Jovens do sexo masculino são as principais vítimas. Longas esperas por cirurgia, altas taxas de reinternação, sequelas permanentes e o consumo de álcool antes de pilotar expõem uma crise de saúde pública que sobrecarrega o sistema hospitalar
A Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT), em parceria com o Instituto Informa, divulga no mês em que se celebra o Dia do Ortopedista, os resultados de uma pesquisa inédita sobre o atendimento a vítimas de traumas envolvendo motocicletas no Brasil. O levantamento, realizado em 100 hospitais de diferentes regiões do país nos últimos seis meses, mapeou o atendimento a traumas envolvendo veículos de duas rodas em hospitais públicos, privados e filantrópicos em todo o país e revela um panorama crítico que reforça a importância da campanha nacional “Na moto não mate, não morra”, lançada pela entidade para alertar a sociedade sobre os graves impactos sociais e de saúde pública causados pelos acidentes.
Mais de 40% dos especialistas consultados apontaram campanhas educativas como prioridade para reduzir os acidentes, seguidas da necessidade de intensificar a fiscalização.
“O cenário é grave: hospitais lotados, profissionais sobrecarregados e recursos escassos. Além da dor das vítimas e famílias, há um efeito cascata que compromete todo o sistema de saúde, por isso a importância de lançar essa campanha em âmbito nacional, para mobilizar a sociedade, educar condutores e cobrar políticas públicas mais eficazes para um trânsito mais seguro”, alerta o presidente da SBOT, Paulo Lobo.
O estudo mostra
que a grande maioria das vítimas é do sexo masculino, com destaque para a faixa
etária de 20 a 29 anos (43,2%), seguida por jovens de 15 a 19 anos (26,3%) e de
30 a 49 anos, evidenciando o impacto dos acidentes sobre a população economicamente
ativa do país.
As consequências para os sobreviventes são severas e de longa duração. Entre as sequelas mais frequentes estão:
Dor crônica
(82,1%)
Deformidades
(69,5%)
Déficit
motor/limitação funcional (67,4%)
Amputações (35,8%)
As regiões do corpo
mais atingidas são membros inferiores, bacia e coluna vertebral, gerando
limitações irreversíveis que afetam diretamente a qualidade de vida.
Impacto direto no sistema de saúde
O volume de
atendimentos sobrecarrega os hospitais brasileiros. Quase 70% das unidades
relataram mais de 600 atendimentos a vítimas de trânsito em apenas seis meses,
a maioria motociclistas.
Outros dados preocupantes incluem:
Mais de 70% dos
pacientes permanecem internados por mais de sete dias após cirurgia, ocupando
leitos que poderiam ser destinados a outros tratamentos.
Metade dos
cancelamentos de cirurgias eletivas ocorre por causa da ocupação de vagas por
vítimas de acidentes de moto.
60% dos
acidentados esperam até sete dias para uma cirurgia, enquanto 31,6% aguardam até
15 dias.
Quase 20% dos
hospitais (18,3%) relatam taxas de reinternação entre 10% e 30%, por
complicações ou necessidade de novos procedimentos.
Álcool e
causas mais comuns
O levantamento
identificou que até 50% dos pacientes atendidos em alguns serviços haviam
consumido álcool antes do acidente, agravando o quadro clínico e a gravidade
das ocorrências. As principais causas de sinistros são colisões com outros
veículos e quedas da própria moto.
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