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quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Menopausa precoce, câncer e climatério: como enfrentar essa fase sem reposição hormonal

Ondas de calor, noites mal dormidas, irritabilidade, secura vaginal, lapsos de memória, ansiedade e até crises de choro sem motivo aparente. Para muitas mulheres, a menopausa chega como uma avalanche de sintomas físicos e emocionais. E quando a reposição hormonal não é uma opção, como nos casos de mulheres que já enfrentaram o câncer, o desafio parece ainda maior.

“Essas mulheres existem. E elas sofrem. Sofrem muito. Muitas vezes em silêncio, por falta de acolhimento, orientação ou acesso a alternativas seguras. Mas é possível, sim, passar por essa fase com dignidade, bem-estar e qualidade de vida”, explica a ginecologista Dra. Carla Iaconelli, especialista em reprodução humana.


O tabu que ainda persiste

Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, mais de 1 bilhão de mulheres no mundo estarão na menopausa até 2025. No Brasil, são cerca de 29 milhões de mulheres com mais de 50 anos, muitas delas sem acesso a informações claras ou acompanhamento adequado.

E, para quem teve ou tem risco aumentado de câncer de mama, o cenário é ainda mais delicado: a terapia de reposição hormonal (TRH), que poderia amenizar muitos sintomas, costuma ser contraindicada.

“A mulher com histórico de câncer de mama está entre as mais vulneráveis. Ela já passou por dor, medo, perdas físicas e emocionais e, quando chega a menopausa, é como se seu corpo continuasse gritando, pedindo cuidado. Mas os hormônios não são uma opção segura nesse caso”, explica a Dra. Carla.


Quando a menopausa chega cedo demais

Nem sempre a menopausa aparece por volta dos 50 anos. Em algumas mulheres, ela pode se manifestar precocemente, antes dos 40 anos é a chamada falência ovariana prematura, ou menopausa precoce. As causas são variadas: genéticas, autoimunes, cirurgias, tratamentos oncológicos como quimioterapia e radioterapia. E o impacto é profundo, especialmente quando há o desejo de ser mãe.

“A menopausa precoce pode ser devastadora para mulheres jovens que ainda não realizaram o sonho da maternidade. Mas hoje, a medicina reprodutiva oferece caminhos possíveis, mesmo em situações delicadas”, enfatiza Dra. Carla.

Tratamentos como a preservação de óvulos antes da quimioterapia, o uso de óvulos doados, fertilização in vitro (FIV) e o útero de substituição (em casos mais específicos) são alternativas reais e acessíveis para muitas mulheres que passam por menopausa precoce e ainda desejam engravidar.

“Cada caso é único. O importante é saber que existe esperança. A mulher tem o direito de conhecer suas opções, planejar seu futuro reprodutivo e fazer escolhas baseadas em informação e acolhimento”, reforça a médica.


A dor invisível: além do fogacho

A menopausa não é só uma questão de ovários: é de identidade, autoestima, sexualidade.

  • Secura vaginal pode tornar a relação sexual dolorosa.
  • Alterações no sono afetam produtividade, humor e saúde mental.
  • Queda na libido impacta relacionamentos e a autopercepção da mulher.
  • Ansiedade e depressão podem piorar ou se instalar silenciosamente.

“O climatério sem hormônios pode ser cruel. E precisamos falar sobre isso com a seriedade e empatia que merece”, diz a médica.


Alternativas seguras e eficazes (mesmo sem hormônio)

A Dra. Carla Iaconelli lista abordagens que têm mostrado bons resultados, mesmo para mulheres em situações delicadas:

  1. Mudança alimentar com base em ciência
    Alimentos ricos em fitoestrógenos (como soja orgânica, linhaça, grão-de-bico) podem ajudar a modular sintomas.
    Estudos da Harvard Medical School mostram que mulheres que consomem regularmente esses alimentos relatam menos fogachos.
  2. Medicamentos não hormonais ou fitoterapias com bons resultados — sempre sob orientação médica, especialmente após câncer.
  3. Terapias mente-corpo
    Técnicas como mindfulness, yoga, acupuntura e meditação têm respaldo científico para reduzir estresse, melhorar sono e aliviar sintomas vasomotores.
  4. Fisioterapia pélvica e sexualidade ativa
    “A sexualidade não acaba com a menopausa. Mas pode precisar ser redescoberta. Fisioterapeutas pélvicas, lubrificantes adequados e diálogo com o parceiro(a) fazem toda a diferença”, reforça a Dra. Carla.


Um novo começo, mesmo depois de tudo

Para a mulher que venceu o câncer e agora enfrenta a menopausa sem hormônios, a luta é contínua. Mas não é solitária.

“Você não está sozinha. Você não está fraca. Você está em transformação. É possível ter saúde, prazer, autoestima, mesmo com as cicatrizes da batalha. Você merece cuidado, acompanhamento e respeito nessa fase”, finaliza a especialista em reprodução humana.

Sempre consulte um ginecologista com experiência em climatério e saúde da mulher oncológica antes de iniciar qualquer tratamento, mesmo natural. O cuidado precisa ser personalizado.

 

Fonte médica: Dra. Carla Iaconelli – ginecologista e especialista em reprodução humana


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