientes
possuem recursos tecnológicos ou prática para usar videoconferência, bem como
equipamentos de monitoramento remoto online, necessitando em diversas vezes de
treinamento prévio. Mas mesmo com toda as tecnologias assistenciais
disponíveis, isso não significa que todos os problemas possam ser resolvidos.
Avaliação e cuidados de seguimento ou follow up
Geralmente, a telemedicina é adequada para
pacientes com doenças crônicas tratadas na geriatria e gerontologia. Em
diversas situações, principalmente quando o médico já conhece previamente o
paciente, pode ser utilizada para teleatendimento com teleorientação.
Se o paciente precisar de mais cuidados, ele pode
ser encaminhado para um serviço, após um teleatendimento de pré-avaliação
(teletriagem referenciada).
Se ele não precisar de mais cuidados, a
telemedicina economizou muito tempo e evitou aborrecimentos desnecessários para
o paciente. Essa situação é particularmente importante se o paciente mora em
local com maior dificuldade para se deslocar até um serviço ou se o momento não
é favorável ao deslocamento, como à noite, chuva, frio, congestionamento etc.
As pesquisas demonstram que o uso da telemedicina
para ocorrências clínicas comuns de pouca consequência, como ferimentos leves,
cefaleia, entre outros problemas, permitem um nível de qualidade de atendimento
e resultados semelhantes aos presenciais, quando feitos de forma bem
estruturada.
E, finalmente, para situações obviamente
ameaçadoras à vida, como sangramento intenso, dor no peito, falta de ar e
sinais de alerta de acidente vascular cerebral por exemplo, os pacientes devem
procurar prontamente hospitais e prontos-socorros.
Equilibrando riscos
Com a tecnologia correta e em situações certas, a
telemedicina é uma ferramenta eficaz. Mas, a avaliação de quando deve ser
utilizada também deve levar em consideração o risco de se obter cuidados de
saúde à distância
Como geriatras e gerontólogos temos que nos
apresentar abertos às novas tecnologias, e às novas possibilidades que estes
tempos nos trazem, buscando sempre aprimorar cada vez mais para alcançarmos a
excelência, assim como ocorreu desde a invenção do estetoscópio (um exemplo
distanciamento do contato físico no exame físico) até os dias atuais.
Chao Lung Wen - professor Associado da USP com Livre Docência em
Telemedicina e Chefe da Disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia
da FMUSP e, Líder do Grupo de Pesquisa USP em Telemedicina, Tecnologias
Educacionais e eHealth no CNPq/ MCTI.
Rubens de Fraga
Júnior - Especialista em
geriatria e gerontologia. Professor titular da disciplina de gerontologia da
Faculdade Evangélica Mackenzie do Paraná.