Ondas de calor, noites mal dormidas, irritabilidade, secura vaginal, lapsos de memória, ansiedade e até crises de choro sem motivo aparente. Para muitas mulheres, a menopausa chega como uma avalanche de sintomas físicos e emocionais. E quando a reposição hormonal não é uma opção, como nos casos de mulheres que já enfrentaram o câncer, o desafio parece ainda maior.
“Essas mulheres existem. E elas sofrem. Sofrem
muito. Muitas vezes em silêncio, por falta de acolhimento, orientação ou acesso
a alternativas seguras. Mas é possível, sim, passar por essa fase com
dignidade, bem-estar e qualidade de vida”, explica a ginecologista Dra. Carla
Iaconelli, especialista em reprodução humana.
O tabu que ainda persiste
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde, mais
de 1 bilhão de mulheres no mundo estarão na menopausa até 2025. No Brasil, são
cerca de 29 milhões de mulheres com mais de 50 anos, muitas delas sem acesso a
informações claras ou acompanhamento adequado.
E, para quem teve ou tem risco aumentado de câncer
de mama, o cenário é ainda mais delicado: a terapia de reposição hormonal
(TRH), que poderia amenizar muitos sintomas, costuma ser contraindicada.
“A mulher com histórico de câncer de mama está
entre as mais vulneráveis. Ela já passou por dor, medo, perdas físicas e
emocionais e, quando chega a menopausa, é como se seu corpo continuasse
gritando, pedindo cuidado. Mas os hormônios não são uma opção segura nesse
caso”, explica a Dra. Carla.
Quando a menopausa chega cedo
demais
Nem sempre a menopausa aparece por volta dos 50
anos. Em algumas mulheres, ela pode se manifestar precocemente, antes dos 40
anos é a chamada falência ovariana prematura, ou menopausa
precoce. As causas são variadas: genéticas, autoimunes,
cirurgias, tratamentos oncológicos como quimioterapia e radioterapia. E o
impacto é profundo, especialmente quando há o desejo de ser mãe.
“A menopausa precoce pode ser devastadora para
mulheres jovens que ainda não realizaram o sonho da maternidade. Mas hoje, a
medicina reprodutiva oferece caminhos possíveis, mesmo em situações delicadas”,
enfatiza Dra. Carla.
Tratamentos como a preservação de óvulos antes da
quimioterapia, o uso de óvulos doados, fertilização
in vitro (FIV) e o útero de substituição (em casos
mais específicos) são alternativas reais e acessíveis para muitas mulheres que
passam por menopausa precoce e ainda desejam engravidar.
“Cada caso é único. O importante é saber que existe
esperança. A mulher tem o direito de conhecer suas opções, planejar seu futuro
reprodutivo e fazer escolhas baseadas em informação e acolhimento”, reforça a
médica.
A dor invisível: além do fogacho
A menopausa não é só uma questão de ovários: é de
identidade, autoestima, sexualidade.
- Secura
vaginal pode tornar a relação sexual dolorosa.
- Alterações
no sono afetam produtividade, humor e saúde mental.
- Queda
na libido impacta relacionamentos e a autopercepção da mulher.
- Ansiedade
e depressão podem piorar ou se instalar silenciosamente.
“O climatério sem hormônios pode ser cruel. E
precisamos falar sobre isso com a seriedade e empatia que merece”, diz a médica.
Alternativas seguras e
eficazes (mesmo sem hormônio)
A Dra. Carla Iaconelli lista abordagens que têm
mostrado bons resultados, mesmo para mulheres em situações delicadas:
- Mudança
alimentar com base em ciência
Alimentos ricos em fitoestrógenos (como soja orgânica, linhaça, grão-de-bico) podem ajudar a modular sintomas.
Estudos da Harvard Medical School mostram que mulheres que consomem regularmente esses alimentos relatam menos fogachos. - Medicamentos
não hormonais ou fitoterapias com bons resultados — sempre sob
orientação médica, especialmente após câncer.
- Terapias
mente-corpo
Técnicas como mindfulness, yoga, acupuntura e meditação têm respaldo científico para reduzir estresse, melhorar sono e aliviar sintomas vasomotores. - Fisioterapia
pélvica e sexualidade ativa
“A sexualidade não acaba com a menopausa. Mas pode precisar ser redescoberta. Fisioterapeutas pélvicas, lubrificantes adequados e diálogo com o parceiro(a) fazem toda a diferença”, reforça a Dra. Carla.
Um novo começo, mesmo depois
de tudo
Para a mulher que venceu o câncer e agora enfrenta
a menopausa sem hormônios, a luta é contínua. Mas não é solitária.
“Você não está sozinha. Você não está fraca. Você
está em transformação. É possível ter saúde, prazer, autoestima, mesmo com as
cicatrizes da batalha. Você merece cuidado, acompanhamento e respeito nessa
fase”, finaliza a especialista em reprodução humana.
Sempre consulte um
ginecologista com experiência em climatério e saúde da mulher oncológica antes
de iniciar qualquer tratamento, mesmo natural. O cuidado precisa ser
personalizado.
Fonte médica: Dra. Carla Iaconelli – ginecologista e especialista em reprodução humana
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