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quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Dia do Idoso: a urgência de olhar para a saúde mental na terceira idade

Depressão, solidão e demência ainda são tabus que precisam ser enfrentados para garantir dignidade e qualidade de vida aos idosos

 

No dia 1º de outubro é celebrado o Dia do Idoso, uma data que convida a refletir não apenas sobre longevidade, mas também sobre qualidade de vida. Entre os diversos desafios dessa fase, a saúde mental é um dos aspectos mais negligenciados, muitas vezes escondido atrás de tabus, estigmas e da falsa ideia de que tristeza e isolamento seriam “naturais da idade”.

De acordo com o psiquiatra Glauco Correa de Araújo, do grupo ViV Saúde Mental e Emocional, essa visão equivocada impede diagnósticos precoces e tratamentos eficazes.

“A depressão, os transtornos de ansiedade e até mesmo os primeiros sinais de demência podem ser confundidos com o envelhecimento normal, o que atrasa o cuidado e aumenta o sofrimento do idoso e da família”, explica.
 

A dimensão do problema

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a demência está entre as principais causas de incapacidade e dependência entre idosos, frequentemente acompanhada por sintomas como depressão e ansiedade.

Estudos recentes, como o divulgado pelo Nature Mental Health, também apontam que quando a depressão se combina a um comprometimento cognitivo, o risco de evolução para demência pode ser até 3,5 vezes maior.

No Brasil, os números reforçam a urgência do tema. De acordo com a pesquisa ELSI-Brasil (2015-2016), quase metade dos idosos (48,7%) relatou sintomas depressivos. Outra análise nacional publicada pela Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia identificou 11,8% de prevalência autorreferida de depressão em pessoas acima dos 60 anos.

“O que esses dados mostram é que a saúde mental do idoso não pode ser tratada como algo secundário. A depressão nessa fase está associada a maior mortalidade, pior evolução de doenças cardiovasculares e queda significativa na qualidade de vida”, reforça o médico.
 

Tabus e barreiras que dificultam o cuidado

De acordo com o psiquiatra, diversos fatores ainda impedem que idosos recebam o apoio necessário:

Vergonha e estigma: muitos acreditam que procurar ajuda psicológica ou psiquiátrica é sinal de fraqueza.

Naturalização dos sintomas: familiares tendem a interpretar apatia, falta de interesse e isolamento como parte “normal” do envelhecer.

Sinais diferentes dos jovens: nos idosos, a depressão pode se manifestar principalmente por queixas físicas (dores, fadiga, alterações de sono e apetite) e não apenas por tristeza explícita.

Isolamento social: a perda de vínculos afetivos, limitações de mobilidade e redução da rede de apoio intensificam o risco de depressão e declínio cognitivo.

Falta de preparo da rede de saúde: equipes de atenção primária nem sempre têm capacitação para reconhecer sinais de sofrimento mental nessa faixa etária.

“O estigma ainda é a maior barreira. Muitos idosos se calam e sofrem sozinhos, acreditando que é tarde demais para buscar ajuda. Mas nunca é tarde para tratar a saúde mental”, destaca dr. Araújo.
 

O que familiares e cuidadores devem observar

Para o especialista, reconhecer os sinais precoces é essencial para oferecer ajuda no momento certo. Entre os principais sintomas de alerta estão:

  • Tristeza ou desânimo persistentes por semanas;
  • Perda de interesse em atividades antes prazerosas;
  • Isolamento social progressivo;
  • Alterações de sono e apetite;
  • Queixas frequentes de dores sem causa médica aparente;
  • Esquecimentos e dificuldades de concentração;
  • Descuido com a higiene e autocuidado;
  • Comentários de desesperança ou inutilidade.

“É fundamental que cuidadores e familiares estejam atentos a mudanças sutis no comportamento e não hesitem em procurar avaliação médica. Cada semana de atraso pode representar sofrimento desnecessário”, orienta o psiquiatra.
 

Caminhos para envelhecer com saúde mental

Dr. Araújo reforça que o cuidado com a mente deve ser multidimensional. A prática de exercícios físicos, a participação em atividades sociais, a estimulação cognitiva e o acompanhamento psicológico são pilares fundamentais.

Segundo o estudo U.S. Study to Protect Brain Health Through Lifestyle Intervention to Reduce Risk, publicado no periódico científico JAMA em julho, intervenções de estilo de vida que combinam dieta saudável, exercício físico regular, estímulos cognitivos, engajamento social e monitoramento de saúde cardiovascular conseguiram melhorar significativamente a função cognitiva de idosos entre 60 e 79 anos, mesmo entre os que têm risco aumentado por fatores como histórico familiar ou predisposição genética.

Para Glauco Araújo, esse tipo de evidência reforça a importância de não esperar o sofrimento mental se agravar, mas agir preventivamente.

“No Brasil, ainda temos um caminho longo para estruturar políticas públicas específicas, mas já sabemos que pequenas ações, como estimular o convívio social e garantir apoio psicológico, fazem enorme diferença na vida do idoso”, ressalta.
 

Um chamado à sociedade

O Dia do Idoso deve ser um convite a romper o silêncio sobre o sofrimento emocional na velhice. “Envelhecer não é sinônimo de tristeza ou solidão. Cada pessoa idosa merece viver com dignidade, companhia e propósito. Falar de saúde mental é falar de direitos e de humanidade”, finaliza o especialista.

 


ViV Saúde Mental e Emocional

 

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