Pesquisar no Blog

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

O aumento de não-leitores no Brasil: qual é o papel da escola e da família?

 

O contato escasso com os livros pode impactar no desenvolvimento  socioemocional de crianças e jovens  

 

Dia 12 de outubro não é apenas o Dia das Crianças, é também o Dia Nacional da Leitura. Criada em 2009, a data busca incentivar a leitura de forma geral e motivar instituições, como escolas, editoras e bibliotecas, a lançar projetos que celebrem a prática. De acordo com a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil 2024, pela primeira vez desde 2007 a porcentagem de não-leitores é maior que a de leitores no país.  


Além disso, a pesquisa acende o alerta em relação aos ambientes escolares, que vão ficando cada vez mais para trás como principais espaços de leitura. No levantamento realizado em 2007, cerca de 35% dos entrevistados citavam a escola como principal local de leitura. Em 2024, somente 19% reconhecem o espaço escolar como o lugar que mais lê. 


Mas qual é o papel da leitura no desenvolvimento de crianças e jovens, qual o impacto de um número maior de não-leitores e o que as escolas podem fazer para reverter este quadro? 


 

Ajuda no desenvolvimento socioemocional 


O contato com os livros pode ajudar em um dos papéis fundamentais da escola, especialmente na educação infantil: o desenvolvimento socioemocional. Por meio da leitura é possível desenvolver a empatia e a compreensão dos estudantes. Segundo o professor de Português, Giovanni Nilson Rosalino, do Colégio Anglo Alante Araras, “a literatura é um expediente que permite, através de personagens e conflitos, projetarmos os nossos sentimentos em um 'outro lugar' e, assim, nos desenvolvermos emocionalmente, acomodando nossa tristeza, nossa angústia, ou até a nossa paz dentro de um lugar seguro, nos braços de um livro.” 

 


Quadro reversível? 


Embora o descaso com o hábito de ler seja algo que vem de longa data no Brasil, é possível trabalhar, dentro de casa e nas escolas, formas de incentivar a leitura. Segundo o professor, é recomendável deixar sempre um livro perto do nosso campo de visão, para que a visualização nos lembre de ler . Ele também recomenda procurar chaves de leitura que facilitem o entendimento da obra que está sendo lida, como assistir reviews literárias no YouTube, por exemplo. 

 

Já para as escolas, aulas com foco nas discussões literárias, além de objetivos tangíveis de leitura, são uma maneira interessante de engajar os alunos em um projeto leitor. O livro pode ainda ser trabalhado em outras frentes e com outros suportes, como o desenvolvimento de trabalhos pedagógicos sobre a leitura. Isso estimula o aluno a levar as ideias da obra para um contexto que possuem mais familiaridade. 

 

Além disso, é fundamental que as famílias e as escolas trabalhem em parceria para incentivar o hábito de ler. “É importante que o progresso de leitura dos pequenos seja acompanhado, por exemplo, perguntando para eles sobre a história ou o que eles estão sentindo ou gostando na passagem que estão lendo”, sugere Giovanni. 

 


Sociedade menos empática 


O professor alerta que, da mesma forma que a leitura ajuda no desenvolvimento socioemocional, a ausência dela e do hábito de ler pode prejudicar o desenvolvimento de outra habilidade essencial: a empatia. E ele explica que, “ao ler, de algum modo, estamos tentando compreender o que se passa com os personagens, principalmente quando isso nos incomoda de alguma maneira.” 

 

Então, de acordo com o educador, quanto menos as pessoas leem, maior o risco de que a sociedade se demonstre ainda menos preocupada ou atenta ao outro. “O impacto de se ter um público maior de não-leitores é ter, por extensão, uma sociedade menos empática, que pensa menos no outro e é menos solidária. Perdemos, um pouco mais, o nosso senso comum de humanidade.” 

 

Nesse sentido, por mais que o contexto histórico não seja favorável e os dados recentes não mostrem uma melhora significativa, é importante que a leitura seja trabalhada e incentivada, uma vez que ela segue sendo um lugar de entendimento e compreensão individual e do outro. “Tudo isso de uma forma acolhedora e amorosa”, finaliza Giovanni. 


Anglo Alante

 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados