O contato escasso com os livros pode impactar no desenvolvimento socioemocional de crianças e jovens
Dia 12 de
outubro não é apenas o Dia das Crianças, é também o Dia Nacional
da Leitura. Criada em 2009, a data busca incentivar
a leitura de forma geral e motivar instituições, como escolas, editoras e
bibliotecas, a lançar projetos que celebrem
a prática. De acordo com a pesquisa Retratos
da Leitura no Brasil 2024, pela primeira vez desde
2007 a porcentagem de não-leitores é maior que a de leitores no
país.
Além disso, a
pesquisa acende o alerta em relação
aos ambientes escolares, que vão ficando cada vez mais para trás
como principais espaços de leitura. No levantamento
realizado em 2007, cerca de 35% dos entrevistados citavam a escola como principal local de
leitura. Em 2024, somente 19% reconhecem o espaço escolar como o lugar que
mais lê.
Mas qual é o papel
da leitura no desenvolvimento de crianças e jovens, qual o impacto de
um número maior de não-leitores e o que as escolas podem fazer para reverter
este quadro?
Ajuda no
desenvolvimento socioemocional
O contato com os
livros pode ajudar em um dos papéis fundamentais da escola,
especialmente na educação infantil: o desenvolvimento
socioemocional. Por meio da leitura é possível
desenvolver a empatia e a compreensão dos
estudantes. Segundo o professor de Português, Giovanni Nilson
Rosalino, do Colégio Anglo Alante Araras, “a literatura
é um expediente que permite, através de personagens
e conflitos, projetarmos os nossos sentimentos em um 'outro lugar' e, assim,
nos desenvolvermos emocionalmente,
acomodando nossa tristeza, nossa angústia, ou até
a nossa paz dentro de um lugar seguro,
nos braços de um livro.”
Quadro reversível?
Embora o descaso
com o hábito de ler seja algo que vem de longa data no
Brasil, é possível trabalhar, dentro de casa
e nas escolas, formas de incentivar a leitura. Segundo
o professor, é recomendável deixar sempre um livro perto do nosso campo
de visão, para que
a visualização nos lembre de ler . Ele também recomenda procurar chaves
de leitura que facilitem o entendimento da
obra que está sendo lida,
como assistir reviews literárias no YouTube, por
exemplo.
Já para as
escolas, aulas com foco nas discussões literárias, além de objetivos tangíveis
de leitura, são uma maneira interessante de engajar os alunos em um projeto
leitor. O livro pode ainda ser trabalhado em
outras frentes e com outros suportes, como o desenvolvimento
de trabalhos pedagógicos sobre a leitura. Isso estimula o
aluno a levar as ideias da obra para um contexto
que possuem mais familiaridade.
Além disso, é fundamental que
as famílias e
as escolas trabalhem em parceria para
incentivar o hábito de ler. “É importante que
o progresso de leitura dos pequenos seja acompanhado, por exemplo, perguntando para
eles sobre a história ou o que
eles estão sentindo ou gostando na passagem que estão lendo”, sugere Giovanni.
Sociedade
menos empática
O professor alerta
que, da mesma forma que a leitura ajuda no desenvolvimento socioemocional, a
ausência dela e do hábito de ler pode prejudicar o desenvolvimento
de outra habilidade essencial: a empatia. E ele explica que, “ao
ler, de algum modo, estamos tentando compreender o que
se passa com os personagens,
principalmente quando isso nos incomoda
de alguma maneira.”
Então, de acordo
com o educador, quanto menos as pessoas leem, maior o
risco de que a sociedade se demonstre ainda menos preocupada ou atenta ao
outro. “O impacto de se ter um público maior de não-leitores é
ter, por extensão, uma sociedade menos empática,
que pensa menos no outro e é menos solidária.
Perdemos, um pouco mais,
o nosso senso comum de humanidade.”
Nesse sentido,
por mais que o contexto histórico não seja favorável e
os
dados recentes não mostrem uma melhora significativa, é
importante que a leitura seja trabalhada e incentivada, uma vez
que ela segue sendo um lugar
de entendimento e compreensão individual e do outro. “Tudo
isso de uma forma acolhedora e
amorosa”, finaliza Giovanni.

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